Sobre uma fotografia de Sophia de Mello Breyner Andresen
No próximo domingo somos todos Europa. Oportunidade para recordar uma foto de Sophia numa conferência única em Santarém de que resta pouca memória.
Anda por aí um burburinho por causa de uma biografia de Sophia assinada pela jornalista Isabel Nery. É a biografia ideal para quem conhece e gosta da poesia de Sophia mas que nunca se interessou pela sua vidinha. Dizem as criticas que estão lá todos os episódios que meio mundo do meio literário sabe de ginjeira e já enjoa.
Por mim vou ler como quem lê um romance porque o que me interessa em Sophia é a sua Obra escrita mas também tudo o que dela posso descortinar sobre a longa vida de viajante e admiradora dos prazeres da vida e dos seus mistérios. Por exemplo; os textos sobre o Nu na antiguidade clássica e a sua paixão pela Grécia, que nunca visitei e é o país sobre o qual mais li ao longo da minha vida com destaque para o livro “O Colosso de Maroussi” de Henry Miller.
Escrevo sobre Sophia porque esta semana voltei a encontrar uma foto de um encontro em Santarém em que compareceram meia dúzia de gatos pingados onde eu me incluía. Não encontrei o texto no jornal nem me lembro em que data foi mas sei que já escrevi algures sobre o assunto.
Lembro-me da sua voz serena a falar e depois a declamar poesia. O que guardo mais dela foi a distância respeitosa que guardei depois de a ouvir; fui incapaz de lhe roubar duas palavras depois da conferência. A verdade é que deixei passar a grande oportunidade de lhe perguntar se era verdade que ela detestava que um dia a biografassem e contassem a sua vida como quem conta um conto e acrescenta-lhe um ponto.
Sophia é uma das mais ilustres mulheres do nosso país de Abril. Recordo-a com foto na semana em que vamos votar para as eleições europeias. Ela era uma europeísta de coração e sabia, tal como quase todos nós, que a Europa é a União de todas as vontades e virtudes democráticas. A Europa não é só poder e dinheiro. Não é só uma União em construção, com ou sem o Reino Unido; não é só uma questão de territórios e estatísticas; é uma forma de consolidarmos um território mais vasto com pessoas que respeitam os mesmos valores da tolerância, do pluralismo, justiça, solidariedade e dos direitos humanos.
É pela Europa que viajam livremente e diariamente milhares de jovens de comboio em programas à medida dos seus ideais de vida. É na Europa que muitos milhares de estudantes de todos os países frequentam o programa Erasmus. As eleições do próximo domingo dão-nos a oportunidade de fazer ouvir a nossa voz na defesa daquilo em que acreditamos. Votar é influenciar o nosso destino comum. Domingo somos todos Europa. Para podermos viajar sem fronteiras mas também para termos a liberdade de escolher o melhor lugar do mundo para vivermos e trabalharmos e nunca mais nos sentirmos orgulhosamente sós. JAE