Percursos erráticos de vereadores como João de Carvalho em Vila Franca afastam as pessoas da política
Luís Capucha Pereira, eleito na assembleia municipal, diz que a saída de Rosinha da câmara ajudou a CDU subir na votação
Luís Capucha Pereira sabe do que fala quando diz que as pessoas não ligam ao trabalho dos órgãos autárquicos porque não acreditam nos políticos. O eleito da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, pela CDU, reconhece que a classe política está desacreditada e é por esse motivo que as pessoas não vão assistir às reuniões públicas da assembleia municipal. “Acham que não vale a pena votar, reclamar, participar nem fazer alguma coisa. Há uma descredibilização tão grande da política que tem que se pensar muito seriamente no assunto”, sublinha o político de 32 anos, que é também vice-presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense.Para o eleito não basta “fingir que se pensa, como tem acontecido”, que se vai pensar no desinteresse das pessoas pela política para as chamar. E defende que é preciso um debate sobre o que está a acontecer e encontrar-se soluções. Reconhece que a actuação de alguns políticos ainda afasta mais os eleitores dando como exemplo o percurso de vereadores como João de Carvalho, da Coligação Novo Rumo, liderada pelo PSD, na Câmara de Vila Franca. “O trabalho que a coligação foi desenvolvendo no último mandato foi errático e ziguezagueante. Quem tinha expectativas com o João de Carvalho, que ele viesse a trazer novidade para Vila Franca, ficou muito desapontado”, considera. Luís Capucha Pereira entende que os bons resultados de João de Carvalho nas autárquicas de 2009 foram um “acaso” resultante do factor surpresa do candidato. Mas também reconhece que a CDU subiu na votação nas últimas eleições autárquicas no concelho porque a então presidente da câmara, a socialista Maria da Luz Rosinha, não podia recandidatar-se. Sobre o sucessor de Rosinha, o eleito considera que Alberto Mesquita “começou mal o mandato”. Explicando que este era “vereador com pelouro há 20 anos e esperava-se que tivesse partilhado o poder com a CDU. Continuo sem entender a estratégia do PS para este concelho”. “Não sei se querem um concelho logístico ou industrial. Têm uma série de políticas avulsas de âmbito económico e social que só mostram que estão a navegar à vista”, critica. Nega a ideia que a CDU esteja a fazer uma oposição no concelho de “quanto pior melhor”. “Muitas vezes como mantemos a nossa coerência somos vistos dessa forma”, lamenta. Luís Capucha Pereira diz que o concelho de Vila Franca já se encontra estruturado e agora é preciso passar a investir em cultura, cidadania e numa educação abrangente. “Temos de potenciar o capital humano do nosso concelho. Os nossos políticos têm ainda muito medo de realizar investimentos nessas áreas porque criam inteligência, desconforto e perguntas”, vinca.Vila Franca é “culturalmente inexistente”Luís Capucha Pereira tem bases suficientes para falar da cultura de Vila Franca de Xira, a começar pelo facto de ser vice-presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense. Considera que a cidade não existe em termos culturais. “Vila Franca já não é relevante em lado nenhum do mundo em nenhuma área, infelizmente. Até na tauromaquia perdemos cada vez mais a nossa identidade”, lamenta. Luís teme que o concelho seja rapidamente ultrapassado por concelhos vizinhos como Loures ou Almada, que têm apostado forte nas dinâmicas culturais. “O concelho mudou muito nos últimos 30 anos. Deixámos de ser um concelho que importava mão-de-obra para as nossas fábricas para ser um concelho que agora exporta trabalhadores. Isso tem reflexos na qualidade de vida das pessoas e é uma das razões porque estamos assim”, explica.Acusa o poder político local de ser responsável por não ter criado dinâmicas culturais que chamem pessoas ao centro da cidade. “Vila Franca nunca dormia e hoje só tem três bares e uma discoteca. Até o Colete Encarnado precisa de um novo impulso mas não se vê resultado algum”, lamenta. Entende que o município não tem vocação para produzir grandes eventos que atraiam público e elogia a Semana do Onze, a iniciativa de um grupo de jovens que, no ano passado, meteu a cidade a mexer de manhã à noite durante sete dias.Ateneu tem dívida que não é sustentávelO Ateneu Artístico Vilafranquense tem uma dívida de 400 mil euros à banca que não é sustentável, lamenta o vice-presidente da colectividade. Luís Capucha Pereira explica que o saldo de gerência se encontra equilibrado, mas que a dívida existente tarda em ser paga. “Nem sei como se vai recuperar disto e conseguir fazer dinheiro para a amortizar”, confessa. O Ateneu tem um dos três principais auditórios do concelho e para o manter em bom estado de funcionamento é preciso realizar investimentos constantes. Um dos edifícios da sede continua entregue à banca como garantia do pagamento da dívida. A associação tem hoje cerca de 300 pessoas em actividades desportivas e culturais.Um comunista que não gosta de deixar coisas por fazerLuís Capucha Pereira é natural e residente de Vila Franca de Xira. Trabalha na Câmara de Vila Franca de Xira como técnico superior de engenharia do ambiente. É um dos responsáveis do Teatro do Zero, onde é encenador e actor, sendo também vice-presidente do Ateneu Vilafranquense. Tem o hábito de ir a pé e de bicicleta para o trabalho. É sobrinho do socialista Luís Capucha, que foi presidente da Agência Nacional para a Qualificação no Governo de José Sócrates. É o único da família que decidiu ser comunista, filiando-se no PCP aos 18 anos. “Até fui maltratado pelos anti-PCP da minha família”, confessa. Está no seu segundo mandato como eleito da assembleia municipal e dá todas as suas senhas de presença ao partido, como o resto da bancada. Fica doente quando deixa alguma coisa por fazer e considera-se uma pessoa curiosa. É incapaz de sair do trabalho e enfiar-se em casa. Encenou “Barrigas e Magriços” de Álvaro Cunhal, que o Teatro do Zero levou ao palco por todo o país no âmbito do centenário do líder comunista. Costuma ligar a televisão para não pensar e gosta de escrever textos que ficam na gaveta. Gosta de poesia, teatro e romance. Já leu “O Triunfo dos Porcos” de George Orwell e não tem na estante uma biografia de Estaline. “Mas tenho um bom ensaio sobre a União Soviética e o que correu mal nessa sociedade”, nota. Os seus escritores preferidos são José Saramago, Hemmingway, Gabriel Garcia Marquez e Valter Hugo Mãe. A namorada está no Brasil e por isso passa boa parte dos tempos livres na internet a falar com ela. É Sportinguista e ouve Zeca Afonso, Sérgio Godinho, Chico Buarque, Caetano Veloso, Pearl Jam, Nirvana e Xutos e Pontapés. Anda sempre com um bloco de notas na mala e fica em pânico se ficar sem bateria no telefone.
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