Pedalar faz bem ao ambiente, à saúde e à carteira
A bicicleta tem vindo a recuperar paulatinamente o espaço perdido nas últimas décadas como meio de transporte. São cada vez mais as pessoas que usam velocípedes sem motor para as suas deslocações rotineiras e há quem percorra diariamente algumas dezenas de quilómetros. Na Semana Europeia da Mobilidade O MIRANTE foi falar com dois entusiastas do pedal.
No final de tarde de um dia de trabalho O MIRANTE encontrou em Almeirim David Clemente, que tinha acabado de fazer cerca de trinta quilómetros de bicicleta no regresso a casa. O cheiro a suor sentia-se mas logo se percebeu que não é coisa que o incomode. “Depois de estar uma hora e meia a pedalar se não cheirasse é que era de estranhar”, brincou.
Pelo menos três vezes por semana David troca o carro pela bicicleta e pedala cerca de sessenta quilómetros, ida e volta, entre Almeirim e Salvaterra de Magos, onde trabalha no Centro de Saúde local. São vários os motivos que o fizeram optar por este estilo de vida, mas os principais são o económico e o ambiental. “Em média chego ao final do mês com 70 euros a mais na carteira. No final do ano tenho dinheiro para fazer uma bela viagem”, afirma.
Quanto ao ambiente, diz que procura dar o exemplo e ajudar a mudar mentalidades partilhando muitas das suas viagens nas redes sociais, embora desabafe com tristeza que vê muito pouca gente preocupada com este tipo de questões tão importantes.
A viver em Almeirim há nove anos, David diz querer ficar na cidade por muito mais tempo por sentir que as pessoas são simpáticas e ajudam-se umas às outras. Se for obrigado a apontar algum defeito é o sedentarismo. Acha que as pessoas recorrem demasiado ao carro, mesmo para deslocações curtas. “É preciso de ter uma vida activa. Por razões de saúde, combate ao stress e porque o desporto é uma das melhores armas de socialização”, diz.
David Clemente tem um filho com sete anos, mas reconhece que ainda é demasiado cedo para o pôr a andar na estrada, porque não confia em quem anda de carro devido aos sustos que já apanhou. “Os automobilistas não respeitam as distâncias de segurança obrigatórias”, diz, reconhecendo que também existem muitos ciclistas que não cumprem com as regras de condução defensiva.
“A bicicleta dá-me uma sensação de liberdade”
João Paulo Félix, natural de Salvaterra de Magos, só tem um veículo na sua garagem: a bicicleta. Abdicou do carro há quase seis anos e garante ter sido a melhor decisão da sua vida. Adepto confesso do silêncio, conta que a bicicleta lhe permite viver com uma alegria que outro transporte não dá. “A bicicleta dá-me uma sensação de liberdade inexplicável, para além de combater o stress tornando-me uma pessoa mais tranquila”, explica. E é também uma forma de regressar ao passado e aos tempos de infância. “Sempre que me coloco em cima da bicicleta, sinto-me uma criança outra vez”, partilha com satisfação.
Toda a sua vida gira em volta da bicicleta. Faz cerca de 1.500 quilómetros por mês, o que dá uma média de 50 quilómetros diários. Admite que este estilo de vida lhe garante um maior equilíbrio e controlo sobre tudo o que o rodeia. “Andar de bicicleta dá-me tempo para refletir e planear. Organizo o meu dia para não andar a correr e acabo por fazer melhor as coisas”, conclui.
Sociólogo de profissão, percorre o país por motivos de trabalho, mas isso não o faz deixar a bicicleta pelo caminho. “Normalmente vou de comboio até um certo ponto e depois faço o resto de bicicleta”, diz, assegurando que a bicicleta é a sua maior companheira e que sente que ao pedalar está, de certa forma, a fazer um agradecimento à vida. “Pedalar é uma forma de agradecer a possibilidade que tenho de viver livre e saudável”, sintetiza.
João Paulo Félix enterra o machado de guerra entre ciclistas e automobilistas dizendo que todos têm culpas no cartório e que é uma questão cultural. “Os ciclistas e os automobilistas só precisam de ser educados e respeitadores das regras. Falta cultura, educação e valores às pessoas”, refere.
A “loucura” de João Paulo atingiu o ponto máximo quando, em Junho decidiu percorrer, de bicicleta, a Estrada Nacional 2 (N2), que atravessa todo o país ao longo de cerca de 740 quilómetros. “Alimento-me destes desafios, está-me no sangue. Ando sempre à procura de inspirar”, conclui. Recorde-se que João, em 2017, nesse caso a correr, deu a volta ao Ribatejo em três dias, percorrendo um total de 328 quilómetros.