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“Já me pediram para pintar as unhas e os lábios a uma cadela”
José Manuel Martins é um apaixonado por animais e diz que não há raças perigosas mas sim donos perigosos

“Já me pediram para pintar as unhas e os lábios a uma cadela”

José Manuel Martins é dono de duas lojas de animais e de uma clínica veterinária. É de Vila Franca de Xira e toda a vida viveu naquela cidade ribatejana, que está agora mais deserta do que nos tempos da sua juventude. José Manuel Martins começou a vender rações para animais aos 19 anos e em 1997 abriu a sua empresa, na mesma área. Actualmente gere a sua própria clínica veterinária e duas lojas de animais, onde é também o responsável pelos banhos e tosquias.

Sempre vivi rodeado de animais. Neste momento tenho seis cães, um gato persa, peixes, patos e galinhas. Só o gato e os peixes é que ficam dentro de casa. E na cama só durmo eu e a minha mulher.
Não há raças perigosas, há donos perigosos. Tenho rottweilers e posso dizer que sãos os cães mais meigos que tenho em casa, se eu estiver lá. Quando ficam sozinhos fazem o seu papel, guardar a casa.
Para além de gerir a minha empresa trato da higiene dos animais. Faço as tosquias, dou banhos e corto-lhes as unhas. É preciso alguma paciência e avaliar antecipadamente a personalidade do animal.
Já tive de pintar unhas e lábios a cadelas e pôr-lhe lacinhos no pêlo. Alguns donos levam ao extremo os cuidados que têm com os animais. Não podemos fazer tudo o que queremos com eles, tem de haver limites.
Em Portugal quer-se mudar mentalidades a impor leis à força. A proibição de deitar a beata para o chão é como começar a construir uma casa pelo telhado. Ainda não se percebeu que é tudo uma questão de educação e cultura.
Aos domingos junto-me com amigos e vamos pedalar. Durante a semana reservo duas manhãs para fazer o mesmo, mas sozinho. Fazer ciclismo mantém-me em forma e relaxa-me.
Aprendi a tocar acordeão em criança e ainda hoje toco para os amigos. Fiz da garagem uma espécie de tertúlia. Quando já não se tem idade para ir para os copos faz-se a farra dentro de casa.
Gosto de ouvir música dos anos 80 porque me faz lembrar a minha juventude. Ficar sentado no sofá a ver televisão não é para mim, só se estiver a passar alguma prova de ciclismo.
Trabalho desde os 19 anos e tudo o que construí foi fruto do meu esforço. Não acredito no destino, não me venham com essas conversas. Nada cai do céu, temos de nos fazer à vida e lutar para conquistar aquilo que queremos.
Quando era pequeno sonhava ser piloto e hoje tenho medo de andar de avião. A vida dá muitas voltas. Também nunca pensei que iria começar a trabalhar como comercial a vender rações e outros produtos para animais.
Vila Franca de Xira à noite é uma cidade deserta. Sou de Vila Franca de Xira e gosto de viver aqui mas lamento ter deixado de haver vida nocturna. A partir das sete da tarde quase não se vê ninguém na rua.
Enquanto comerciante vivo na pele o problema da falta de estacionamento no centro da cidade. Ninguém vem à loja para comprar um saco de ração de 30 quilos para ter de andar com ele às costas.
A saída dos filhos de casa custa muito. Sou casado há 28 anos e tenho dois filhos, um rapaz e uma rapariga. Ela já saiu de casa e ele fará o mesmo em breve. Não sei o que vou fazer numa casa que vai ficar vazia.

“Já me pediram para pintar as unhas e os lábios a uma cadela”

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