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Mais do que boa educação dizer obrigado é sinónimo de boa saúde
Joana Almeida, Helena Gonçalves e Mário Nave

Mais do que boa educação dizer obrigado é sinónimo de boa saúde

“Jovens esquecem-se de agradecer por estarem fechados neles próprios”. Dizer obrigado é um hábito que podemos introduzir na nossa rotina? Será que está fora de moda? Que vantagens terá a gratidão para a nossa saúde física e mental? E quando a vida nos corre mal, o que há para agradecer?


Além de fazer parte das regras da boa educação, dizer obrigado é um acto que pode trazer benefícios para a saúde física e mental. A propósito do Dia Internacional do Obrigado, que se assinala a 11 de Janeiro, O MIRANTE falou com três psicólogos que explicam a importância deste gesto.
Helena Gonçalves, psicóloga e psicoterapeuta em Torres Novas e no Entroncamento, refere que quando estamos mais equilibrados e em sintonia com a natureza, por exemplo, somos mais gratos.
“Na verdade vemos povos que vivem com muito menos do que nós e vivem mais satisfeitos pois não perderam a sua ligação primordial à terra”, acrescenta. Para a psicóloga, agradecer é um hábito que se pode formar através de técnicas que passam pela psicoterapia e meditação. “Quando nos apercebemos que afinal temos muito, há mudança, e para isso há técnicas”.
Joana Almeida, psicóloga no Centro de Psicologia e Desenvolvimento da Póvoa de Santa Iria, realça que agradecer “pode significar que a pessoa está bem com ela própria e por isso manifesta o desejo de o transmitir ao outro”. Também reflecte o quanto a pessoa se importa ou tem em conta a presença do outro na sociedade. “Somos seres sociais e precisamos uns dos outros”, acrescenta.
Para quem tenha mais dificuldade em pôr em prática esta filosofia, a psicóloga adianta que é possível trabalhar a cognição de modo a alterar os comportamentos e sentimentos associados a uma determinada situação social. Segundo ela, a psicoterapia possibilita um caminho para o bem-estar com foco na positividade e esperança e automaticamente as mudanças surgem.
Também Mário Nave, psicólogo clínico em Santarém, aposta que a melhor técnica é o autoconhecimento, o que se consegue com psicoterapia. “É de extrema importância ‘perder tempo’ a olhar para si, para o que se tem e para o que se pode vir a ter, sem olhar somente para a realidade externa, para os outros”, confidencia.

“Os jovens sabem agradecer mas esquecem-se”
De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, dizer obrigado aumenta a felicidade, melhora os relacionamentos e até reduz a pressão arterial e fortalece o coração. Helena Gonçalves concorda e realça que dizer obrigada de uma forma em que efectivamente há o sentimento de agradecimento e não apenas um mero formalismo, é um sinal de amor por parte do agradecido e não há dúvida que é um sentimento que faz bem.
Mário Nave reforça que o obrigado deve estar associado a uma atitude positiva, não adianta dizê-lo somente por dizer, por ser socialmente correcto, ou porque os estudos comprovam os seus benefícios.
Quanto à percepção de que “obrigado” é um termo cada vez mais em desuso, sobretudo entre os mais jovens, Helena Gonçalves reconhece que talvez os jovens digam menos a palavra de um ponto de vista formal, mas que, se assim for, até poderão estar a ser mais revolucionários no sentido de não quererem dizer obrigado sem verdadeiramente se sentirem agradecidos. Podem desta forma estar a ser mais genuínos, defende.
“Os jovens sabem agradecer, mas esquecem-se. Estão cada vez mais fechados neles próprios. Focam-se nos jogos, nos ecrãs, em pequenas máquinas e perdem o contacto com a realidade e com as pessoas que os rodeiam”, garante Joana Almeida, rematando que se não socializam tanto também não podem pôr em prática actos solidários como a gratidão.
Para a psicóloga, é preciso deixar de olhar para o chão e começar a olhar para quem temos ao nosso redor, agradecendo e valorizando a existência de quem contribui todos os dias para a nossa felicidade.
“Não creio que haja dificuldade dos mais jovens em ter acesso aos sentimentos de gratidão, as gerações de hoje estão muito mais permeáveis a deixar sentir o que lhes vai na alma. Podemos é estar perante uma dificuldade em termos de meios relacionais para que isso aconteça”, aponta Mário Nave.

Quando a vida nos corre mal, o que há para agradecer?

São os momentos menos bons que nos fazem crescer e amadurecer, nesse sentido os psicólogos com quem falámos acreditam que também devemos ser gratos por eles. Para Joana Almeida as más fases existem para nos tornar resilientes. Errar faz parte da vida, assim como o sentimento de tristeza. “É quando estamos mais tristes que reflectimos e questionamos a vida e criamos mudanças. A positividade é necessária para dar significado à vida e conseguirmos chegar onde sonhamos”, remata. Mário Nave reconhece que agradecer um erro pode ser o caminho para desvendar uma direcção mais ajustada à realidade de cada um, “logo, apesar de momentaneamente penoso, poderá ser promissor para o futuro”.

Mais do que boa educação dizer obrigado é sinónimo de boa saúde

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