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“Os jovens de hoje podem ter estudos mas falta-lhes humildade”

“Os jovens de hoje podem ter estudos mas falta-lhes humildade”

Fernando Jorge, 46 anos, empresário, Tomar

Nasceu a 16 de Janeiro de 1966, no seio de uma família numerosa, em Linhaceira, Tomar. Sonhava ser jogador de futebol mas com quinze anos começou a trabalhar como pedreiro. Em 2001, após 15 anos a trabalhar por conta de outros, funda a empresa de Construções “Líder Americano”. É casado, tem dois filhos e diz que preza a honestidade acima de tudo.

Desde muito cedo que aprendi o que custa a vida. O meu pai era operário fabril e a minha mãe doméstica. Sou de uma família bastante numerosa. Éramos dez irmãos mas três já faleceram. Eu sou o terceiro. Nunca passámos fome mas fartura também não. O meu pai ia muitas vezes à pesca e caçava quase todos os dias. Não tínhamos a carne do talho mas tínhamos essa, que era deliciosa, e os legumes da nossa horta. A roupa passava de uns para outros. Hoje, felizmente, estamos todos bem na vida.Os jovens de hoje podem ter estudos mas falta-lhes humildade e iniciativa de trabalho. Não estão preparados para a vida, para o mercado de trabalho. Os pais também são culpados neste ponto. Ensinar a trabalhar e a fazer seja o que for, como fez o meu pai, não é desprezo nenhum. Hoje em dia os jovens se não trabalharem na área que estudaram já não querem fazer mais nada e não deve ser assim porque o mercado não aguenta tantos licenciados.Em criança dizia que queria ser futebolista. Ainda hoje gosto de jogar futebol. Joguei na equipa da antiga Matrena, no União de Tomar e no Nacional de Futebol de Salão no ano em que a Linhaceira foi campeã nacional. Com 24 anos tive um acidente e parti um pé e, a partir daí, interrompi o futebol. Na primária tinha algumas dificuldades em aprender, era uma criança rebelde e dizia que não queria saber dos estudos porque queria era jogar à bola.Era jovem quando pensei em ir para a construção civil. Queria ter dinheiro para, aos dezasseis, comprar uma mota e conseguir tirar a carta. Tive alguma sorte porque, ainda não tinha terminado a telescola, com 13 ou 14 anos, um senhor foi fazer uma obra perto da minha casa e chamou-me para trabalhar durante as férias. Mesmo assim o meu pai obrigou-me a tirar o 2.º ano. Deixei a escola com quinze anos e fui logo trabalhar como pedreiro. Aprendi de tudo um pouco sobre construção civil. Conclui o 12.º ano pelas Novas Oportunidades em 2009, ano em que fui candidato à Junta de Freguesia de Asseiceira pelos independentes.Ganhei muito dinheiro na pesca da lampreia. O meu pai pescava e lembro-me que nós os miúdos andavamos atrás dele no rio até que chegou a altura em que já tínhamos a nossa rede. Mais de cinquenta por cento da minha casa foi paga com o que ganhei com a venda da lampreia durante meia dúzia de anos. A safra da lampreia dura três meses, entre Janeiro e Março, e durante esse tempo não se pára. Íamos trabalhar nove horas por dia e depois de jantar saiamos para o rio. Adoro comer lampreia.Quando comecei a trabalhar por minha conta, já tinha a minha casa feita. Trabalhei um ano numa empresa de construção na Suíça. A minha namorada, actual esposa, também estava lá a trabalhar e chegámos à conclusão que, com 24 anos, devíamos vir embora e casar. Comprei o terreno quando fui para a tropa, aos 21 anos, e foi sendo construída. Foi a primeira obra de raiz que fiz.Sou mais conhecido como Americano. O apelido advém do meu avô paterno se chamar Américo até ao dia em que alguém se lembrou de lhe chamar americano. Depois, passou para o meu pai. Quando comecei a trabalhar por conta própria e procuravam por mim na Linhaceira, ninguém sabia dizer quem era o Fernando Ferreira mas o filho do americano toda a gente conhecia.Passo muito tempo no escritório mas prefiro estar na obra. Não sou pássaro de capoeira (risos). Gosto de ver aquilo crescer e a ser executado como quero. Sou sempre dos primeiros a chegar ao escritório, pelas 7h30 da manhã, e dos últimos a sair. Trabalho em média 10 ou 11 horas. Em casa tenho um escritório mas não trabalho. Separo as águas.A qualidade de trabalho é o rosto de uma firma. Nem um parafuso deve ficar por apertar. Sou muito exigente com os meus funcionários. Tudo o que não estiver ao meu gosto tem que ser demolido e arranjado de novo. Se os clientes pagam é para o trabalho aparecer bem feito. A minha firma progrediu graças ao passa palavra. O meu lema é fazer sempre o melhor possível.A Linhaceira é a minha terra e digo-o com muito orgulho. As grandes obras foram construídas com o dinheiro do povo. Gostava de fazer na minha freguesia, para além de um centro escolar, um pavilhão gimnodesportivo. Na Linhaceira há tudo para se viver, desde banco a bombas de gasolina mas nunca houve uma aposta do poder político em infra-estruturas desportivas. Estou ligado, desde sempre, à Associação Cultural Recreativa da Linhaceira, actualmente como responsável da área do desporto.Estou sempre contactável. O telemóvel está sempre ligado e tenho o meu contacto no site da empresa. Não tenho que me esconder de ninguém e acho que é uma mais valia o gerente estar disponível. Quando vou de férias também não me desligo. Prefiro que me liguem do que sair burrice. Tiro no máximo 8 dias seguidos de descanso e, normalmente, fico por cá. Não compensa viajar em trabalho.Gosto de ir caçar e de ir ver o meu Benfica. Sou sócio e gosto de ir ver jogos ao estádio da Luz embora às vezes me chateie porque não jogam aquilo que nós queremos. Gosto de ir a uma montaria, e do convívio com as pessoas. Também gosto de jogar futebol. Ainda há pouco participei num torneio de veteranos. Jogo sempre como defesa.Temos que ser sempre honestos com as pessoas que estão à nossa volta. Gosto de andar na rua de cabeça erguida. Sou uma pessoa de hábitos simples, que gosta de descansar em casa, junto da família. Estou casado há 22 anos e tenho dois filhos, de 12 e 18 anos. Se eles um dia quiserem pegar nisto tudo bem mas não os vou pressionar. Sou uma pessoa bastante ponderada. Sei que nem tudo o que luz é ouro.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Os jovens de hoje podem ter estudos mas falta-lhes humildade”

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