“Jardim António Fagulha” é um exemplo de cidadania na cidade de Santarém
António Fagulha, residente em Santarém, decidiu transformar um espaço público desmazelado num bonito jardim. Hoje, dez anos depois de ter colocado os primeiros cactos, conta com um espaço com 106 metros de extensão e mais de meia centena de espécies de plantas. Um exemplo de cidadania que merece ser relatado.
Quem olha para o jardim de António Fagulha, em plena Rua Dr. António Maria Galhordas, em Santarém, não adivinha que há uns anos aquele espaço público estava ao abandono, infestado de ervas e sacos de plástico, como muitos outros na cidade. Ao todo, são cento e seis metros de comprimento e mais de meia centena de espécies de plantas zelados por um cidadão que gosta de ver o espaço público devidamente cuidado.
Há uma década que o reformado, de 73 anos, que nunca aprendeu a jardinar e nem conhece o nome da maioria das plantas, faz a manutenção desse terreno. Todos dias, logo pela manhã, mesmo com chuva e frio, lá está ele, vestido descontraidamente com roupas velhas e botas de borracha, quer seja a plantar mais uma flor, a podar uma árvore ou a regar o espaço, tarefa que demora, pelo menos, duas horas.
“Da mesma maneira que dou atenção ao jardim, ele também me dá a mim. Não podia deixar ficar desta forma este local, mesmo em frente ao meu prédio”, afirma António Fagulha, ao mesmo tempo que vai apontando para umas malvas vermelhas que se encontram junto a uma placa que pintou cuidadosamente à mão com a frase: “Fixe o seu olhar numa flor e verá o lado belo da vida”. É que, além de tratar do jardim, o ex-director de manutenção de uma fábrica de tomate, na Azinhaga, concelho da Golegã, também dedica uma parte do seu tempo à pintura.
Dos cactos às árvores tropicais
António, homem de sorriso fácil e ainda muita genica, começou a fazer a manutenção do jardim quando foi viver para aquela rua há dez anos. Primeiro, plantou alguns cactos mas rapidamente, e com a ajuda de vizinhos, o jardim começou a expandir-se. Hoje, estão ali plantadas ervas aromáticas, como hortelã-pimenta ou cidreira, e árvores exóticas, como um abacateiro ou uma mangueira
“O espaço verde é público. A maioria das plantas e a terra que uso são compradas por mim. O município só ajuda mesmo com a água desde há seis anos para cá, quando comecei a apresentar obra”, conta António Fagulha.
Um dos maiores problemas com que se confronta é com o vandalismo a que o jardim está sujeito, sobretudo por parte das mulheres que passam por ali e lembram-se sempre de arrancar algumas flores. “Aqui têm muito esse hábito. Agora imagine se todas as pessoas se lembrarem de levar flores, como isto ficaria?”, questiona o reformado, admitindo que aquele talvez seja, neste momento, o único jardim florido da cidade. “Isto não é crítica a ninguém, mas a verdade é esta”, conclui António Fagulha.
Vizinhos aplaudem trabalho
Apesar de António Fagulha ter contado com a vizinhança no início da construção do jardim, agora são muito poucos os que lhe dão uma mãozinha. A saúde débil e a idade avançada são algumas das razões apontadas por aqueles que agora limitam-se apenas a apreciar o jardim da janela de casa. Maria Arlete Ferreira é uma das vizinhas que chegou a ajudar no jardim, mas a doença do marido fez com que agora só possa dar apoio moral a António. “Este jardim é muito importante para a rua, mas também para nós que podemos vê-lo todos os dias”, adianta a reformada de 72 anos, realçando que Santarém conta com muitos espaços verdes ao abandono e era importante que as pessoas fizessem o mesmo.
O baptizante de plantas
Desconhecedor do nome da maioria das plantas que tem no jardim, António Fagulha refere que já lhe aconteceu várias vezes peripécias à conta disso. Normalmente, conta, “as pessoas passam pelo jardim e perguntam-me o nome das plantas, mas como não sei, invento”. Depois, no dia seguinte, passam pelo jardim novamente e fazem a mesma questão. “Como já não me lembro do nome que dei, digo outro e elas comentam logo: ‘Não foi esse nome que me deu da outra vez’”, ri-se.