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Ourém e o seu mundo que não é só Fátima

Crónica para falar de empresários e do mundo sacana e injusto em que vivemos que premeia mais os audazes e os bonitos que os fortes e mal encarados.

O mundo em que vivemos é cada vez mais interessante e inovador mas repete até quase ao ridículo os defeitos dos tempos mais antigos. Dou um exemplo; em Ourém foi inaugurado um novo espaço de excelência para incubação de novas empresas. Muitas delas serão virtuais como já acontece em Santarém, mas não vou discutir aqui e agora a importância da presença de empresas virtuais em espaços considerados de grande importância para renovação do tecido empresarial da região.
Quem organizou a cerimónia de inauguração escolheu para sentar na primeira fila, e para subir ao palco, um jovem de 23 anos que criou um negócio de venda de smartphones em segunda mão e que nesta altura já tem loja em Lisboa e Madrid. Tudo começou aos 16 anos na casa de jantar dos pais mas depois foi para Lisboa e foi lá que começou o seu negócio. Não me interessa se vai ser o novo Belmiro de Azevedo dos empresários portugueses. O jovem parece uma excelente pessoa e deve ser um ouriense do coração. O que acho é que um empresário de Ourém, a viver e a trabalhar em Ourém, com dois ou mais colaboradores, com uma oficina de electricista ou de mecânica, ou serralharia, etc, etc, tinha muito mais direito a palco que este jovem candidato a milionário.
Quem é que liga ao empresário da nossa terra que ainda mantém uma actividade quase em extinção que tanta falta nos faz e nos obriga a mandar os electrodomésticos avariados para as lixeiras? E quem é que promove os donos das oficinas, das muitas oficinas que nos fazem falta para termos uma vida de qualidade longe dos grandes centros? O que é que interessa para as pessoas de Ourém, que não querem sair de lá por amor à terra e que desenvolvem lá a sua actividade empresarial, o exemplo do jovem empresário de 23 anos que abriu lojas de venda de telemóveis em Lisboa e Madrid? Não sabemos todos que o dinheiro para estes investimentos não tem fronteiras e que não aparece debaixo das pedras da calçada?
O poder político e empresarial, regra geral, vive e promove-se de vaidades e exemplos de pedantismo que não são deste tempo e do mundo em que vivemos. Um grupo internacional empresarial de sucesso pede para abrir o centro das nossas cidades um estabelecimento de fastfood e os autarcas abrem as pernas e só não lhes dão o dinheiro de mão beijada, mais o terreno e a isenção de impostos. Um empresário local tem a mesma ou outra actividade, sustenta os mesmos postos de trabalho, exactamente no centro da mesma cidade, e é literalmente ignorado porque só está a fazer aquilo que lhe compete. E no caso de querer fazer obras, ou de vedar um simples terreno, ou partir uma parede, não há arquitecto ou engenheiro na autarquia que não prometa fazer-lhe a folha.
Ourém é o concelho mais importante do distrito de Santarém e um dos mais importantes do país. Tem seis milhões de turistas por ano. É um território único atravessado por três auto-estradas embora ainda tenha muitos caminhos de cabras e o saneamento básico chegue apenas a metade do território. A cerimónia do dia da cidade de Ourém, que se comemorou no feriado de 20 de Junho, foi uma festa bonita com a presença da grande maioria das forças vivas do concelho. Mas há muita coisa para fazer pelo concelho, e pela região, que Ourém tem a obrigação de liderar. Com autarcas destemidos e empreendedores mas também com os empresários locais que são o espelho em que nos olhamos todos os dias e, regra geral, gostamos do que vemos. JAE

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