Distrito de Santarém tem perdido população, postos de trabalho e poder de compra
Estudo da União dos Sindicatos de Santarém traça um retrato pouco risonho da realidade económica e social da região.
Um estudo da União dos Sindicatos de Santarém, divulgado a 21 de Outubro, mostra que o distrito tem vindo a perder população e postos de trabalho, bem como poder de compra, sendo o salário médio 13% inferior à média nacional.
O retrato socioeconómico do distrito de Santarém, elaborado a partir de dados oficiais para servir de base de trabalho para o XI Congresso da União dos Sindicatos do Distrito de Santarém (USS/CGTP-IN), que se realizou no dia 30 de Outubro, em Alpiarça, foi apresentado em conferência de imprensa, em Santarém e Tomar.
Rui Aldeano, coordenador da USS, afirmou que o estudo confirma as preocupações que há muito o movimento sindical tem manifestado relativamente à desertificação, envelhecimento, degradação de serviços públicos e empobrecimento geral da população no distrito de Santarém.
Segundo os dados divulgados, o distrito perdeu 22.500 habitantes entre 2011 e 2018 (5% da sua população, o dobro do restante país em termos percentuais) e assistiu a uma queda do emprego – menos 24% entre 2002 e 2013 -, existindo em 2017 menos 43.600 empregos que em 2002 (menos 19%), apesar da recuperação iniciada em 2014. O sector mais afectado foi a indústria, com menos 34.000 postos de trabalho entre 2002 e 2016, tendo a agricultura registado uma quebra de 17.600 empregos.
Para a USS é preocupante o que está a acontecer no sector agrícola, com os postos de trabalho disponíveis a serem ocupados por trabalhadores migrantes em situação de precariedade e com salários que, apesar de melhores do que os praticados nos seus países de origem, apenas lhes permitem sobreviver, por vezes, em condições desumanas.
Salientando que o problema não reside na ocupação de postos de trabalho, mas sim na exploração a que os trabalhadores estão sujeitos e na forma como os patrões se aproveitam das suas fragilidades, a USS atribui a precariedade no sector à sazonalidade e ao investimento na monocultura.
A USS afirma, no entanto, que o retrato da precariedade é transversal a todos os sectores e atinge níveis preocupantes no distrito, com o peso dos contratos a termo a atingir os 33%, com maior incidência nos homens (35%) e nos jovens (mais de 50% até aos 35 anos e 70% no escalão 18-24 anos). “Estamos certos de que os efeitos da precariedade se reflectem no salário médio do distrito, sendo este de 823 euros, menos 13% que a média nacional”, e, no caso das mulheres, de apenas 760 euros, afirma o sindicato.
Os baixos salários têm impacto no poder de compra, sendo nos concelhos de Mação e de Ferreira do Zêzere inferior aos 70% da média nacional. Para o sindicato o distrito está envelhecido, existindo mais de 95.000 reformados por velhice e onde, na esmagadora maioria dos concelhos, a pensão de velhice é abaixo dos 435 euros da média nacional, fruto dos baixos salários praticados.
A USS refere ainda a sua preocupação com os números da sinistralidade laboral, apontando os 159.000 acidentes de trabalho comunicados entre 2000 e 2016, ano em que foram registados 8.100.
“Entre 2000 e 2016 morreram 270 trabalhadores em acidentes de trabalho no distrito de Santarém”, afirmou Rui Aldeano.
A USS aponta os “maus tratos que os serviços públicos têm sofrido” no distrito, referindo o encerramento de 251 estabelecimentos de ensino entre 2009 e 2018 e de 24 estações dos CTT entre 2011 e 2017, e a falta de médicos, reflectida nos 49.000 utentes sem médico de família e no exemplo do Sardoal em que apenas 23% dos utentes tem médico de família.