Eclipse do Verão de São Martinho contraria aquecimento global
Clarividente Manuel Serra d’Aire
Atravessamos mais um São Martinho e desta vez sem Verão. É uma machadada cruel na tradição. Um episódio que vem comprovar que mesmo as coisas que temos como certas na vida podem, de um momento para o outro, desaparecer. E depois admiram-se de o Donald Trump dizer que não há aquecimento global nenhum. Se ele soubesse que este ano não houve Verão de São Martinho na Golegã, provavelmente voltaria à carga com a sua retórica desbragada contra cientistas e ambientalistas. Embora eu nunca tenha percebido bem qual a necessidade de haver sol e calor no São Martinho, se estes dias molhados e temperados até casam melhor com a castanha assada e a água-pé.
O exemplo do eclipse do Verão de São Martinho abre contudo uma janela de esperança. As tradições não duram sempre, por muito arreigadas que estejam. Por isso, pode ser que um dia destes deixe de cheirar mal em Alcanena, que deixe de haver engarrafamentos na ponte da Chamusca, que a EN114, em Santarém, reabra nos dois sentidos e que a Plataforma Logística de Castanheira do Ribatejo deixe de ser um deserto.
Vaticinou um estudo amplamente divulgado na semana passada na comunicação social - que se pela por esse tipo de especulações e futurologias - que a subida das águas do mar vai causar em 2050 o alagamento de algumas freguesias do Cartaxo e da Ribeira de Santarém, entre outras zonas inundáveis do nosso Ribatejo.
Recebi essa notícia com alegria, ao contrário de muita gente, pois abre a perspectiva de deixarmos de ver areia no sítio onde devia estar a água do Tejo. O que é óptimo para quem não gosta de paisagens desérticas nem de camelos, como é o meu caso. E como em cada problema existe sempre uma janela de oportunidade, talvez esta seja a forma de a Câmara de Santarém ter finalmente condições para recriar a sua praia de Santarém, com água salgada e tudo, depois do fracasso da primeira tentativa, já lá vão uns anitos.
Até já estou a imaginar uma imensidão de biquínis garridos a salpicarem de cor os corpos reluzentes de bronzeador das sereias ribatejanas e turistas nórdicas fascinadas com o sol da lezíria, enquanto mancebos tisnados pelo sol e vestidos de branco calcorreiam o areal apregoando bolas de Berlim e rajás fresquinhos. É pena isso ser só lá para 2050. Temo que na altura já não tenha capacidade para dar o devido valor a tais maravilhas, nem sequer forças para pescar uns sargos ou uns robalos no Tejo…
O ministro do Ambiente disse também na semana passada que não existe falta de água no Tejo, o que exacerbou os ânimos da turba no tribunal das redes sociais, onde o pobre governante foi fustigado pelos habituais juízes do teclado. Isto quando o homem, de sua graça Matos Fernandes, tem toda a razão do mundo. Basta ir ao Terreiro do Paço e olhar para o Tejo. Há ali sintomas de seca? De falta de água? Claro que não! Nem nunca houve. Então, por que raio havia o homem de dizer que há falta de água no Tejo. É ver para crer, como advogava São Tomé…
Cumprimentos do
Serafim das Neves