Depois do BES…a Caixa, o SMS de Domingues e a aldrabice de Centeno*
Mário Centeno nunca foi capaz de assumir o seu erro e preferiu enganar o país com a famosa argumentação de um "erro de percepção mútua".
Quando o país pensava que depois do caso BPN, BPP e BES os escândalos na banca tinham terminado, uma tremenda injeção de capitais públicos na CGD levou à constituição de mais duas Comissões de Inquérito. A primeira, que decorreu entre 5.7.2016 e 18.7.2017, ficou marcada pela confusão criada pela polémica em torno de António Domingues e as garantias que Mário Centeno lhe tinha dado por SMS de que não seria necessário revelar os seus rendimentos como acontece com qualquer gestor público. Neste ponto, tal como noutros pontos, Mário Centeno mentiu ao país e, apesar de não ter sido documentado nesta CPI, tal facto tornou-se evidente com a saída de António Domingues da Administração da CGD.
Tanto a audição de António Domingues como a de Mário Centeno foram verdadeiros exercícios de hipocrisia e com muita pena minha, e de qualquer pessoa com o bom senso, foi penoso ver alguém com uma carreira exemplar como o ex Administrador do BPI a tentar esconder o acordo que tinha com o Governo para não ter de revelar os seus rendimentos como acontece com qualquer gestor público. A excepção que lhe tinha sido garantida chegou ao conhecimento público através do comentador Luís Marques Mendes e apanhou de surpresa o país.
A este propósito Mário Centeno nunca foi capaz de assumir o seu erro e preferiu enganar o país com a famosa argumentação de um "erro de percepção mutua".
O que se passou nesta Comissão de Inquérito já foi referido num artigo anterior onde fazia referência à demissão do então Presidente desta Comissão José Matos Correia na sequência de um voto feito por PS, PCP e BE para impedir o exercício de um direito postestativo por parte da Bancada do PSD, algo que teve tanto de inédito como de ilegal. Este episódio foi vergonhoso e uma verdadeira afronta aos mais importantes princípios democráticos e o que mais me custou foi ver a cara de alguns Deputados de outros partidos, pessoas que eu respeitava apesar de discordar deles em muitas matérias, a assumirem esta posição sem qualquer hesitação, sem vergonha ou embaraço.
É com episódios como este que se mina a credibilidade das instituições. Deputados ou gestores públicos têm sempre o dever de respeitar as regras e defender a causa pública e isso passa também por tudo fazer por não romper o contrato social entre as pessoas e o Estado. Estes dois episódios marcaram-me porque são dois perfeitos exemplos onde se verifica que não houve qualquer pudor em esquecer décadas de história e de práticas democráticas para "safar" a pele de um político ou para evitar uma simples audição.
Duarte Marques continua a escrever em O MIRANTE sobre a sua experiência em cinco comissões de inquérito na Assembleia da República
Vou escrever em O MIRANTE a minha experiência de trabalho político na Assembleia da República enquanto deputado e membro de cinco comissões de inquérito que trouxeram para a ribalta, pela primeira vez, os segredos de uma classe dirigente da política e do sector empresarial, supostas elites que desgraçaram o país, que colocaram em causa as actuais e futuras gerações, e que muitos deles respondem na justiça pelos crimes mais graves praticados depois do 25 de Abril de 1974. Espero que me acompanhem: vou escrever ao longo de muitas semanas sobre situações que certamente ajudarão a compreender melhor os tempos que vivemos.
Este é o meu segundo texto neste jornal online sobre a minha experiência de trabalho político na Assembleia da República enquanto deputado e membro de cinco comissões de inquérito que trouxeram para a ribalta, pela primeira vez, os segredos de uma classe dirigente da política e do sector empresarial, supostas elites que desgraçaram o país, que colocaram em causa as actuais e futuras gerações, e que muitos deles respondem na justiça pelos crimes mais graves praticados depois do 25 de Abril de 1974. Neste artigo falo do meu primeiro contato com a “podridão” do regime.
“O que vale um deputado da República e a importância das Comissões de Inquérito” e “O inquérito às PPP´s e a reunião com Pinto Monteiro Procurador-Geral da República” foram os dois primeiros artigos que publiquei neste jornal na rubrica “Histórias e Enredos das Comissões de Inquérito”. Esta semana dou seguimento contando uma parte da história de Almerindo Marques que considero exemplar. Nestas crónicas, que sustento no meu trabalho político na Assembleia da República enquanto deputado e membro de cinco comissões de inquérito, desvendo os segredos de uma classe dirigente da política e do sector empresarial, supostas elites que desgraçaram o país e que colocaram em causa as actuais e futuras gerações.
A loucura que foram os contratos de Parcerias Público Privadas lançadas por José Sócrates e companhia, mas também um manual de como “não fazer más PPP´s”, a forma ardilosa como Paulo Campos montou a sua teia de interesses, são as questões que se podem ler em mais um artigo em que pretendo contar neste jornal como uma classe dirigente da política e do sector empresarial depois de condutas “criminosas” que ficaram evidentes após as reuniões de cada Comissão Parlamentar de Inquérito das PPPs.
O Banco de Portugal decidiu “resolver” o Banco Espírito Santo a 3 de agosto, numa decisão que ficará para a história depois de uma recusa do Governo PSD /CDS em recapitalizar o BES injetando dinheiro público. O BES foi o único banco de capitais portugueses que tinha recusado o empréstimo do dinheiro da “troika” que tinha ficado previsto no Memorando de Ajustamento para recapitalizar o sector bancário. Ricardo Salgado não queria mostrar as contas aos administradores que o Estado nomeava em troca desses apoio da troika. De nada lhe valeu e desde logo gerou as desconfianças que acabaram por mostrar o descalabro da gestão que levou ao fim do Grupo.
Ricardo Salgado e Paulo Campos são duas das personalidades referidas por Duarte Marques nos artigos de opinião na edição online de O MIRANTE na rubrica “Histórias e os Enredos das Comissões de Inquérito”.
A primeira conclusão a que chegámos, é que afinal o “BES” mentia ao regulador e manipulava os relatórios( : ). O Banco de Portugal nunca pensou que um banco desta dimensão tivesse práticas tão incorretas ou que mentisse na prestação de resultados que lhe apresentava.
As três primeiras conclusões das audições iniciais da CPI ao BES e as coisas inacreditáveis que ouvimos; pessoas de grande prestígio que participavam em decisões sobre temas dos quais nada percebiam, ou que simplesmente assumiam cargos sem preparação ou conhecimento para tal. Pior ainda foi ver e perceber que gestores da suposta elite do país, como Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, entre outros, se prestavam a papéis ridículos, mentindo, passando por ignorantes perante o país e o povo, apenas para poderem fugir a uma qualquer condenação judicial.
Este é o oitavo artigo que publico em O MIRANTE sobre “as histórias e enredos sobre as Comissões de Inquérito” de que fui auditor na qualidade de deputado do PSD. Desta vez conto a história de um dos convidados que tentou usar uma estratégia para não aparecer nos media. Se a preparação destas audições obrigavam a um grande esforço de pesquisa e de estudo por parte dos deputados, isso não era menos verdade para os depoentes. Alguns dos nossos “convidados” confessavam que seguiam as audições da CPIBES como se de uma “série” ou novela se tratasse, já que era a melhor forma que tinham para se prepararem.