Um obrigado do Kosovo, vinte anos depois
Aos seis anos de idade fui um dos muitos kosovares a que Portugal, e mais concretamente a Vila de Salvaterra de Magos, deu guarida em 1999. Quando o Kosovo foi invadido e bombardeado pelas tropas sérvias segui com a minha família, pai, mãe e irmão mais novo, rumo a um país que desconhecia, mas que nos acolheu com muito carinho.
Recentemente, ao pesquisar no Google sobre o assunto, por curiosidade de ver como está agora Salvaterra de Magos, e se reconheceria algum sítio, deparei-me com uma fotografia, tirada pelo vosso jornal, onde aparecia o meu pai, Fahredin Jashari, e resolvi escrever esta carta como forma de agradecimento.
Vieram-me à memória as visitas que fizemos a outras cidades, ao jardim zoológico de Lisboa e ao estádio do Benfica, onde me ofereceram uma bola. Foi só uma bola, mas vou lembrar-me do gesto para sempre. Hoje sou jogador de futebol no Kosovo e o meu sonho era um dia poder jogar em Portugal.
Quando chegámos a Salvaterra de Magos, em Maio de 1999, haviam t-shirts com a inscrição “Mir se vini ne Portugali”, que significa bem-vindos em albanês, outro gesto que guardamos para sempre na memória.Os meus pais ainda mantêm alguns números de telefone de pessoas de Salvaterra que muito nos ajudaram como o senhor José Teles.
Em 1999 o exército sérvio matou muita gente, muitos inocentes, sem olhar a quem, como se fosse um jogo. Mataram idosos e crianças e até agora, 2019, recusam fazer um pedido de desculpas. Com esta carta quero apenas agradecer às gentes de Salvaterra que nos acolheram entre Maio e Agosto desse ano permitindo que regressássemos sãos e salvos a Vushtrri onde encontrámos a nossa casa praticamente intacta.
Arjan Jashari