“Não vou guardar inaugurações para a véspera das eleições”
Filipe Santana Dias está há um ano em funções como presidente da Câmara de Rio Maior, após ter substituído Isaura Morais, que foi eleita deputada à Assembleia da República. A recandidatura ao cargo é certa e não deve haver grandes mexidas na equipa que o acompanha. O autarca diz que não vai guardar inaugurações para perto das eleições, mas também não vai deixar de fazer obras só porque se aproximam as autárquicas.
É presidente da Câmara de Rio Maior há sensivelmente um ano. Tem dormido pior desde essa altura?
Tenho dormido sempre tranquilo, embora menos horas. É aquela luta de chegarmos ao final de cada dia e pensar que fizemos tudo o que tínhamos para fazer. Nunca conseguimos ter a missão concluída, porque almejamos sempre mais.
Não houve grandes diferenças em relação ao nível de responsabilidade que já punha no seu trabalho?
Chefiar a equipa é sempre diferente do que secundar quem chefia. Exige-nos mais responsabilidade e outro tipo de atenção. Mas a minha vida não mudou muito relativamente ao que era quando estava vice-presidente de câmara. Foi adaptar-me, adaptar os serviços à nossa forma de trabalhar e seguir a rolar, porque Rio Maior está embalado.
Não roubou mais tempo à família?
Já era muito pouco o tempo que passava em casa, ia só praticamente para dormir, e mantém-se essa situação.
Como está a ser gerir a autarquia neste contexto de pandemia que virou o mundo do avesso?
É um misto de sentimentos. Está a ser uma gestão difícil, como em todo o país e em todo o mundo, mas também é muito gratificante. Porque é precisamente nestes momentos que percebemos a falta que as autarquias fazem às pessoas. Tivemos que puxar para nós responsabilidades que não eram dos municípios, substituindo-nos muitas vezes ao Estado central para apoiar famílias e instituições diversas.
Isso significa que as contas da câmara vão levar um grande rombo relativamente a anos anteriores.
Vão levar um rombo, embora Rio Maior tenha a sorte, salvo seja, de ter contas certas graças a um trabalho continuado. Isso faz com que consigamos encaixar os custos de combate a esta pandemia com algum conforto, sem prejudicar em nada os nossos prazos médios de pagamento nem os nossos compromissos e sem deixar faltar nada à população. Em termos directos e indirectos, os custos com esta pandemia já rondarão os 200 mil euros.
2021 é ano de eleições autárquicas. Que inaugurações já tem preparadas para os eleitores?
Essa pergunta tem rasteira e eu vou responder-lhe como merece. Acredito pouco nas inaugurações em ano de eleições, como também não acredito que se deva ter medo de fazer obra em ano de eleições. Se a obra for continuada, o eleitor não sente que está a ser manipulado por causa das eleições. Desde que estou presidente iniciámos uma série de melhorias em Rio Maior, na rede viária, principalmente aquela obra de proximidade, como tapar o buraco na estrada que todos os dias nos apoquenta...
Mas há obras mais emblemáticas em curso, como a requalificação da zona ribeirinha e da villa romana, para inaugurar antes das autárquicas.
Espero até conseguir o grosso das inaugurações ainda este ano ou no início de 2021. O compromisso que tenho é não empatar obras a pensar no timing da sua inauguração. Como achamos que essas obras fazem muita falta à qualidade de vida em Rio Maior queremos pô-las ao dispor da população quanto antes. Não vou guardar inaugurações para véspera de eleições.
Já anda a pensar na composição da lista que vai liderar nas autárquicas de 2021?
Primeiro ponto: tenho mais um ano de mandato e a gestão da câmara municipal consome toda a atenção, dedicação e tempo que eu tenha. Obviamente, também não sou ingénuo ao ponto de não começar a projectar esse futuro. A equipa que tenho na câmara municipal de Rio Maior trabalha muito bem. É uma equipa relativamente jovem e muito dinâmica e é com estes que conto.
Vai seguir a máxima que diz que em equipa que ganha não se mexe?
Provavelmente em grande parte acontecerá assim, para não dizer na sua totalidade.
Com excepção da vereadora do CDS Ana Figueiredo, que deixou de ter pelouros?
Sim, deixou de ter pelouros e neste momento não faz parte do núcleo duro de trabalho. Mas é uma vereadora que tem cumprido connosco e feito as suas votações em consciência, numa relação perfeitamente transparente e normal.
A coligação entre PSD e CDS é para manter?
As coligações devem existir sempre que forem virtuosas para o que se propõem fazer. A equipa que está na câmara está em coligação. A minha opinião é que está a trabalhar bem e a manterem-se estes pressupostos é perfeitamente possível pensarmos nessa continuidade.
Vem aí muito dinheiro da União Europeia. Espera que chegue algum a Rio Maior?
Espero não, precisamos dele como de pão para a boca. Há uma série de investimentos que queremos fazer, como a dinamização da nossa área empresarial, continuar a trabalhar na atractividade do concelho para as empresas, e isso exige algum esforço. Estamos numa fase em que a área de localização empresarial está a ter uma procura muito fora do normal. Fizemos um trabalho importante de procura continuada de investimento e praticamente todas as semanas têm surgido investidores interessados.
Mas daí até as empresas se instalarem ainda vai um bocado...
É verdade. Mas nos últimos dois meses fechámos dois bons contratos, com uma empresa de colas industriais e com uma empresa da área das energias renováveis. Temos negócio praticamente fechado com mais um investidor riomaiorense e há mais duas ou três empresas a quererem instalar-se ali. Ou seja, voltando aos fundos europeus, grande parte do que precisamos é para infraestruturar a nova zona empresarial.
Como está o processo de instalação da fábrica de embalamento de medicamentos?
A ânsia de termos essa empresa a laborar em Rio Maior é muito grande. Temos contactos quase todas as semanas com a Generis. Temos informação de que até final do ano haverá o arranque de obra.
E as há muito faladas obras de requalificação da EN114 entre o parque de negócios e a cidade são para quando?
Essa é uma pedra que trazemos no sapato. Falo frequentemente com o diretor da Infraestruturas de Portugal em Santarém, que nos diz que tem o projecto em vias de conclusão. O que é certo é que andamos há tempo de mais à espera desta intervenção, fulcral para Rio Maior, dada a quantidade de trânsito que a estrada tem e a sua perigosidade.
É uma promessa do Governo que tarda em ser cumprida.
Já devo ter assistido a umas três ou quatro apresentações desse projecto. E projecto que muito se apresenta e pouco se conclui a mim causa alguma urticária. Não obstante, ainda com o executivo chefiado pela Isaura Morais, tivemos oportunidade de ir a quem de direito e dizer que desclassificassem a estrada que nós fazíamos a obra. Não nos foi dada essa possibilidade.
A administração central está a empatar o processo?
Com a equipa projectista temos tido uma relação fantástica. O que está a faltar é a decisão política para inclusão desta obra em orçamento. Em 2016, enquanto presidente de junta, fui ao Entroncamento à apresentação deste projecto pelo primeiro-ministro e até agora não se viu nada no terreno.
A pandemia tirou-nos confiança
A pandemia veio estragar-lhe as férias? Teve de mudar de planos?
Férias, desde que ando nesta vida há 12 anos, é algo que com muita dificuldade vou tendo aqui e acolá. Este ano tive oportunidade de estar seis dias em Junho com a minha família fora de Rio Maior, antes do período crítico de incêndios. E já avisei lá em casa que férias a sério, provavelmente, só em 2022, porque este ano temos a pandemia e 2021 é um ano eleitoral, que nos tira muito tempo para a campanha. Isto não é uma luta só do autarca, a família sofre muito com esta briga.
Em termos pessoais, como tem lidado com esta nova realidade? O que mudou de mais significativo na sua vida?
A câmara municipal nunca parou. A nossa azáfama diária não sofreu grandes alterações. O que noto na minha vida pessoal e também na população é a falta de confiança, ainda que Rio Maior seja neste momento um destino seguro. Depois da pandemia temos três grandes desafios, o económico, o social e o que contribui para que esses outros dois se resolvam, que é o de as pessoas voltarem a ter confiança para participar activamente na vida do país.
O turismo é uma das prioridades de Rio Maior mas a capacidade de alojamento no concelho é reconhecidamente escassa e limitativa do desenvolvimento do sector. O que é que o município pode fazer?
Este tempo de pandemia alertou muita gente para a necessidade de trabalhar em equipa e conseguimos dinamizar o turismo em Rio Maior. Fizemos um sem-fim de acções. O mais importante que conseguimos foi chamar à discussão todos os agentes turísticos do concelho. Este sector definiu um modus operandi em conjunto com o município que permitiu delinear estratégias para cativar públicos. E isso está a resultar na perfeição. Depois fizemos uma série de campanhas de publicidade, promovemos também a partilha de serviços do município com o sector para divulgação de empreendimentos. Temos uma quantidade de alojamentos locais de que as pessoas não têm conhecimento...
Que se traduz em que números?
Temos 240 camas em alojamentos locais no concelho, o que acaba por ser um número engraçado. Pelas informações que tive, até final de Setembro está tudo completamente cheio. Estou muito confiante que, em termos de resultados, esta pandemia vai dar um impulso positivo ao concelho.
Quanto a unidades hoteleiras de maiores dimensões, há algum projecto em vista?
Essa tem sido a nossa luta quanto a dormidas. Rio Maior precisaria de uma unidade hoteleira de maiores dimensões, para além dos dois hotéis que temos. Até porque Rio Maior tem condições, em termos de infra-estruturas, para organizar vários tipos de eventos e depois temos esta limitação de não haver 200 quartos disponíveis para alojar as pessoas na cidade. Não temos em carteira nenhum projecto, embora já tenham aparecido dois ou três interessados em investir. Aproveitava esta entrevista para lançar o desafio, pois o município cá estará para receber o possível investidor.
Que mensagem gostava de deixar à população do concelho de Rio Maior?
A câmara municipal hoje tem uma visão ligeiramente diferente da que teve desde sempre. Uma das questões que nós, município, nos fomos esquecendo foi da obra de proximidade. Os investimentos que estão a ser feitos são virados para a qualidade de vida das pessoas.
Isso é reconhecer algumas lacunas face à situação anterior.
Nem toda a gente percebeu isto, mas a Câmara de Rio Maior estava numa situação financeira muitíssimo difícil em 2009, com uma dívida acumulada de 26 milhões de euros que impossibilitava qualquer autarca de poder olhar para o seu concelho e dizer: “eu quero ter Rio Maior neste ponto daqui a alguns anos”. Quem me antecedeu teve a coragem e a capacidade de corrigir erros do passado e permitir que hoje tenha tido a sorte de herdar um município com as contas certas. Rio Maior tem grandes investimentos para fazer mas também tem a obra de proximidade que não quer descurar. Enquanto munícipe nunca posso perceber que façamos grandes mausoléus quando o buraco na estrada não está resolvido, quando não tenho água ou saneamento em casa.
Continua zangado com a empresa que abastece o concelho de água?
Continuo zangado com quem abastece e continuarei sempre zangado neste ponto com quem tomou a decisão de concessionar as águas de Rio Maior a terceiros. Acho que Rio Maior nunca perdoará a quem alienou a terceiros um serviço tão básico e essencial como é a água. É uma zanga que acho que vou morrer com ela.
Mercado da Cebola substitui FRIMOR em tempo de pandemia
Este ano não vai haver FRIMOR – Feira Nacional da Cebola nos moldes em que habitualmente se realizava. Mas para a data habitual, primeiro fim-de-semana de Setembro, está a ser preparado um programa alternativo designado Mercado da Cebola. Será ao ar livre, de 4 a 6 de Setembro, na zona envolvente ao pavilhão multiusos.
“O foco principal será obviamente a venda de cebola, mas vamos iniciar uma pequena recriação histórica das profissões de outrora que povoavam Rio Maior nesta altura. Vamos ter também uma zona de comes e bebes. Será uma pequena feira que dignifique Rio Maior e que possa proporcionar uma visita relativamente rápida, para não haver grandes aglomerações de pessoas”, explica Filipe Santana Dias.