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Porque não podemos chamar a protecção civil a casa quando temos melgas no quarto?

Benfazejo Serafim das Neves

Acabo de chegar de um pinhalzito aqui ao pé de casa onde fui ver se havia correio. Desde que soube que em Abrançalha, Abrantes, foram encontradas carradas de cartas no meio do campo, é naquele pinhal, entre arbustos e atrás das fragas, que vou procurar as cartas que estão mais demoradas, principalmente as das contas de água, luz, finanças e do Serviço Nacional de Saúde a adiar consultas, que são as que mais recebo.
Se ao fim de duas ou três semanas não estiverem lá nem na horta do meu vizinho, faço uma ronda por baixo dos viadutos da auto-estrada mais próximos. Há quem reclame dos correios mas eu não. Se queres que te diga acho este método de distribuição de correspondência ecológico e incentivador da vida saudável. Assim, sempre saio de casa, apanho ar e dou a minha caminhada.
No tempo em que os animais falavam, quando os correios não eram do Estado, havia carteiros que, nos dias em que achavam que já chegava de más notícias e de contas para pagar, usavam as cartas por distribuir, para acender a lareira, nomeadamente no Inverno. Esta nova situação prova que alguns dos novos carteiros, chamemos-lhe assim, trouxeram consigo métodos mais modernos e seguros. Basta lembrar que agora. por causa dos incêndios, não se pode fazer lume, nem sequer para acender um cigarro. Por falar em cigarros, à boleia da transmissão do vírus já há locais onde é proibido fumar. Vais ver que o grande herói das campanhas anti-tabaco ainda vai ser o Covid-19.
Estas novas proibições encantam-me. E só não me encantam mais porque tenho medo que um dia destes apareça algum especialista a dizer que o vírus se transmite através cerveja, do marisco, do presunto ou dos vinhos reserva e premium?! Já agora, também não gosto de ter de me afastar das mulheres bonitas com quem me cruzo como se elas tivessem lepra.
As câmaras municipais e o governo têm aproveitado a pandemia para se meterem cada vez mais na nossa vida e dizerem-nos o que fazer ou não fazer. Já antes havia presidentes de câmara, ministros, secretários estado, polícias e chefes de finanças zelosos, que tentavam saber tudo e mais alguma coisa a nosso respeito mas agora a disponibilidade é tanta que chega a ser comovente. E as milícias dos bons costumes estão activas, tanto nas redes sociais como a telefonar para nos sinalizarem, como se diz agora, junto de quem acham que nos pode ajudar.
Fazem-no, porque olham para nós e não acreditam que sejamos capazes de fazer alguma coisa com jeito. Agem pelo puro prazer de ajudar. Sem segundas intenções, dizem... e eu acredito.
Andam a contar quantas pessoas estão nos convívios de família e medir a que distância costumamos passar uns dos outros. Andam a verificar se a nossa máscara é das certificadas ou das contrafeitas. Rapaziada vigilante e activa, como soe dizer-se. Daquela que, se pudesse, até metia uma câmara de vídeo vigilância no quarto dos vizinhos para saber se eles fazem sexo meigo ou à bruta, se dizem palavras eruditas ou palavrões e se usam máscara quando estão a ver televisão em cuecas. Tudo com intenção de ajudar, claro!
O bom povo gosta disto. Crescem umas ervinhas no passeio e telefona logo para as televisões a pedir uma grande reportagem. Se calha o cãozito assustar-se com a passagem de alguém, liga para a senhora câmara a pedir protecção. Se o miúdo vem da escola com piolhos, chama a protecção civil. Há até quem defenda que o Estado nos mate moscas, melgas e formigas. E não sei mesmo se não há já pessoas a reclamar a presença de ministros e secretário de Estado em casa porque se sentem sozinhas. E quem as pode criticar tal coisa. Não é para isso que pagamos impostos??!!
Saudações libertárias
Manuel Serra d’Aire

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