Santa Casa da Golegã é uma referência do concelho
Instituição é a segunda Misericórdia do distrito de Santarém com mais valências e conta com mais de cem funcionários.
Com mais de três centenas de utentes e 108 funcionários a Santa Casa da Misericórdia da Golegã (SCMG) é um dos maiores empregadores do concelho ribatejano. Dispõe de diversas valências nomeadamente Lar; Centro de Dia; Apoio Domiciliário; Academia Sénior, Centro de Férias para Idosos; Centro de Atendimento Temporário de Emergência para Idosos (CATEI); Residências Assistidas e Centro de Convívio. Segundo o provedor Martins Lopes, a SCMG é a segunda Misericórdia do distrito, atrás de Santarém, com maior número de valências disponíveis para os utentes.
As valências que implicam internamentos, nomeadamente o Lar e o CATEI, são as que têm maior procura. A SCMG assinou um protocolo com a Segurança Social para ter 29 utentes no Centro de Dia. Vão buscar os utentes de manhã numa carrinha e ao final da tarde levam-nos a casa. Fazem actividades diversas e nunca estão parados.
Adelaide Rodrigues tem 86 anos e frequenta o Centro de Dia há cerca de cinco anos. O marido veio antes. “O meu filho quis que viéssemos para aqui para ele estar mais descansado uma vez que trabalha e na Santa Casa temos o apoio das funcionárias e técnicas. Gosto de cá estar porque fazemos coisas diferentes todos os dias mas confesso que também gosto de regressar a casa ao final da tarde”, conta Adelaide a O MIRANTE enquanto espera que lhe seja servido o almoço.
António Beirante, 69 anos, é de Riachos e veio para o Centro de Dia pela mão da coordenadora da SCMG, Fernanda Oliveira, que o convenceu. “Em casa passava o dia todo sozinho e aqui sempre estou distraído e ocupado, faço muitas actividades. Quero ver se consigo começar a dormir cá, na valência de lar, para estar sempre acompanhado”, afirma.
A trabalhar na SCMG há mais de 30 anos, Fernanda Oliveira é coordenadora de todas as valências da instituição há cerca de 15 anos. Explica que existe uma grande aposta na proximidade entre funcionários e utentes. “Há cerca de um ano desenvolvemos um projecto interno onde temos essa preocupação para que os funcionários saibam o que é importante para o utente e para que os trabalhos não sejam feitos como se fossem máquinas. A vertente humana e a sensibilidade são muito importantes neste tipo de trabalho”, realça.
Na valência de Centro de Dia há uma grande aposta nos trabalhos manuais e também fazem doces. Estão inclusive a tentar registar a marca “Artesanato Maria Avó”. Além dos trabalhos manuais e aulas de ginástica também têm actividades temáticas. A próxima será sobre o 1º de Maio.
Vivendas assistidas é um projecto de sucesso
A Santa Casa da Misericórdia apostou, há cerca de 15 anos, no projecto de vivendas assistidas. Surgiram pela mão do provedor que quis criar um projecto que permitisse à instituição sustentar-se sozinha. “Estas vivendas são um factor de sustentabilidade porque podem ser revendidas. Quando os moradores morrem podemos voltar a vender a casa e é essa mais valia que nos permite considerar as vivendas como um factor de sustentabilidade para a Misericórdia”, explica Martins Lopes.
Começaram com a construção de quatro vivendas e foram aumentando a oferta aos poucos. Actualmente são 24 moradias e estão todas ocupadas. Qualquer pessoa a partir dos 75 anos pode lá viver. Quem compra a habitação paga água e luz. As vivendas estão equipadas com sala, quarto com roupeiro, uma pequena cozinha com fogão eléctrico, casa-de-banho e ar condicionado.
Amigos homenageiam Martins Lopes em almoço surpresa
Martins Lopes é um provedor ‘guerreiro’ e um homem de afectos e a Santa Casa da Misericórdia da Golegã é uma casa de amor ou não fosse liderada por um homem de coragem. As palavras são de Dias Coimbra, provedor da Misericórdia de Arganil [distrito de Coimbra] e o mentor da sessão de homenagem a Martins Lopes pelos seus mais de 25 anos à frente da Misericórdia da Golegã.
O encontro de homenagem a Martins Lopes decorreu na quinta-feira, 20 de Abril, nas instalações da Santa Casa na Golegã e juntou dezenas de amigos que o próprio fez questão de convidar. “O provedor Dias Coimbra e o provedor da Misericórdia de Pernes, Manuel Maia Frazão, falaram comigo e pediram-me para convidar alguns amigos para nos reunirmos num almoço porque queriam organizar-me uma surpresa. Fiquei curioso mas fiz o que me mandaram”, contou Martins Lopes a O MIRANTE.
Depois de uma visita à zona das hortas biológicas, onde cada morador das residências assistidas tem o seu próprio espaço para plantar o que lhe apetecer, foi tempo de se reunirem num almoço animado. No final, foi a vez de serem desvendadas as surpresas. Os amigos de Martins Lopes ofereceram-lhe um quadro com a sua imagem e a da sua esposa, Luísa, pintado por Dias Coimbra. O quadro foi entregue pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Manuel de Lemos, que elogiou a boa forma de Martins Lopes e o trabalho desenvolvido na Santa Casa da Golegã.
O presidente da mesa da assembleia da Misericórdia da Golegã, José Lopes, que também é filho de Martins Lopes, não escondeu a satisfação e o orgulho pelo reconhecimento dos amigos ao seu pai. “Não há uma conversa entre mim e o meu pai que não termine a falar sobre a Misericórdia da Golegã. Eu sou testemunha viva do seu entusiasmo e dos seus planos para o futuro. Apesar das barreiras que lhe foram sendo colocadas no caminho ele contornou sempre tudo e continuou sempre em frente. Acredito que ainda está aí para as curvas e para continuar o trabalho à frente da Misericórdia”, garantiu José Lopes.
António Martins Lopes não escondeu a emoção pela homenagem de que foi alvo. Conta 74 anos e é provedor da Misericórdia da Golegã há 26 anos tendo sido reeleito há cerca de um ano pela nona vez consecutiva para mais um mandato. “Não tenho tido concorrência para o cargo, o que de algum modo significa que estão satisfeitos com o meu trabalho e o da minha equipa. Ao longo destes 26 anos mexi pouco nas equipas e continuo a acreditar que este espaço tem muita qualidade e isso é uma mais valia para as pessoas quererem vir para cá ou utilizar os nossos serviços”, referiu.
Amigos dos tempos da Guerra em África não faltaram ao convívio
Quem não faltou ao convite foram os amigos que com Martins Lopes combateram na guerra em África na década de 60 do século passado. Fernando Maia veio do Porto, onde nasceu e ainda vive, só para estar com o seu amigo. Desde que se conheceram em África que nunca mais perderam contacto e todos os anos Fernando Maia vem à Golegã. Conta que em África o actual provedor era conhecido pelos camaradas por Bonanza, nome de um personagem de uma série de televisão americana que passava na televisão portuguesa na época.
“Chamavamos-lhe Bonanza por ele ser muito alto e ter um porte físico muito encorpado. Tinha um grande cabedal e quando jogávamos à bola todos tinham receio dele. Apesar de jogar à baliza ele era duro nos confrontos”, recorda com um sorriso.