A enorme responsabilidade de ajudar a educar os filhos dos outros
Regina Rodrigues é auxiliar de acção educativa no Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho. Começou a trabalhar aos 16 anos num supermercado em Alhandra, vila de onde é natural, enquanto sonhava, secretamente, em ser médica ou enfermeira. Desistiu da ideia porque não havia dinheiro para pagar a faculdade. Sorte ou azar que a fez descobrir a profissão que desempenha há 32 anos. A auxiliar de acção educativa gosta do que faz e só lamenta que “os pais não façam o trabalho de casa”.
“Educar a brincar, com respeito, colo e muito carinho”. Esta é a frase com que Regina Rodrigues, encara a sua profissão na creche do Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho. Quem trabalha com crianças, sublinha, “tem de perceber que tem uma enorme responsabilidade: está a ajudar a educar os filhos dos outros”.
Mais conhecida por Gina, a auxiliar de acção educativa há 32 anos já perdeu a conta aos bebés e crianças que lhe passaram pelo colo, mas garante que não se cansa desta profissão. O primeiro emprego foi ao balcão de um supermercado em Alhandra, vila de onde é natural, mas Gina sonhava secretamente em ser médica ou enfermeira. Sonho que acabou por esmorecer, porque os “pais não tinham condições financeiras”, lamenta, e ainda hoje acredita que teria dado uma boa profissional de saúde.
Em pequena brincava na rua às escondidas, ao jogo da macaca e gostava de andar de bicicleta. Brincadeiras que “se perderam”, porque agora “o perigo espreita e os pais já não podem deixar os filhos livremente a brincar na rua”. Estudou até ao nono ano na Escola Professor Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, e concluiu o ensino secundário já depois de estar empregada na IPSS do Sobralinho. Começou por trabalhar no ATL desse centro social, onde esteve cerca de três anos, antes de ser transferida para a creche.
Actualmente, serve a sala dos bebés com um e dois anos, juntamente com uma educadora de infância, e o trabalho consiste em alimentar, mudar fraldas, vigiar as sestas e educar com uma boa dose de paciência, amor e carinho. Apenas uma coisa a tira do sério, e não são as birras, mas ver uma criança despenteada. “Tenho sempre o cuidado de as pentear antes de irem para a mesa e novamente antes de as entregar aos pais”, confessa.
Pais têm que fazer o trabalho de casa
“O Centro Social do Sobralinho é uma casa de família”, onde educadoras e auxiliares são “segundas mães”. E a prova do bom trabalho que realizam são as mais de 400 crianças que a instituição serve diariamente. Ali não há nada a esconder. Os pais vão deixar os filhos às salas e a porta está sempre aberta. As visitas são feitas a qualquer hora e sem marcação, o que “não acontece em todos os infantários”, refere.
Quando casou e teve as duas filhas, já tinha dado colo a muitos bebés, mas garante que foi depois de ser mãe que começou a valorizar mais a sua profissão. Percebeu o que custa aos pais entregar as suas crianças aos cuidados de outros e que, neste processo, a confiança é fundamental. “Nada me dá mais alegria do que saber que os pais confiam no meu trabalho”, diz.
Gina é da opinião que actualmente os infantários são um depósito de crianças. Tem a percepção que os pais passam cada vez menos tempo com os filhos, por causa dos horários prolongados. Algumas crianças chegam a passar 12 horas na creche. Entram às 07h00 e muitas vezes o pequeno-almoço é tomado ali. “Nem há tempo para se criar o vínculo entre pais e filhos”, lamenta.
Ao longo dos anos foi aperfeiçoando as suas técnicas para lidar com as birras, e para tirar as fraldas e as chupetas. Mas tem faltado o trabalho de casa aos pais. “Tirar a fralda requer a ajuda dos pais, mas alguns não colaboram connosco. Não querem ter o trabalho de casa, o xixi na cama e o ter de ir sentar a criança no bacio”, mas tudo isso tem de acontecer, refere.
A auxiliar de educação gosta de olhar para cada criança como “um ser único com a sua própria personalidade”. Garante que não há uma igual à outra, e lidar com elas é “extremamente desafiante”. Trabalha oito horas de sorriso no rosto e em casa dá por si a imaginar novas formas de contornar birras e a criar novas brincadeiras. As melhores, diz, “continuam a ser as de antigamente”, longe das televisões e novas tecnologias.