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Histórias de velhos de VFX que deveriam servir de exemplo aos novos
Alunos da Universidade Sénior de VFX

Histórias de velhos de VFX que deveriam servir de exemplo aos novos

A Universidade Sénior de Vila Franca de Xira comemora 15 anos de vida e tem mais de meio milhar de alunos. O MIRANTE conta neste texto a história de um casal e de uma maestrina que é um exemplo de amor à vida e à colectividade.

Grupo Danças e Cantares da Universidade Sénior de VFX
José Maria e Maria Deolinda Charrinho


No dia 17 de Janeiro a Universidade Sénior de Vila Franca de Xira comemorou o seu 15º aniversário com a realização de uma gala que levou ao Pavilhão do Cevadeiro mais de duas centenas de pessoas. A iniciativa contou com a presença de Alberto Mesquita, presidente do município, e Maria da Luz Rosinha, deputada na Assembleia da República e presidente da Câmara de Vila Franca de Xira à altura da fundação da instituição. Rosinha não poupou elogios ao trabalho que a universidade tem realizado em prol da população idosa do concelho, dizendo que é uma escola de amor e aprendizagens. Palavras que surgiram depois de receber uma lembrança entregue por dois alunos da universidade.
Alberto Mesquita congratulou a Universidade Sénior e anunciou que vai criar pólos noutras localidades do concelho para dar resposta aos pedidos que continuam a existir. A instituição, durante estes 15 anos, aumentou em cerca de quatro centenas o número de alunos.
Considerada instituição de excelência pela RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade), Alberto Mesquita reforça os valores da instituição afirmando que “o segredo da vida é viver e saber viver e na Universidade Sénior isso faz-se de forma irrepreensível”.

O desafio da conquista de novas aprendizagens
José Maria e Maria Deolinda Charrinho têm 70 anos e pertencem à família da Universidade Sénior há cerca de cinco, altura em que se aposentaram. Casados há 46 anos, estavam sentados no sofá “a olhar para o boneco” quando decidiram que tinham de embarcar num desafio conjunto e conquistar novas aprendizagens.
Depois de passar seis anos na Força Aérea, José Charrinho regressou à sua terra para exercer a profissão de moleiro. Com o avanço da indústria e da tecnologia foi obrigado a ir trabalhar para uma grande empresa de moagem de cereais do concelho. A partir daí o trabalho foi perdendo o encanto, a ponto de começar a sentir-se um operário fabril em vez de um moleiro de profissão e paixão.
Na Universidade Sénior há disciplinas para todos os gostos. Maria Deolinda, desde que entrou para a instituição, aprendeu a falar inglês, a fazer bordados, pinturas em tecido e trabalhos em lã. José Charrinho, aprendeu a tocar cavaquinho embora nunca tivesse experimentado um instrumento musical. Assume que não é nenhum génio a tocar o instrumento e diz que o objectivo é lutar contra os traumas da velhice.
José Charrinho e Maria Deolinda não escondem que têm viajado muito nos últimos anos e, provocados pelo repórter de O MIRANTE, contam que o sexo já não é como dantes, mas que o amor, amizade e companheirismo são maiores.

Josefa Morais Soares

A professora dos afectos e a enorme vontade de viver

Josefa Morais Soares, 74 anos, é natural de Chaves, mas vive em Vila Franca de Xira há mais de duas décadas. Foi professora de 12º ano das disciplinas de Psicologia e Filosofia, em Alverca, e depois de se ter reformado foi para a Universidade Sénior para continuar com a missão de ensinar.
Há cerca de dois anos a professora Josefa, apaixonada por literatura e música, fundou um grupo com o nome de Danças e Cantares da Universidade Sénior de Vila Franca de Xira, onde desempenha o papel de maestro. O conjunto é composto por 50 alunos, vindos de todo o concelho. Participam em eventos solidários, feiras medievais e todos os anos cantam as Janeiras ao executivo municipal.
Todos os alunos falam da professora Josefa com carinho e admiração. A razão está na forma como são tratados. “Trato-os mesmo por velhos porque é aquilo que nós somos e temos orgulho nisso”, afirma. Enquanto o jornalista falava com Josefa Morais Soares, ao lado dançava Francisca, que, com 84 anos, tem a energia de uma adolescente.
Os homens e as mulheres estão bem distribuídos no Danças e Cantares. Segundo Josefa Morais, metade vai para o inferno (homens) e metade são santas (mulheres). É assim que o grupo se diferencia. Os 50 elementos do grupo estão a viver uma segunda adolescência, com ela própria incluída. E se algumas vezes acontecesse ter um aluno seu a ligar-lhe para casa para a namorar? “Nunca tive paciência para aturar homens. Nasci solteira e vou morrer solteira”, diz em jeito de brincadeira.
A Universidade Sénior dá vida à professora Josefa, mas o caminho da vida por vezes tem curvas inesperadas. Há cerca de dois anos foi-lhe diagnosticado um cancro nos pulmões e recebeu a notícia de que ia ter apenas mais uns meses de vida. Depois de muitas sessões de quimioterapia o cancro estagnou tendo-se reactivado há uns meses.
Na altura da conversa com O MIRANTE (cantar das Janeiras em VFX) desabafava que estava de rastos, mas que a sua vontade de viver e de ver os outros a viver são o que a faz continuar a travar as batalhas da vida de peito para fora, cabeça levantada e a olhar em frente.

Histórias de velhos de VFX que deveriam servir de exemplo aos novos

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