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“Região tem pouco peso político e precisava de mais Isauras”
Para Filipe Santana Dias, Rio Maior tem ligações ao Ribatejo e ao Oeste, o que deve ser visto como uma oportunidade e não um problema

“Região tem pouco peso político e precisava de mais Isauras”

Filipe Santana Dias é vice-presidente da Câmara de Rio Maior e não poupa elogios à sua líder.

É visto como um delfim de Isaura Morais e potencial sucessor da autarca à frente da Câmara de Rio Maior. Frontal como é seu timbre, Filipe Santana Dias assume nesta entrevista disponibilidade para ser candidato à presidência do município nas próximas eleições autárquicas e fala também sobre questões regionais e das sempre controversas relações do poder local com o poder central. Uma entrevista em vésperas de mais uma edição das Tasquinhas de Rio Maior.

Rio Maior está na charneira entre o Ribatejo e o Oeste mas pertence à Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT). É aí que deve estar?

Rio Maior tem uma excelente relação com a CIMLT e tem conseguido trazer para o concelho muito investimento. Já em termos de ordenamento do território é difícil tipificar. Não somos o Ribatejo puro, mas também não somos o Oeste puro. Acabamos por ter ligação a ambas as regiões.

Em termos pessoais, de que região gosta mais?

Não consigo responder sem ser ambíguo. Sinto-me ribatejano de gema, acho que o Ribatejo tem muito para oferecer, no entanto também sou fã de praia e do litoral. Acho que temos aqui, mesmo culturalmente, ligações óbvias às duas regiões. E isso pode ser visto não como um problema mas como uma oportunidade para Rio Maior.

A sensação com que se fica é que os projectos intermunicipais são escassos.

Não tenho essa visão. A nossa comunidade intermunicipal tem tido um papel fundamental na dinamização dos concelhos, nomeadamente ao nível dos fundos comunitários. Consegue-se pensar como uma unidade.

Mas projectos intermunicipais concretos no terreno não se vêem muitos?

Vamos tendo algumas coisas. Se me disserem que pode haver mais, obviamente que sim. Há um projecto de combate ao insucesso escolar, de que Rio Maior por acaso não faz parte, que está a andar bem, a questão dos sapadores florestais também... E há muitas obras em municípios negociadas e preparadas pela CIMLT. É um trabalho invisível e de bastidores que não chega tanto ao público e precisa de mais visibilidade.

Esta região tem pouco peso político em Lisboa?

Tem menos do que devia. Há uma série de problemas a nível distrital que deviam ter outra atenção por parte do poder central. Acabamos por ter a incapacidade de fazer chegar a Lisboa, por várias vozes, esses problemas, porque não temos essa representatividade. O distrito de Santarém e os concelhos que o compõem mereciam maior atenção, pelas pessoas e também pela sua importância cultural e histórica. Somos um distrito com uma importância vital naquilo que é hoje Portugal.

Faltam líderes com projecção regional e nacional que se façam ouvir junto do poder central?

Eu não sinto essa falta porque tenho uma cá. Não estou a tentar vender a imagem da Isaura. Não preciso de o fazer porque ela construiu a pulso aquilo que é, mas nos vários fóruns que tenho tido oportunidade de participar com a nossa presidente diria que há muito tempo que não existia ninguém no PSD de Rio Maior com esta capacidade de chegar tão longe. A Isaura hoje é conhecida e reconhecida como uma voz activa na reivindicação daquilo que são os nossos direitos e os nossos anseios. Acho que a nível distrital nos faltam mais Isauras.

“Sou teimoso mas também dou o braço a torcer”

Passou a ser o homem forte de eventos como as Tasquinhas de Rio Maior e a FRIMOR – Feira Nacional da Cebola. As inovações implementadas na última FRIMOR suscitaram algumas críticas da oposição. Como é que as encarou?

Com naturalidade. Há muito que se vem dizendo que a FRIMOR está em morte lenta e que é preciso revitalizá-la. Eu e a equipa que está a trabalhar comigo demos uma lufada de ar fresco na FRIMOR, trouxemos novamente boa música a Rio Maior, aumentámos a área de restauração com algum tradicionalismo, engrandecemos a zona do agro-alimentar, para dar outra dignidade e organização à feira.

Mas houve alguma resistência e críticas à mudança.

Sim. Temos noção que há situações que teremos que repensar. Este ano vamos reactivar a feira franca, mas ordenada e numa área perfeitamente definida. Interiorizámos a crítica de que faltou à FRIMOR a imagem de feira, aceitámo-la e vamos melhorar já em 2019.

É uma pessoa que aprende com as críticas?

Adoro ser criticado, embora me custe ouvir algumas. Quando me criticam de forma construtiva posso ficar muito chateado comigo durante uma hora ou duas, mas tento tirar ilações e reconheço os meus erros. Sou muito teimoso mas depois de alguma introspecção estou sempre disponível para dar o braço a torcer.

Também tem havido críticas por causa do ruído nocturno durante as Tasquinhas. O que pensa disso?

Foi uma questão que diminuímos muito o ano passado, com a revisão dos horários. Em termos técnicos trabalhámos também o som, o que reduziu bastante o volume de críticas. Mas o que peço humildemente aos riomaiorenses é que tenham em conta que as Tasquinhas são um dos cartões de visita principais desta cidade e um evento que nos diferencia a nível nacional. São dez dias que tornam Rio Maior um ponto de atracção nacional e portanto há que fazer este sacrifício para podermos receber esta gente toda.

A tauromaquia diz-lhe alguma coisa?

Diz, até pela formação que tenho ligada à produção animal. Gosto de um bom espectáculo tauromáquico. Não sou um aficionado que largue a minha vida para ir assistir a uma corrida, mas aprecio.

Via com bons olhos a Câmara de Rio Maior apoiar uma corrida de touros?

Não via, porque acho que Rio Maior não tem essa tradição tauromáquica. Como concelho não é algo que nos defina.

Disponível para o desafio de ser candidato a presidente da câmara

A presidente da Câmara de Rio Maior e sua companheira de partido, Isaura Morais, está no último mandato. Já se vê como cabeça de lista do PSD ou da coligação PSD/CDS nas próximas eleições autárquicas?

Respondendo sem procurar o politicamente correcto, obviamente não vejo isso com maus olhos ou como uma impossibilidade, mas tenho muita vontade de cumprir a minha missão actual. Fui eleito para ser vereador da câmara e tento trabalhar nos meus pelouros da melhor forma. A seu tempo, seguramente, as coisas vão definir-se.

Sente-se preparado para esse desafio, caso ele se concretize?

É um desafio grande. Todos os dias aprendo muito e sinto-me com vontade e com coragem para continuar a abraçar este desafio.

Fala-se da forte possibilidade de Isaura Morais integrar a lista de candidatos do PSD às próximas eleições legislativas em lugar elegível. O que pensa disso?

Tem-se falado muito nisso. Não tenho para mim que a Isaura tenha como meta única esse caminho. Acho que é uma mulher que merece continuar a sua vida pública por tudo o que fez em Rio Maior e que é reconhecido a nível regional e até nacional. A Isaura tem lugar em qualquer lista, pelas suas características pessoais, pela capacidade de gerar consensos, pelo distanciamento face à política partidária dos lóbis e dos boys. Criou em Rio Maior uma forma nova de fazer política e também por isso é reconhecida entre os seus pares e entre os seus concorrentes directos. Creio que a Isaura tem lugar na lista que ela quiser.

Acredita que a coligação entre PSD e CDS em Rio Maior tem condições para continuar e voltar a ganhar as eleições?

Creio que sim. Não desvalorizando nenhuma das partes, a coligação foi uma ferramenta interessante para termos uma nova visão de política em Rio Maior. Obviamente, os partidos e as coligações têm que ir sofrendo alterações e ajustes para que possam continuar sadios. Com o devido trabalho conjunto, creio que há condições para continuar.

A sua forma de intervir publicamente por vezes provoca reacções abespinhadas, digamos assim, como já aconteceu em reuniões de câmara. Tem noção disso?

Sim. Considero-me uma pessoa muito frontal. Tenho alguma dificuldade em esconder os sentimentos que por vezes se geram devido a alguns comportamentos ou opiniões. Tento, e creio que consigo, não ser indelicado nem mal educado, mas ao que tem nomes não lhe dou alcunhas. E por vezes as pessoas não estão preparadas para ouvir alguém à sua frente dizer o que pensa.

A frontalidade na política pode ser uma faca de dois gumes?

Na política, infelizmente, por vezes tem que se jogar mais do que trabalhar. Como não sou jogador, acredito que me possa trazer dissabores esta forma de estar. Mas prefiro sair da política e manter-me o Filipe Santana do que passar a ser o político Filipe Santana. Não tenho essa visão para mim.

Considera-se uma pessoa pragmática, de acção?

Considero-me uma pessoa de identificar o problema, de pensar a solução e implementá-la, em vez de perder tempo com floreados e andar a pintar um problema de várias cores para que, aos olhos das pessoas, ele passe despercebido.

Isso pode ter a ver com a sua formação profissional também?

Provavelmente. Dizem que os engenheiros, regra geral, são mais práticos e chapa 5.

Adesão à Águas do Ribatejo no horizonte

O abastecimento de água continua a ser um serviço altamente deficitário no concelho, ou a situação melhorou com o aumento do tarifário em 2015?

Não. O aumento do tarifário surge por uma imposição legal. O problema grave da água em Rio Maior advém de uma série de décadas de não investimento na rede.

As perdas de água continuam a ser um problema?

Sim e é o meu principal desafio enquanto vereador com o pelouro. Estamos a trabalhar nesse sentido. Temos um projecto de regulação de várias zonas de abastecimento de água. Se não sectorizarmos a nossa rede, temos um cesto roto e não sabemos em concreto onde. Porque a rede não está sectorizada e as condutas adutoras são as mesmas que abastecem. Estamos a tentar obter fundos comunitários para fazer esse trabalho.

O município de Rio Maior estaria melhor integrado num sistema intermunicipal, como acontece com outros municípios da região?

Rio Maior terá que percorrer esse caminho, mas só depois de concretizar os investimentos necessários. Já tivemos algumas conversações informais com a Águas do Ribatejo. É uma empresa de grandes resultados e de grande qualidade e essa é uma hipótese que nos fascina. Teríamos com certeza um melhor serviço e mais barato. Percebo a posição da empresa em não nos permitir entrar já, pois iríamos acrescentar muito caos.

No ano passado criticou fortemente a legislação sobre a limpeza de terrenos junto a estradas e edifícios, no âmbito da defesa da floresta, dizendo que os municípios não tinham capacidade para se substituir aos proprietários incumpridores nem deviam ser sancionados por isso. Continua a pensar o mesmo?

Sim. O poder central tem vindo a demitir-se das suas responsabilidades em muitas coisas. E os municípios acabam por ser o esteio da manutenção de um bom serviço. Vejam-se alguns exemplos, como o número de viaturas que as câmaras vão oferecendo aos postos da GNR ou aos bombeiros, porque o Estado central não cumpre a sua missão de garantir a segurança dos portugueses.

Quanto à questão da limpeza dos terrenos…

Discordo que a responsabilidade da limpeza, que em primeira ordem é dos proprietários dos terrenos, seja numa segunda linha da responsabilidade dos municípios, que não têm capacidade técnica nem financeira para proceder a essa gestão de combustível. Se eu decidir não limpar o meu terreno, em caso de catástrofe e se for provado que aquele terreno não estava limpo, o primeiro responsável é o município porque não cumpriu a sua obrigação.

Um engenheiro zootécnico fascinado pela política

Luís Filipe Santana Dias nasceu no dia 6 de Março de 1979 no Hospital das Caldas da Rainha, mas sempre viveu em Rio Maior, de onde é a família. Licenciou-se em Engenharia Zootécnica pela Universidade de Évora e trabalhou sempre ligado ao ramo das carnes. Começou o percurso laboral numa empresa familiar como trabalhador-estudante. Quando acabou o curso foi trabalhar para as Carnes Valinho, em Alcanede. Depois foi director do matadouro da Beira Alta, na Guarda, e director da empresa Fumados Douro no MARL, até 2009, quando foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Rio Maior.
Vive em união de facto com a companheira e é pai de duas filhas. Começou na política como vogal na Junta de Rio Maior, no mandato 2005-2009, tendo como presidente Isaura Morais. Sucedeu à autarca no cargo e esteve dois mandatos como presidente de junta, até que foi convidado para ser número dois de Isaura Morais na lista da coligação PSD/CDS para a Câmara de Rio Maior, nas autárquicas de 2017.
Não tinha militância partidária nem actividade política quando entrou na vida autárquica, aos 26 anos, mas hoje tem dificuldade em imaginar-se longe desse ambiente. “Gosto muito do que faço, é um trabalho muito desafiante e neste momento não me consigo ver noutra função que não numa autarquia. A política é uma coisa que me fascina e a política autárquica mais do que qualquer outra”, diz sem rodeios.
Filipe Santana Dias dorme pouco, bebe muito café, sobretudo pela manhã, e vai combatendo o stress a tratar da sua propriedade nos tempos livres que lhe sobram da actividade autárquica.

“Região tem pouco peso político e precisava de mais Isauras”

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