Celtejo retira processo contra ambientalista Arlindo Marques
Empresa optou por desistir da acção por considerar que o réu está a utilizar o processo para se autopromover. O activista natural do concelho de Mação, que ficou conhecido nos últimos anos por denunciar focos de poluição no Tejo, mostrou-se surpreendido com a decisão e considera que se trata de uma vitória para o rio e para quem esteve com ele neste processo.
A empresa Celtejo, de Vila Velha de Ródão, anunciou que pôs termo ao diferendo que a opunha ao ambientalista Arlindo Marques, natural de Ortiga (Mação) e residente no Entroncamento. Em causa está o que a empresa considera ser um uso “abusivo e desconforme ao Direito”, por parte do réu, aproveitando o processo “para se autopromover, adquirir notoriedade e protagonismo, disseminando diversas insinuações e suspeições, sem qualquer fundamento”.
Arlindo Marques confessou a O MIRANTE ter ficado surpreendido com a decisão da Celtejo e afirma que é uma vitória para o rio Tejo e para quem o ajudou neste processo. “Quero crer que a Celtejo só desistiu porque sabia que ia perder”, referiu, acrescentando que um dia alguém vai ter que ser responsabilizado pela poluição que ocorreu no Tejo. “Vou continuar atento ao que se passa no rio e até gostava que isto seguisse para tribunal, para que fosse tudo esclarecido e se percebesse realmente o que aconteceu”, sublinhou.
A Celtejo, que produz pasta de papel, optou por desistir da acção movida contra Arlindo Marques “a fim de evitar que o réu continue a fazer uso abusivo e intolerável do presente processo judicial, por força da natureza tendencialmente pública de que o mesmo se reveste”.
Fonte oficial da empresa do Grupo Altri informou que o diferendo cessou a 25 de Março e reafirmou que está “absolutamente comprometida” com a defesa “intransigente” do rio Tejo, que deve ser um trabalho colectivo.
Recorde-se que, em Dezembro de 2018, a Celtejo instaurou um processo a Arlindo Marques, do movimento proTEJO, por este associar os episódios de poluição no Tejo à empresa, reclamando esta o pagamento de 250 mil euros por danos atentatórios do seu bom nome.
No requerimento entregue no Tribunal Judicial da Comarca de Santarém, a empresa sublinha que, em sede de audiência prévia, que decorreu no dia 7 de Março, conforme assumido pelos mandatários de ambas as partes, encontrava-se em curso um processo negocial com vista à obtenção de um acordo que pudesse colocar termo aos presentes autos.
De acordo com a mandatária da empresa, Arlindo Marques não se pronunciou nesta audiência mas “não se coibiu de trazer para o domínio público o documento de trabalho em discussão entre advogados, o que só por si já seria grave, mas mais grave se afigura porque o fez de forma absolutamente distorcida e descontextualizada”, sustenta.
Arlindo Marques já tinha afirmado a O MIRANTE, após a audiência prévia de 7 de Março, que a proposta da Celtejo de chegar a um acordo era descabida e vexatória e afirmou que se cedesse até teria vergonha de sair à rua. Segundo o ambientalista, a condição para retirar a queixa passaria por pedir que “desse o dito por não dito” e impedir que falasse ou publicasse mais qualquer imagem sobre o assunto.