Um casal de artistas que trocou a capital pela pacatez do Ribatejo
Ana e Francisco Dias residem em Vila Nova da Barquinha e vivem exclusivamente das artes. Neste momento têm alguns dos seus trabalhos expostos no Clube do Criador, na Golegã, que podem ser apreciados pelos visitantes de mais uma Feira Nacional do Cavalo e de São Martinho.
Francisco é mais de olhares. Ana é mais de sorrisos. Ele prefere as aguarelas. Ela o barro. O casal, natural de Lisboa, vivia há vários anos perto da capital e nunca parava. O gosto pela natureza e pelos produtos vindos da terra fez com que há dois anos decidissem mudar radicalmente de vida e ir residir para Cafuz, uma pequena povoação no concelho de Vila Nova da Barquinha.
Hoje, a viver no campo, sem televisão, dedicados à horta, às galinhas e às artes, Francisco e Ana Dias dizem-se mais felizes e realizados no trabalho. No dia da abertura de mais uma Feira Nacional do Cavalo e de São Martinho, e a poucas horas da inauguração da exposição com trabalhos do casal no Clube do Criador, na Golegã, O MIRANTE falou com os artistas e ficou a saber como tem sido a adaptação a esta região e a aceitação dos ribatejanos às suas artes.
“Aqui as pessoas compram muito menos obras de arte do que as que residem na capital. Mas, mesmo assim, vale a pena viver aqui nem que seja pela calma e pela simpatia”, garantiu o aguarelista de 57 anos, recordando os momentos em que se dividia entre a pintura e a profissão de desenhador numa empresa de construção civil.
Foi em 2017 que Francisco Dias e a mulher, Ana Dias, se mudaram para o concelho de Vila Nova da Barquinha. Não foi a primeira opção do casal, mas hoje dizem estar satisfeitos com a escolha. “Foi fácil adaptarmo-nos ao local. O mais complicado é mesmo o viver da pintura e cerâmica. As pessoas de Vila Nova da Barquinha não têm ainda uma educação voltada para as artes. Vêem uma peça e nem sequer ligam”, adianta o artista.
Juntos através das artes maciais
Ana e Francisco Dias conheceram-se quando praticavam karaté. Na altura, nem Ana nem Francisco se dedicavam às artes. A artista, de 58 anos, só se iniciou a trabalhar a cerâmica em 1981, com a argila que ia recolher à serra. Viu que tinha pernas para andar e passou a adquirir argila numa olaria. “Depois os amigos começaram a dizer que estava giro e passei a vender os trabalhos”, conta, adiantando que ainda tem clientes que vão ao seu encontro em Vila Nova da Barquinha para adquirir as peças em barro.
Já Francisco Dias nunca teve grande apetência para pintar com aguarela. Até ao dia em que se fascinou com a arte após ver trabalhos de um pintor australiano numa revista. Foi em 2006. A partir daí, nunca mais parou. Primeiro começou a pintar com aguarelas mais baratinhas e depois, quando estava mais aperfeiçoado, com materiais mais caros. A inspiração vai muito na base dos monumentos e ruas antigas. “Gosto de descobrir sítios onde as pessoas passam e não reparam”, conta o artista que usa produtos naturais e pincéis com pelos de animal.
Actualmente, a realizarem as suas obras no atelier da sua residência e na Galeria de Santo António, em Vila Nova da Barquinha, Ana e Francisco Dias revelam que o maior obstáculo à aguarela e ao barro é mesmo a humidade. “Basta um pouco e ficamos logo com a peça estragada”, diz Ana, referindo que tanto pode demorar algumas horas como dias a fazer uma peça, consoante os seus detalhes.