Cultura | 28-04-2025 21:00

Nuno Fernandes e Sandro Ferreira dão a conhecer os seus trabalhos na Fábrica das Artes em Tomar

Nuno Fernandes e Sandro Ferreira dão a conhecer os seus trabalhos na Fábrica das Artes em Tomar
Nuno Fernandes, criador de marionetas

A Fábrica das Artes, em Tomar, iniciou a quinta edição a 11 de Abril. O MIRANTE esteve presente na inauguração e conversou com dois artistas residentes.

O projecto artístico e cultural Fábrica das Artes regressou a Tomar para a sua quinta edição. Com foco na valorização da identidade local, o projecto abriu portas ao público no dia 11 de Abril, na antiga moagem A Portuguesa, situada no Complexo Cultural da Levada. A edição deste ano traz uma grande diversidade de expressões artísticas, distribuídas pelos diferentes pisos do edifício. O MIRANTE esteve presente na inauguração e conversou com Nuno Fernandes e Sandro Ferreira, dois artistas residentes.
Nuno Fernandes, 54 anos, trabalha com marionetas. Conta que desde muito cedo começou a fazer marionetas em casa, tendo aprendido sozinho, através de imagens que ia visualizando. “Quando tinha 15 anos já fazia bonecos destes”, refere. O gosto pelas artes era tanto que acabou por ingressar na Faculdade de Belas Artes. Com o conhecimento que adquiriu começou a fazer bonecos mais elaborados. Após o ensino superior, esteve vários anos a trabalhar em informática e novas tecnologias, mas essa área não o satisfazia. “Quando veio a pandemia, estar fechado em casa fez-me reflectir e comecei a fazer marionetas mais intensamente”, explica.
Nuno Fernandes morava em Tomar, sendo impossível estar a fazer as marionetas em madeira dentro de casa porque, segundo conta, gera muito lixo. Acabou por se mudar para o campo, para a aldeia de Vila Nova, onde ficou com um espaço totalmente livre para poder trabalhar sem limitações. Explica que os bonecos são feitos em pinho nórdico, um tipo de madeira mais leve e fácil de trabalhar. Cada boneco dura cerca de um mês a estar pronto. Como passou a dedicar-se totalmente à produção de marionetas decidiu fazer uma viagem à República Checa, “um país onde se fazem muitos bonecos destes e de grande qualidade. “Fui lá e achei que os bonecos de lá não estavam muito longe daquilo que faço, bastava eu afinar algumas coisas e ficavam praticamente iguais”, conta.
Actualmente, a nível profissional, faz marionetas e também é músico, tocando gaita-de-foles em bandas medievais. Consegue conciliar os dois trabalhos, dedicando-se mais à música na época das festas e mais aos bonecos no Inverno. “A nível financeiro, estes trabalhos não me permitem viver bem e tranquilo, mas faço o que gosto e isso para mim é o mais importante. Ganho muito menos do que quando trabalhava em informática, mas sou muito mais feliz”, confessa. Nuno Fernandes está na Fábrica das Artes há três anos e garante que o balanço é muito positivo. Para o futuro pretende fazer exposições com as marionetas e participar em teatros.

Uma banda desenhada para adultos
No quarto piso da Fábrica das Artes podemos encontrar o espaço media, onde está presente o atelier de banda desenhada dedicado à revista de fanzine “Olho d.C.”. Em conversa com O MIRANTE, o autor da revista, Sandro Ferreira, 49 anos, explica que o projecto tem como objectivo provar que a banda desenhada não é só para crianças, mas também para adultos. “Isto surge com o intuito de colmatar uma falha que há na banda desenhada em Portugal, que é o humor mais sarcástico. O humor hoje em dia está a desaparecer um bocado. No pós-25 de Abril havia imensas revistas de humor e de repente deixaram de existir. Como em Portugal não há este tipo de humor, decidi fazer eu, até para estimular outras pessoas a fazerem também”, refere.
Sandro Ferreira está na Fábrica das Artes desde Agosto de 2024, tem um atelier onde pode fazer o seu trabalho e ainda teve a ideia de criar um espaço junto à casa de banho do edifício onde promove exposições de curta duração, às quais chamou de “rapidinhas no wc”. O projecto do fanzine surgiu em 2016. Já desenhava, sempre gostou de banda desenhada e decidiu avançar para a criação de uma revista. “Na altura ia a um festival de música metal em Lisboa, que também era muito para a paródia, e pensei que era a altura ideal para começar a testar o projecto. Fiz alguns desenhos e decidi ir vender para o festival a 50 cêntimos. Foi um sucesso e a partir daí foi sempre a produzir. Neste momento já vou na edição número 30”, explica.
Entre as personagens da revista, há uma que se destaca que é o Capitão Adega, que até já tem uma série no YouTube. “Ele vai inspeccionar adegas na minha aldeia. Eu moro em Linhaceira e descobri que havia mais de uma dezena de adegas lá. Cada uma delas é um pequeno museu popular e eu achei que não devia ser tão privado e que devia mostrar aquilo ao mundo”, refere. A ideia está a ser um sucesso, havendo já outras adegas interessadas em acolher o projecto.
Além da revista, Sandro Ferreira trabalha no Instituto Politécnico de Tomar, no departamento de artes gráficas. “O trabalho dos gráficos é mais sério, e o fanzine é para ajudar na parte psicológica, é quase como ir ao ginásio, para mim é uma distracção”, confessa.

Sandro Ferreira e Gonçalo Gouveia, artistas de banda desenhada

Fábrica das Artes aberta ao público

A Fábrica das Artes está aberta ao público, em Tomar, às sextas-feiras das 18h00 às 23h00; aos sábados das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 23h00; e aos domingos das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h00. Localizada no edifício Moagem A Portuguesa, a Fábrica das Artes conta com quatro pisos, onde estão distribuídos os diversos artistas residentes.

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