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Projecto para combater suicídio arranca em Santarém em 2020
Para Teresa Massano, enfermeira chefe no Serviço de Psiquiatria do HDS falta formação sobre o tema do suicídio

Projecto para combater suicídio arranca em Santarém em 2020

Médicos e enfermeiros querem ter mais formação e informação sobre como ajudar as pessoas que tentam pôr termo à vida.

O Plano de Prevenção do Suicídio vai arrancar no próximo ano no distrito de Santarém com o objectivo de detectar com maior celeridade pessoas que apresentem tendências suicidas. Este é um projecto da Direcção-Geral de Saúde (DGS), em articulação com o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Lezíria e o Serviço de Psiquiatria do Hospital Distrital de Santarém (HDS).
“As extensões e centros de saúde estão mais próximos das populações e o objectivo é que assim que tenham conhecimento de alguém que apresente indícios de perturbações psicológicas e tenha mencionado vontade de por termo à vida, comuniquem à psiquiatria para começarmos a trabalhar, em conjunto, no terreno, com essas pessoas”, revelou a O MIRANTE, a enfermeira chefe do Serviço de Psiquiatria do HDS, Teresa Massano.
No primeiro semestre de 2019 deram entrada no Serviço de Psiquiatria do HDS 39 homens e 27 mulheres por tentativa de suicídio. Ao fazer um retrato desta população, consegue-se perceber que as mulheres tentam matar-se em idade mais jovem (sobretudo entre os 24 e os 30 anos), comparativamente aos homens (cuja faixa etária situa-se entre os 50 e os 57 anos). Além da idade, os métodos usados são também diferentes: os homens recorrem mais ao enforcamento, já as mulheres recorrem à toma exagerada de comprimidos.
No que respeita ao total de 2018, no mesmo serviço, os dados invertem-se no que respeita ao género: foram 73 as mulheres que tentaram cometer suicídio, enquanto 50 homens tentaram pôr termo à vida. Os dados foram revelados por Teresa Massano durante as I Jornadas do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Lezíria, que decorreram nos dias 25 e 26 de Outubro, no Cine Teatro de Almeirim.
Em regra, as mulheres são mais faladoras e têm a tendência em exteriorizar a amigos ou vizinhos o estado de alma em que se encontram, incluindo a vontade de pôr fim à vida. “Elas tomam comprimidos mas já deram a alguém próximo o alerta de que o iam fazer. Já os homens não dizem a ninguém. O que faz com que por vezes cheguem ao hospital ainda vivos, mas em pior estado físico”, explica a enfermeira.
Os dias de internamento dependem de caso para caso, bem como o tipo de acompanhamento que é feito. A primeira fase passa por perceber se existe uma doença mental associada. Numa segunda fase saber se existe um historial ou factor de predisposição para a tendência suicida ou se se tratou de um caso impulsivo, motivado por uma situação de desespero momentânea. “Todas estas pessoas têm algo em comum: estão em sofrimento e é aí que tentamos fazer o nosso trabalho”, enquadra Teresa Massano.

Faltam explicações científicas
Mais do que querer saber e perceber as causas que levaram a estes actos, o serviço de Psiquiatria tem por função amenizar as perturbações existentes. “O que para mim pode parecer uma situação menos boa, como um divórcio ou o desemprego, para outra pessoa pode ser o fim do mundo e não ter capacidade intelectual para lidar com esse acontecimento”, exemplifica. Estes panoramas, associados a doenças mentais que estejam já instaladas, não dá bom resultado.
Para a classe médica torna-se “perturbador” saber que tudo o que existe sobre o tema são meros dados estatísticos. “Há estudos, há estatísticas, mas falta o essencial, que é formação e conhecimento sobre o que fazer para prevenir estes casos”, sublinha Teresa Massano.
Preocupação partilhada por Nuno Fernandes, psiquiatra interno do HDS. “Não existe uma explicação científica para aquele que é considerado o acto mais perturbador do ser humano: acabar com a própria vida”, referiu.
A descrença numa vida estável devido ao desemprego, a uma doença, à dificuldade em reconstruir uma vida sozinho depois de um divórcio ou à morte de alguém próximo, leva muitas pessoas a não conseguirem alcançar o bem-estar emocional. “Daqui até tentarem matar-se está uma linha muito ténue”, refere o psiquiatra.

Projecto para combater suicídio arranca em Santarém em 2020

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