uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Três jovens ilusionistas da região a fazer truques sozinhos em frente ao computador

O Dia Mundial do Mágico celebrou-se a 31 de Janeiro e este ano não houve espectáculos de magia ao vivo para celebrar a data. Em Santarém, os ilusionistas Adrien Lochon e Rafael Titonellty contam que têm sido forçados a trabalhar na Internet. Em Vialonga, Rúben Clara, que usa como nome artístico The Jocker, diz que a pandemia deu-lhe tempo para criar novos truques, fazer novas amizades e aprimorar os seus talentos.

Rúben Clara é de Vialonga e um mágico que se alimenta da emoção do público

O mágico é um altruísta que tira a magia de si para dar aos outros

Na arte do baralhar e voltar a dar o mágico é um actor, um cientista que prova que não há impossíveis e um altruísta, que abdica dos segredos da magia para a poder dar aos outros e provocar-lhes admiração. A convicção é de Rúben Clara, mágico de Vialonga, também conhecido como The Jocker.
Aos 27 anos, Rúben vive apenas da magia e nos últimos anos tem dado que falar com espectáculos que têm tido cada vez mais público. Um dos últimos aconteceu precisamente em Vialonga, em Janeiro do ano passado, na Galeria de Arte Olga Campos, onde mostrou alguns dos seus truques à comunidade. Depois a pandemia atirou-o novamente para casa.
O seu nome profissional deriva da carta com o mesmo nome, que significa trabalhar para os dois lados. “Como gosto de várias actividades ao mesmo tempo é como se na magia fosse diversas pessoas, daí o nome Jocker”, conta a O MIRANTE.
Gosta de viver em Vialonga, terra que diz ser simpática e onde muita gente o conhece desde criança. Muitos mágicos começam desde pequenos a treinar a arte mas Rúben começou tarde, há apenas sete anos e por sua conta e risco. Apaixonou-se ao ver os truques de outros mágicos e um dia no programa de teatro da câmara municipal onde estava inserido, os Aprendizes do Fingir, pediu aos amigos para o acorrentarem com um dos adereços que ali havia. Soltou-se sempre, para espanto de todos.
“Houve um que me chamou exorcista”, recorda com um sorriso. Autodidacta, aprendeu tudo sozinho através de tentativa e erro lendo livros sobre o tema e vendo vídeos de magia. “A magia não é só descobrir a carta, é muito mais do que isso, é a ligação com o público. Não gosto de usar a palavra truque mas sim efeito porque o truque dá a entender que o que fazemos não é real mas isso não é verdade. Tudo o que fazemos é muito real”, assegura.
Os segredos do seu trabalho continuam bem escondidos. Mas garante que o essencial tem a ver com criatividade; empatia com os espectadores e conhecimentos de Matemática e Física.
Acorrentar-se e soltar-se é para ele dos truques mais fáceis de realizar. “Aprimorei e fui sempre melhorando. No mundo da magia é dos efeitos mais difíceis mas depende da forma como é feito”, garante. Setenta por cento da sua magia é feita com cartas. “Foi a primeira ferramenta que comecei a usar. Não foram lenços, esponjas ou bolas. Com cartas consigo fazer muitas coisas”, explica.
Rúben vive com os pais porque os tempos de pandemia não têm sido fáceis. Ainda assim diz que a paragem foi importante para os mágicos aprimorarem conhecimentos e treinarem novos truques. “Aprendi mais o ano passado que em toda a minha vida de mágico”, conta.
Para realçar a importância do público, conta um episódio. “Um dia estava no autocarro e as pessoas de Vialonga que me conheciam desafiaram-me a fazer alguns truques, mesmo ali. Acedi e houve reacção entusiasmada do público. Essa é a nossa maior magia. A história dos mágicos é quase um conto de fadas e gostava que as pessoas conhecessem isso”, refere. Entre os seus mágicos de eleição estão nomes como René Lavant, David Copperfield ou Leonard Green.

Adrien Lochon só começou a fazer espectáculos de magia quando fui estudar para Lisboa

Para Adrien Lochon só há verdadeira magia com público ao vivo

De pé, na sala de casa onde costuma dar asas à criatividade, Adrien Lochon mostra-nos uma folha de papel em branco dobrada que retira da sua carteira de documentos. Dessa folha branca começa a mostrar notas de cinco euros, dez, vinte e cinquenta euros. “Aqui a pessoa já percebeu que estou a fazer um truque e pede-me para fazer uma nota de cem euros. Aí aproveito e volto a mostrar a folha em branco, já sem o valor das notas”, conta sorridente enquanto faz o seu mais recente truque de magia para O MIRANTE.
Adrien Lochon, 34 anos, é informático e a magia é a sua grande paixão dos tempos livres. Com a pandemia os espectáculos ao vivo terminaram e o mágico de Casével, concelho de Santarém, teve que se reinventar. Deu alguns espectáculos através da plataforma digital Zoom e um directo na rede social Instagram mas confessa não ser a mesma coisa.
“Peço às pessoas para irem buscar as coisas e digo para elas fazerem mas não é a mesma coisa. Falta a presença, o contacto. No Zoom é tudo muito impessoal e não há interacção, o que é fundamental na magia. Ainda não consegui arranjar uma fórmula que capte a essência do espectáculo ao vivo. É estranho estar sozinho a falar para um computador”, lamenta.
Adrien Lochon é filho de mãe portuguesa e pai francês. Nasceu e viveu nos arredores de Paris até aos seis anos. Desde criança que ficava fascinado quando assistia a espectáculos de magia. Uma cassete de vídeo caseira, gravada durante a festa de baptizado de um primo, mostra o encanto de Adrien a olhar para o mágico que tinha à sua frente e como fazia aparecer e desaparecer coisas. Quando veio para Portugal foi assistir a um espectáculo de Luís de Matos, o mais conhecido ilusionista português, e vibrou assim que foi escolhido para ir ao palco participar num dos truques.
O programador informático lamenta que a resolução de muitos dos truques de magia estejam disponíveis na internet. Para Adrien Lochon isso tira todo o encanto e desvirtua a experiência com espectador. Além disso, explica, nem todas as respostas que estão na internet são verdadeiras. “Se no final do espectáculo me perguntam qual o segredo de algum truque sinto que não fiz tudo como deveria ter feito. O objectivo é tornar os truques grandiosos e que a pessoa se deixe encantar em vez de querer saber como se faz”, afirma.
Apesar da paixão por magia Adrien Lochon só começou a praticar quando foi estudar para Lisboa. Conheceu outros mágicos e frequentava lojas de ilusionismo. Sempre que tem tempo livre aproveita para criar novos truques de magia. Confessa que inventa muitos que ficam pelo caminho por não funcionarem. Não é impossível mas Adrien admite ser muito difícil viver só da magia em Portugal.

Rafael Titonelly deslumbrou-se pelos truques de magia aos 9 anos num ida ao circo

Rafael Titonelly montou palco na Internet e alia a magia ao humor

Até parece mentira que Rafael Titonelly consiga abrir um baralho de cartas alinhadas na vertical sem que nenhuma caia ao chão. Um truque simples, mas que como qualquer outro tem segredos que um mágico não pode revelar, para continuar a cativar o seu público. “Já basta quando se erra, o que acontece a todos os mágicos, mesmo que nunca o admitam”, começa por dizer a O MIRANTE o mágico residente em Santarém.
Natural de Minas Gerais, Brasil, Rafael Titonelly junta a magia e a comédia num só espectáculo, sendo capaz de provocar as gargalhadas do público. O motivo para o fazer? “Dava tudo errado. Começava a fazer o espectáculo e o público ria de mim. Então decidi juntar a comédia à minha magia”, explica o mágico que conquistou o público português num programa de talentos da RTP.
Rafael Titonelly vive exclusivamente da magia. Trabalha sobretudo para empresas que querem entreter os seus funcionários ou passar uma mensagem aos seus clientes, mas também é um homem do palco. Os tempos de pandemia, confessa, não têm sido fáceis, mas tal como muitos artistas transformou a internet na sua sala de espectáculos.
Conta que já fez espectáculos ou participou em festivais numa dúzia de países. Quando chegou a Portugal pensou abandonar a profissão e dedicar-se ao ramo da restauração mas desistiu. Explica que o vício da magia que o acompanha desde a infância foi mais forte.
Aos nove anos deixou-se deslumbrar pelos truques de um mágico numa ida ao circo. “Foi aí, nesse momento, que a magia mudou a minha vida. Comprei um livro que ensinava 10 truques de magia e comecei a praticar”, diz, sublinhando que naquele tempo era “tão pobre que as roupas costuradas pela avó”, dois tamanhos acima lhe arruinavam os truques permitindo aos pombos escaparem das mangas do casaco antes do tempo. Aprendeu sozinho tudo o que sabe, centenas de truques inventados por outros, mas que adaptou ao seu estilo de fazer magia. Diz a brincar que só lhe falta fazer desaparecer a pandemia.

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido