Sociedade | 28-09-2023 10:02

Idade é um dos motivos de maior descriminação na União Europeia

Idade é um dos motivos de maior descriminação na União Europeia

Debate sobre Transições de vida em pessoas com mais de 50 anos e que atingem a idade da reforma ou são dispensadas antes disso. Constituição da República Portuguesa não deixa descriminar pessoas em razão do sexo e da religião, mas permite em questões de idade, que é também é uma das razões de maior descriminação na União Europeia. Reforma compulsiva em Portugal é tão ou mais violenta que um despedimento.

A Constituição Portuguesa no seu artigo 13 diz que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual; “falta a idade, ninguém pode ser discriminado por ser mais ou menos velho, aliás já não há velhos, a idade comanda-nos mas não devia; A discriminação é enorme”; a voz autorizada e revoltada com a situação é a de Maria João Valente Rosa, Socióloga e Demógrafa, autora, Professora universitária, que no dia 21 foi uma das que participou numa mesa redonda promovida pela InTransitus, representada pela moderadora, Maria Ana Botelho Neves, Professional Activator. Rita Cunha, André Moreira e Vera Norte, completaram o painel que debateu o papel das transições de vida em pessoas com mais de 50 anos. O objetivo era mapear tendências e desafios emergentes.

Foi a primeira iniciativa pública da InTransitus e pode escrever-se que deu certo. Houve mobilização tanto na parte dos oradores como na parte da plateia, onde compareceram responsáveis de outras instituições e pessoas que procuravam saber mais sobre a iniciativa e a organização.

Maria João Valente Rosa abriu a conversa e não foi meiga com os políticos que parecem desinteressados dos problemas das pessoas mais velhas, dando como exemplo a questão da reforma obrigatória aos 70 anos, “a discriminação pela idade e o facto de estar a ser ignorado que vivemos numa sociedade de vidas longas, mas aparentemente os jovens não têm noção que um dia também vão ter 50 e 60 anos, e por enquanto este assunto ainda não dá voto aos políticos”, referiu de forma insistente e convicta.

André Moreira é diretor de operações e parcerias, Movimento 55+, Movimento e Plataforma 55+, que trabalha no mercado com mão de obra oferecida exatamente por pessoas que se reformaram e não querem ficar paradas. André contou vários episódios que demonstram as dificuldades que existem para as pessoas que querem ser úteis, mas também para aqueles que precisam de mão de obra e ainda gostam de recrutar pondo a idade como um motivo de escolha. André tem 34 anos, era de longe o mais novo de todos os participantes, e contou que tirou a carta de condução ao mesmo tempo que a sua avó, e frequentou a universidade ao mesmo tempo que o pai; Os exemplos serviram para contar que tem consciência que vive numa sociedade cada vez mais mudada e diferenciada, e que não faz sentido discriminar as pessoas por serem mais velhas.

A idade cronológica só está a atrapalhar, avançou a moderadora em forma de provocação, procurando obter de cada participante a sua melhor avaliação sobre o assunto em discussão; Vera Norte, Assessora Comunicação e Empresas da Associação dNovo, que também mobiliza pessoas em transição para o mercado de trabalho, contou a sua história pessoal e exemplificou: “ quando me perguntam a idade digo que tenho um filho com 31 anos”. Depois contou que no seu tempo a maioria das mulheres não iam para as fábricas, mas ela foi tirar um curso e acabou em engenharia química; depois contrariando tudo o que era norma, que era as mulheres não saírem de casa, emigrou para a Dinamarca e fez lá boa parte da sua carreira profissional. Sobre o papel da sua associação diz que há muito caminho para fazer e que a InTransitus pode ajudar nessa caminhada já que a Transição não é só uma questão de idade, é também de mentalidade.


A educação tem um efeito mais diferenciador do que a nossa idade. Apenas cerca de trinta por cento do nosso envelhecimento é genético, o resto depende do nosso comportamento social.


“Todos se indignam quando são vítimas de despedimento mas a reforma compulsiva não deixa de ser também uma violência, e nos nossos dias pode ser considerada uma forma de violência tão grande ou ainda maior que a de um despedimento.


Rita Cunha, Professora catedrática de Gestão de Recursos Humanos já tinha dado o mote mas mais tarde constatou a situação que marcou o debate; “Todos se indignam quando são vítimas de despedimento, ou sabem de alguém que sofreu essa situação traumática, mas a reforma compulsiva não deixa de ser também uma violência, e nos nossos dias pode ser considerada uma forma de violência tão grande ou ainda maior que a de um despedimento, porque a pessoas que sofrem essa situação não têm quem as apoie, está instituído que são é uma carta fora do baralho, e mesmo que não sejam é assim que são vistas”, disse.

“As gerações vivem separadamente e as próprias sociedades, ou os seus representantes, organizam assim a nossa vida colectiva; esse é o mal. A educação tem um efeito mais diferenciador do que a nossa idade. Apenas cerca de trinta por cento do nosso envelhecimento é genético, o resto depende do nosso comportamento social, e pouca gente quer saber disto, preferem ignorar porque dá trabalho ajustar políticas públicas e privadas, mas eu não desisto de falar destes assuntos para que na União Europeia a questão da idade deixe de vir à cabeça em todos os estudos sobre descriminação”, insistiu Maria João Valente Rosa, para concluir mais tarde que "é triste reconhecer mas em Portugal as políticas públicas promovem o isolacionismo geracional.

Maria Ana Botelho Neves voltou a provocar com a situação que ainda acontece muitas vezes de um profissional que vai para a reforma ao cortar a relação com o trabalho corta também o interesse pela vida; O assunto foi pretexto para contar episódios de pessoas que ainda hoje, depois de serem despedidas, continuam meses e meses a esconder da família essa realidade, até que um dia, já em grande sofrimento, são obrigadas a deixar cair a máscara da vergonha.

No final da mesa redonda houve ainda tempo para ouvir testemunhos de profissionais com mais de 50 anos que estavam na sala em situação de desempregados. O debate decorreu no espaço da Junta de Freguesia da Misericórdia, Espaço Santa Catarina, no Largo Dr. António de Sousa Macedo, em Lisboa, e a presidente da Junta de Freguesia, Carla Madeira, marcou presença para abrir a sessão.

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