Um dos últimos “Avieiros” do Tejo faleceu aos 86 anos
Jaime Fernandes Grilo nasceu no Patacão e vivia na Chamusca desde criança. Em criança pouco teve para ir à escola, tendo completado a instrução primária apenas aos 33 anos para poder tirar a carta de condução, tendo para tal recebido explicações.
Faleceu aos 86 anos, no dia 22 de Março, sexta-feira, na Chamusca, Jaime Fernandes Grilo. Era um dos últimos pescadores do Tejo, descendente de uma família Avieira (oriunda da Praia da Vieira).
Nascido na aldeia avieira do Patacão, numa casa palafítica (feita de madeira e assente sobre estacas), a 8 de Janeiro de 1933, Jaime Grilo foi com os pais para a Chamusca quando tinha oito anos e sempre aí viveu.
Em criança pouco teve para ir à escola, tendo completado a instrução primária apenas aos 33 anos para poder tirar a carta de condução, tendo para tal recebido explicações.
Foi pescador a tempo inteiro toda a vida mas a escassez de peixe obrigou-o a conciliar a pesca com a agricultura. Também construiu alguns barcos como o seu pai. Alguns para ele e outros por encomenda.
Foi num barco que passou a lua de mel, após se casar com Maria Lameira, de Vale de Figueira, aos 24 anos e foi aí que o casal viveu no ano e meio seguinte. Durante toda a vida nunca deixou de pescar e de se interessar pelo Tejo.
Em 2015, a 30 de Maio, durante uma sessão sobre a candidatura da cultura Avieira a Património Imaterial Nacional, realizada na Biblioteca da Chamusca, Jaime Grilo apelou à defesa do “seu rio”.
“A construção das barragens reduziu o caudal e a profundidade do rio e esse é um dos motivos para a crescente carência de peixe no Tejo. Há 70 anos eu olhava para o Tejo e via água e terra. Agora só vejo árvores. Já lá vai o tempo em que havia peixe em abundância e num lance de rede podia trazer entre 60 a 80 peixes, ou bem mais como quando consegui pescar 255 sáveis, num só lance, perto de Salvaterra de Magos”, disse.