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Doação de mantimentos a bombeiros é assunto controverso
Bombeiros de Benavente são adeptos das campanhas solidárias. População encheu-lhes o armazém com águas e alimentos que excedem as necessidades para os meses de Verão

Doação de mantimentos a bombeiros é assunto controverso

Ajuda da população é bem-vinda mas a solidariedade chega a cair no exagero. Na região há corporações, como a de Benavente, que apelam à doação de água e alimentos. Mas há quem olhe para esse tipo de peditório como um rótulo do bombeiro ‘coitadinho’. Comandante dos Municipais do Cartaxo e presidentes dos Bombeiros de Samora Correia e Almeirim consideram mais útil as pessoas tornarem-se sócias das associações.

A doação de água e bens alimentares às corporações de bombeiros, sobretudo na chamada época de incêndios, é tida como a ajuda mais directa aos soldados da paz e na região há quartéis que, graças à solidariedade de populares e empresas, se enchem de mantimentos que ultrapassam as necessidades dos operacionais. Mas as opiniões divergem quanto a esse tipo de ajuda: há corporações que a incentivam e há outras que preferem apoios de outro tipo, até para não se passar uma imagem miserabilista de quem presta um importante serviço público.
Este ano, a corporação de Benavente voltou a lançar o desafio à população, que acorreu ao quartel e encheu um armazém com garrafas de água, enlatados, barras de cereais e outros alimentos não perecíveis. Mas houve a preocupação de encurtar a campanha - durou 30 dias - para não sobrecarregar os armazéns e para não haver desperdício, como já aconteceu em anos anteriores, explica Sandra de Melo, presidente dessa associação humanitária. O ideal, sublinha a dirigente é perguntar à corporação o que faz falta.
Durante a época de incêndios a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) assegura o pagamento das despesas com o combate às chamas, desde o combustível para as viaturas, acidentes e avarias. Mais difícil é garantir esses apoios fora da época de incêndios. Por esse motivo, Sandra Melo considera que a solidariedade das pessoas é fundamental, uma vez que a ajuda do Estado é praticamente nula no resto do ano.

Em Samora não há necessidade de peditórios
No quartel vizinho, no mesmo concelho, os Bombeiros de Samora Correia optam por não fazer recolhas de alimentos. “Não há necessidade disso, a associação consegue garantir, durante todo o ano, a alimentação dos seus operacionais”, esclarece a presidente Cláudia Direitinho, acrescentando que no caso de incêndio em Samora Correia, a alimentação das corporações destacadas está cem por cento assegurada.
No combate a incêndios, as despesas de alimentação dos operacionais são ressarcidas pela ANPC ao corpo de bombeiros mas, alerta Cláudia Direitinho, há associações humanitárias de bombeiros a passar dificuldades financeiras que sem a ajuda da população podem não conseguir suportar as despesas alimentares até serem ressarcidas. A dirigente adianta ainda quem se dirige àquele quartel com bens alimentares é aconselhado a fazer a doação a instituições do concelho.

A melhor ajuda é as pessoas tornarem-se sócias dos bombeiros
Para Pedro Ribeiro, presidente dos Bombeiros de Almeirim, não se justifica a entrega de bens a não ser que seja solicitado. “A logística necessária aos operacionais é assegurada pelas entidades dos locais e corporações mais próximas do teatro de operações”, explica. Para além disso, os veículos dos Bombeiros de Almeirim estão equipados com rações de combate financiadas pela associação para as primeiras 24 horas, por uma questão de segurança, caso a logística falhe. Algo que, assegura, não tem acontecido nos últimos anos.
A melhor forma de ajudar as corporações é, segundo Pedro Ribeiro, as pessoas fazerem-se sócias das associações humanitárias. Neste caso “estamos a falar de 48 euros por ano. Comprar bens alimentares que não fazem falta pode, inclusive, custar mais do que isso”, afirma. E reforça: “As quotas são fonte importante na receita da maioria das associações de bombeiros, que lhes permite adquirir outros equipamentos de protecção individual usados no combate a incêndios”, que ronda em média os três mil euros.

“As associações não devem fazer peditórios”
Cada quartel organiza-se da forma que entende mas, para David Lobato, comandante dos Bombeiros Municipais do Cartaxo, as associações não devem fazer peditórios. “Estamos a desempenhar um serviço público e temos alguém que nos tutela, no nosso caso, o município. Não sou apologista dessas campanhas do bombeiro ‘coitadinho’”, diz. E defende que tornar-se sócio destas associações é a melhor forma de ajudar.
O comandante sublinha que enquanto forças especializadas de Protecção Civil, os bombeiros têm de ser vistos como tal e as estruturas que os tutelam têm de garantir os mantimentos. E vinca que todas as corporações, antes de enviarem operacionais para o combate às chamas, devem assegurar que são auto-suficientes, nas primeiras horas. “Num teatro de operações é difícil cumprir a logística, pelo menos nas primeiras oito horas”, mas vinca que as doações da população devem ser tidas apenas como um suplemento à estrutura planeada no terreno.

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