Jovens não gostam de fazer esforços nem de sujar as mãos
Hélder Lopes, 48 anos, diz que a arte de estofador está em risco de extinção. O seu primeiro trabalho foi como aprendiz de estofador de automóveis, em Lisboa, onde nasceu. Fez o serviço militar em Tancos e, depois de casar, fixou residência no Entroncamento, onde ainda vive. Hélder Lopes trabalha na empresa Mola Solta, em Santarém, e gosta muito da sua profissão.
Em criança, Hélder Lopes passava diariamente, depois das aulas, junto à oficina de estofador de automóveis que existia perto de sua casa, em Lisboa, e fazia sempre questão de cumprimentar o senhor António, dono do espaço. O estofador era amigo de longa data dos pais e Hélder sempre fez questão de ser educado. Mal sabia ele que seria ali que iria receber os primeiros trocos e aprender a actividade a que ainda hoje se dedica de corpo e alma: a arte de estofar. Um trabalho que não considera difícil e muito sujo, mas que, mesmo assim, não atrai os mais jovens.
Nascido e criado em Lisboa, Hélder Lopes, 48 anos, faz parte de uma família numerosa, com onze irmãos. Apesar de não ser o filho mais prendado, era quase sempre o escolhido pelo pai para ir vender peixe com ele. Estudou até ao sexto ano de escolaridade, mas a necessidade de contribuir para as despesas da casa e a vontade de ganhar o seu próprio dinheiro fez com que, aos 12, chegasse ao pé do pai e lhe pedisse para arranjar trabalho. “Foi quando ele se lembrou de falar com o senhor António da oficina e iniciei o meu ofício no ramo do automóvel”, conta.
Hélder Lopes trabalhou como estofador até 1991, quando ingressou no Exército. “Na altura passava a semana em Tancos e os fins-de-semana em Lisboa, a trabalhar na oficina que fez de mim estofador”, diz, recordando que foi nessa altura que se casou e veio residir para o Entroncamento. Depois de sair da tropa começou a trabalhar numa empresa de Santarém como estofador. Manteve-se lá durante quinze anos, até ser convidado pelo actual patrão para ir trabalhar para a empresa Mola Solta, na Zona Industrial de Santarém.
Casado e pai de uma filha, Hélder passa os dias entre a oficina da empresa onde trabalha e a ajudar a mulher nas tarefas domésticas. Por morar longe do local de trabalho, o dia de trabalho do estofador começa sempre cedo, pelas seis da manhã. Segue-se uma jornada de sete horas de trabalho, com uma hora de almoço e mais uma hora de caminho até ao Entroncamento, momento que aproveita para ir pensando nas peças e tentando encontrar formas de resolver situações inesperadas.
Com mais de 25 anos de profissão, Hélder Lopes garante que a arte de estofar é uma aventura, não só porque não se sabe como o produto vai ficar, como também porque há sempre imprevistos e os profissionais do ofício têm de estar constantemente a inventar soluções.
Jovens não querem aprender o ofício
Quanto ao futuro do ofício, o panorama não é animador. Antes havia muitos jovens interessados, agora, adianta, há muito menos jovens a quererem aprender a arte. “O problema é que os jovens preferem estar sentados numa secretária em frente a um computador e não gostam de fazer grandes esforços e sujar as mãos. Mas, infelizmente, o mal é geral para todos os ofícios manuais”, refere, acreditando que o futuro está nas peças únicas, feitas à medida e gosto do cliente. “É que as grandes superfícies até podem oferecer muitas peças, mas nenhuma tem a qualidade que empresas como aquela em que trabalho faz”, afirma.
Como passa diariamente pelas ruas da Zona Industrial de Santarém, o estofador admite que, caso fosse presidente da câmara, interviria no arranjo das ruas e na melhoria da sinalética das empresas ali instaladas.