Tentativas de acordo dos arguidos do caso legionella são para queimar tempo
Associação de apoio às vítimas tem novo presidente eleito no último fim-de-semana. A Associação de Apoio às Vítimas do surto de Legionella de Vila Franca de Xira elegeu no último fim-de-semana os seus novos corpos sociais e a única lista apresentada, encabeçada por Nuno Silva, foi eleita por unanimidade. Novo presidente quer dar nova dinâmica à luta da associação.
O novo presidente da Associação de Apoio às Vítimas do Surto de Legionella de Vila Franca de Xira (AAVLVFX) não tem dúvidas: as tentativas de acordo que os arguidos do caso estão a tentar negociar particularmente com cada uma das vítimas não passa de uma manobra para queimar tempo. A lista apresentada por Nuno Silva, 53 anos, foi eleita por unanimidade no último fim-de-semana para o biénio 2019/2021 e o novo dirigente concedeu a
O MIRANTE as suas primeiras declarações públicas sobre o caso.
Oficialmente a associação não tomou posição sobre as tentativas de acordo que estão a ser feitas pelos advogados dos arguidos no processo legionella, que estão a acenar com uma indemnização no valor global de 2,5 milhões de euros às vítimas para evitar que o caso siga para julgamento, mas todos têm de aceitar para poder receber o dinheiro. E já se sabe que isso não vai acontecer porque algumas vítimas e os seus advogados não concordam com os baixos valores colocados em cima da mesa. Basta uma recusa para ninguém receber nada e o caso seguir para a barra do tribunal.
“O que os arguidos estão a fazer com essas tentativas de acordo é queimar tempo. Logicamente não será possível toda a gente estar de acordo, porque há sempre quem concorde e discorde dos valores. Com tudo isto eles vão queimando tempo e quando dermos por isso estamos em Novembro novamente quando passam cinco anos do surto”, refere.
Nuno Silva elogia o trabalho feito pelo anterior presidente, Joaquim Ramos, que se afastou por motivos profissionais, mas quer dar uma nova dinâmica à associação, ser mais interventivo e pressionante e acompanhar mais de perto a evolução do processo em tribunal.
“Ao sexto dia deram-me
como morto”
Nuno Silva é de Odivelas mas foi vítima de legionella por se ter deslocado ao concelho de Vila Franca de Xira por motivos profissionais. Era técnico de higiene, segurança e medicina no trabalho. Em Novembro de 2014 estava a visitar clientes na zona de Santa Iria da Azóia, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. Poucas horas depois de passar na estrada nacional começou a sentir-se mal e foi o início do pesadelo. “Comecei a sentir-me mal. Nessa segunda-feira ainda trabalhei, mesmo mal. Fiquei cheio de febre, frio e pensei que estava com uma pneumonia. No sábado já não conseguia descansar e já estava sem forças. Pedi à minha mulher para me levar ao hospital mas feito parvo não esperei por ela. Arranquei em sofrimento e bati em três carros até chegar ao hospital”, recorda.
Entrou no Hospital Beatriz Ângelo e a última coisa de que se lembra é da máquina das senhas. “Ao sexto dia deram-me como morto. Chamaram a minha família a dizer que dependia de mim e do meu organismo. Estive oito dias em coma e só ao décimo dia é que despertei. Estive entubado. Nunca mais vou esquecer isto, nem a minha família. Fui o pior caso do hospital mas sobrevivi e cá estou para contar a história a O MIRANTE”, recorda. Nuno continua com sequelas da doença, além do cansaço frequente ficou com um casulo num pulmão e um efisema com quatro centímetros.
Os novos corpos sociais são compostos, na direcção, além de Nuno Silva como presidente, Maria Manuel Vicente (vice-presidente), por António Carvalho (tesoureiro) e Joaquim Ramos (vogal). A assembleia geral é composta por João Machado (presidente) e, como secretários, Eduardo Vicente e Maria Pinto. O conselho fiscal é composto por Carla Caeiro, Pedro Roque e Simone Ferreira.
Vítimas querem reunião com Marcelo
Há três anos, o presidente do município, Alberto Mesquita, deixou no ar o convite para que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pudesse visitar o concelho e reunir com as vítimas do surto de legionella, que se queixam de nunca terem tido especial atenção do poder político nacional. Nuno Silva quer inverter isso. Diz que receber o presidente seria “muito importante” para a moral das pessoas que “sofreram e ainda sofrem” com as sequelas do surto e promete convidar novamente o presidente para vir ao Forte da Casa.
Acção popular é para avançar
O novo presidente da associação quer retomar o processo da acção popular contra o Estado, que ficou em suspenso por causa das negociações em curso entre os advogados dos arguidos e as vítimas. Mas agora Nuno Silva diz que não há tempo a perder e que o assunto deve novamente ser alvo de discussão e aprovação pelos sócios. “Estamos a pensar seguir essa acção, independentemente das vítimas aceitarem ou não os acordos que lhes estão a ser propostos. Todas as vítimas estão de acordo com a acção mas desde que tenhamos provas físicas de que estivemos doentes. Havemos de nos reunir novamente para decidir isso”, refere.