Mercado de Santarém fechou para obras e Casa do Campino é a alternativa para os vendedores
Comerciantes foram notificados para deixarem as instalações até 30 de Julho e alguns deles aceitaram a opção proposta pelo município. Outros fecharam o negócio, como foi o caso do talhante José Rolaça.
Terça-feira, 30 de Julho de 2019, foi o último dia de trabalho de José Rolaça, talhante há 30 anos no mercado municipal de Santarém. O comerciante residente em Santarém vai acabar com o seu negócio aos 60 anos por não ver condições para albergar o seu talho na Casa do Campino, espaço que a autarquia disponibilizou como alternativa para receber os lojistas e vendedores enquanto decorrerem as obras no mercado. Uma empreitada que deve começar em breve e demorar um ano.
A providência cautelar que os vendedores do mercado municipal de Santarém interpuseram em tribunal para tentar impedir o arranque das obras não travou o andamento do processo e no dia 30 de Julho todos os ocupantes de bancas e lojas tiveram que deixar as instalações, na sequência de um edital publicado pelo município (ver caixa).
José Rolaça considera que a Casa do Campino é uma solução inviável. “Eles não deixam que se façam buracos nas paredes e assim é difícil montar o meu espaço no local. É que além de banca para o corte da carne, tenho de colocar a minha arca frigorífica e um balcão para expor os produtos e receber os clientes”, explica o talhante, adiantando que também foi avisado que teria de retirar todos os seus equipamentos durante o Festival Nacional de Gastronomia, que decorre entre 24 de Outubro e 3 de Novembro.
A O MIRANTE, a vereadora Cristina Casanova já tinha dito que estavam garantidas bancas para todos os vendedores, enquanto os lojistas teriam espaços na Casa do Campino para instalar os seus negócios. “Todos os comerciantes têm condições para lá se instalarem assim o queiram”, disse a autarca, ressalvando que essa solução alternativa será desactivada temporariamente nos períodos em que a Casa do Campino é utilizada para as Festas de São José e para o Festival Nacional de Gastronomia
É por isso que José Rolaça desabafa a
O MIRANTE que sempre esteve optimista que o município escolhesse outra alternativa e permitisse que os vendedores e lojistas fossem para a antiga Escola Prática de Cavalaria (EPC) enquanto decorrem as obras
“Criei aqui as minhas filhas e as minhas netas”
É também com alguma inquietação que Antónia Lima, 75 anos, olha para o futuro próximo a dois dias de deixar o mercado. Vendedora de legumes e frutas há 38 anos no emblemático espaço decidiu não acabar para já com o seu negócio, mas confessa que, se começarem a faltar os clientes na Casa do Campino, vai ter de deixar de vender. “Está a custar-me bastante sair deste local. Criei aqui as minhas filhas e as minhas netas e agora tenho de ir para a rua e instalar-me num sítio muito mal localizado na cidade”, lamenta a vendedora que se manteve no mercado até ao último dia.
Mário Almeida, 70 anos, é a imagem da tristeza. A vender legumes e frutas há mais de 20 anos no mercado, juntamente com a mulher, reconhece que o edifício há muito necessita de ser requalificado, mas confidencia que a alternativa imposta pelo município não é a melhor. “É por isso que estou na dúvida se continuo com o negócio. Vamos ver agora se as pessoas vão à Casa do Campino fazer as compras. Caso contrário teremos de sair”, refere a O MIRANTE.
A fazer as últimas vendas de frutas e legumes está Maria Venâncio, 63 anos. Trabalha no mercado há 23 anos, diz que gostava de continuar o seu negócio mas a alternativa faz com que fique de pé atrás. “Vê-se que há muita irresponsabilidade e leviandade em todas as decisões tomadas pela câmara. É uma pena chegarmos a este ponto”, confessa, lamentando não saber ainda o sítio onde ficará na Casa do Campino.
Câmara deu cinco dias úteis para saírem
Recorde-se que a Câmara de Santarém publicou no dia 23 de Julho um edital que dava cinco dias úteis aos vendedores e lojistas do mercado para deixarem as instalações. O edital municipal, datado de 22 de Julho, exigia a desocupação de todas as lojas e bancas do mercado até 30 de Julho bem como a interdição de acesso e funcionamento do espaço, de modo a permitir a execução dos trabalhos.
A autarquia contornou o efeito suspensivo da providência cautelar, interposta pelos vendedores no Tribunal Administrativo de Leiria, com uma resolução fundamentada, aprovada em reunião de câmara realizada a 24 de Junho e que não foi objecto de impugnação no âmbito do processo. A resolução fundamentada, prevista no Código de Processo nos Tribunais Administrativos, aludia a uma “situação de especial urgência grave” e alegava que os interesses públicos em causa são manifestamente superiores aos interesses particulares dos requerentes.