Moradores da Aldeia do Peixe sentem-se esquecidos e exigem melhor aproveitamento dos recursos

Aldeia do Peixe é um dos lugares mais remotos do concelho de Benavente e os moradores sentem-se esquecidos pela autarquia. Populares exigem maior aproveitamento do rio e dinamização da aldeia.
O movimento na rua é pouco ou quase nulo na Aldeia do Peixe, um dos lugares mais isolados do concelho de Benavente. Banhado pelas águas do Sorraia e localizado quase no interior do concelho vizinho de Salvaterra de Magos, o local está isolado do restante concelho e o sentimento de esquecimento é comum na população. Carlos Ferreira cresceu e viveu durante os seus 83 anos na aldeia, na única rua onde todos os vizinhos se conhecem e muitos são até família. “Nasci e cresci nesta rua, quando casei mudei para esta casa”, afirma, apontando para a sua casa de infância, a escassos metros de onde reside. O morador admite que são cada vez construídas mais casas ao redor da aldeia, mas o bairro, que serve de coração da comunidade, mantém-se inalterável. Carlos Ferreira levou sempre uma vida tranquila e confessa que a serenidade de viver junto ao rio e ao campo é inigualável, aspecto que assume “estar bem como está”. No entanto, reconhece que é necessária uma maior atenção por parte da autarquia. “Só se lembram de nós em tempos de eleições”, lamenta.
A aldeia não dispõe de qualquer mercado, restaurante ou associação que dinamize o local, sendo inexistente a realização de qualquer evento durante todo o ano. Os vizinhos são quase como família e a partilha de laços familiares entre as moradias é comum. Sem um lugar fixo para conviver, é na rua que a comunidade se encontra ao final da tarde para “pôr a conversa em dia”. Rui Coutinho é outro morador que cresceu e viveu sempre na aldeia e partilha o mesmo sentimento de esquecimento e distância do poder local com a comunidade. “Na altura das cheias chegamos a ter alguns sustos com o nível que a água atinge, chegando perto das nossas casas”, revela, apontando o facto de ainda não ter sido feita qualquer limpeza à rua após as cheias anuais. O morador admite que o saneamento básico é a maior e praticamente única dependência que a população gostaria de ter assegurada por parte do município. “Podíamos também ter um maior aproveitamento do rio, existem muitas pessoas que passam aqui em passeios de mota ou bicicleta durante os fins-de-semana”, salienta, demonstrando o desejo para que o património natural da aldeia fosse mais bem aproveitado.
Uma aldeia de pescadores
A população da aldeia é quase na totalidade descendente de pescadores que ganhavam a vida nas águas do Sorraia. Com o passar dos anos e a dificuldade em viver deste sector, a prática da pesca tornou-se quase extinta naquela comunidade, existindo apenas quem ainda o faça por “carolice” de vez em quando. É o caso de João Ferreira, dono de um dos dois barcos que durante todo o ano balança nas águas do rio. Herdado do pai, o barco de madeira tem cerca de 40 anos, mas não é por isso que deixa de o estimar e renovar anualmente, garantindo a boa apresentação da “carcaça” vermelha, verde e preta. O habitante não consegue pescar com o barco tantas vezes quanto gostava, devido aos métodos que foram instaurados no rio para açudar a água. “Tornou-se impossível conseguir andar com o barco noutra altura sem ser durante as cheias”, afirma, lamentando a criação de uma cascata mesmo junto ao troço que atravessa a aldeia. A água do rio é utilizada para regar os vastos hectares agrícolas que à volta se encontram, sendo essa a sua maior utilidade na região.
João Ferreira trabalhou no ramo da construção civil durante praticamente toda a sua vida, mas a paixão pela pesca que também herdou do pai foi-se mantendo e admite mesmo que o rio tem um potencial a explorar junto à povoação. O habitante considera ainda que o facto do fundo do rio naquela zona ser maioritariamente areia acaba por dar outra qualidade ao peixe, especialmente à enguia. “Esta é uma das melhores zonas da nossa região para a pesca da enguia”, afirma. Entre os desejos que tem para impulsionar a aldeia, João Ferreira admite que gostava de ver concretizada a criação de uma pequena praia fluvial e de um parque de merendas junto à povoação, de modo a atrair mais visitantes. “Temos um potencial excelente e esta proximidade ao rio tem de ser mais valorizada”, remata.
