“Quem tem medo que fique em casa”
No 13 de Agosto, muitos peregrinos foram “matar saudades” de Fátima e renovar a sua devoção a Nossa Senhora.
Estiveram meses fechados em casa por causa da pandemia, mas com o desconfinamento muitos idosos voltam agora pela primeira vez a Fátima, para matar saudades de um sítio onde regressam quase todos os anos. Hermínio Braz, de 82 anos, Maria da Conceição, de 80 anos, e Conceição Rodrigues, de 77 anos, sentam-se à sombra, no recinto do santuário, já com “o camarote” montado para a procissão das velas.
Os “três amigos da vida airada” vieram de Soure, de comboio, sendo a primeira vez em Fátima após o início da pandemia, conta à agência Lusa Maria da Conceição. Apesar da idade, no pequeno grupo não há receios. “Tanto se apanha aqui como em casa”, dizem, salientando as saudades que já tinham de estar na Cova da Iria.
Pedro Pisco, de 39 anos, acerta o telemóvel para uma ‘selfie’ com a mãe e a sua prima, tendo o Santuário de Fátima ao fundo, ainda sem as enchentes de outros anos. Quando se pergunta aos três de Macedo de Cavaleiros porque estão ali, num contexto de pandemia, Pedro atira, sem hesitações: “Porque não?”. “A gente já tinha saudades de vir cá. Parece que aqui o tempo não passa”, acrescentou Isabel Silva, de 71 anos, mãe de Pedro.
De Santa Maria da Feira, Henrique Ferreira, de 70 anos, e Lara Amorim, de 68 anos, têm por hábito vir mais do que uma vez por ano até Fátima. Ficam até domingo, para “recarregar energias”, contou Henrique Ferreira, sublinhando que, no santuário, “até parece que nasce outra alma”. Também para este casal, há confiança em regressar ao santuário num contexto de pandemia, depois de meses em casa.
Na Cova da Iria, Lara vai agradecer “por tudo” e quando questionada sobre se iria também fazer algum pedido relacionado com a Covid-19, disse que não. “A gente para pedir que a pandemia passe, pode pedir a rezar em casa”, frisou.
António e Odete Rosa, casal acima dos 70 anos, também regressam agora a Fátima, onde vão umas três a quatro vezes por ano. No santuário, mais do que a pandemia, no pensamento dos dois estão os efeitos colaterais. “Foram momentos muito difíceis. Estivemos fechados e perdemos um filho recentemente e foi muito difícil fazer o luto no confinamento, com o cemitério fechado”, disse Odete Rosa, procurando “repor as forças” em Fátima.
Serafim Silva e Maria Rosa Marques também vêm matar saudades - “muitas saudades”, frisam. “Mal cheguei foi deixar as malas lá no sítio onde vamos dormir e seguimos logo para aqui ver a Nossa Senhora. Fui depois comprar um raminho, vamos agora deixá-lo na estátua do João II, depois ainda vou ao Santíssimo e só depois descanso um bocadinho”, conta Maria Rosa, de 75 anos.
Mesmo a recuperar de uma lesão no joelho, nada a demoveu de voltar, muito menos a pandemia. “Não acho que seja um risco. Se todos cumprirmos as regras, não há problema. Tanto me faz morrer em Fátima como no caminho. Há quem diga que tem medo. Quem tem medo que fique em casa”, vincou a peregrina de Gondomar, salientando que, depois de tantos meses fechada em casa, sair até Fátima é até “um alívio para a cabeça”.
Como medida preventiva para andar no recinto, usam uma máscara com a imagem da Nossa Senhora de Fátima, impressa por um sobrinho. “Assim, estamos protegidos a dobrar, pela máscara e pela Nossa Senhora”, dizem a sorrir.