Foram com os pais à procura de uma vida melhor e acabaram a vender no Mercado do Cartaxo
A vendedora mais velha e mais nova tentam manter o espaço com vida à espera de mais clientes
São oito da manhã e Maria da Conceição, de 81 anos, indiferente ao frio, já está a postos para vender os legumes que cultiva na sua horta, com a ajuda da filha e dos três netos. Na banca, junto à porta que dá para o estacionamento onde se fazem as cargas e descargas há um intenso aroma a flores, tal como um pouco por todo o mercado, porque a florista do espaço espalha vários ramos pelas bancas dos outros vendedores como forma de publicitar os produtos.
Ao entrarmos no Mercado Municipal do Cartaxo é notável a consideração que os vendedores têm por aquele local, que fazem questão de manter sempre limpo. As paredes caiadas a branco e bege, assim como o chão coberto de mosaicos da mesma cor, transmitem uma sensação de tranquilidade àqueles que visitam o local. Assim que entramos sentimos de imediato o cheiro a flores, que a florista do mercado faz questão de pendurar, estrategicamente, junto a cada uma das bancas.
No mercado respira-se um ambiente de calma, não só porque já não há a azáfama de clientes e vendedores de outros tempos, mas também porque as paredes pintadas de branco e bege transmitem calma. Na sua banca de pedra, Maria da Conceição é uma das resistentes que teima em manter o mercado vivo, como tem feito nos últimos 64 anos, pelo menos até poder e a família a ajudar. A vendedora é natural de Pombal e mudou-se para o Cartaxo com 17 anos de idade, quando os seus pais rumaram ao Ribatejo, em busca de melhores condições de vida, com os seus nove filhos.
Maria e os seus irmãos começaram a ajudar os pais a cultivar os terrenos, que iam adquirindo. A produção de hortícolas era o sustento da família e o negócio foi crescendo até que a uma determinada altura fornecia “todos os restaurantes do Cartaxo”, recorda. Ao ver que as vendas iam de vento em popa, Maria da Conceição decidiu pegar em alguns dos legumes que ela ajudava a cultivar e levá-los para o Mercado do Cartaxo, para ver se conseguia juntar algum dinheiro para si. Foram bons tempos e a vendedora assiste com tristeza, à diminuição de clientes, neste edifício instalado no centro da cidade e de fácil acesso.
A vendedora, já viúva, vive agora com a filha, de 53 anos e os seus três netos, de 18, 20 e 24 anos de idade, que ela ajuda a sustentar, desde que o pai deles morreu. São os netos, que apesar de se encontrarem a estudar, a ajudam no cultivo de legumes e manutenção da horta. “Ao fim-de-semana tudo trabalha”, diz Maria, realçando que é preciso fazer pela vida e que “eles sabem que sem trabalho não há comer”.
Aos 34 anos tenta dar juventude ao mercado
Carina Serra também não é natural do Cartaxo, mas foi nesta cidade que há 15 anos começou a vender os seus vegetais e frutas. Com 34 anos, é a vendedora mais nova do Mercado Municipal do Cartaxo. Nasceu em Viseu, mas vive em Pontével desde os seus três anos de idade, quando os seus pais se instalaram naquela pequena freguesia do concelho do Cartaxo.
Há cerca de trinta anos os seus pais tomaram a decisão de abandonarem a terra natal e foram viver para Pontével, onde Carina reside actualmente. Refere que na altura os seus pais tomaram essa decisão pois estavam em busca de uma vida melhor e escolheram Pontével para viver devido à promessa de um emprego estável num restaurante na região. “Terminei o meu 9º ano com 15 anos, mas depois já não quis seguir os estudos e por isso vim para aqui”, conta a vendedora. Começou por ajudar os seus pais na banca, mas estes acabaram por lhe passar o negócio para as mãos. “Os meus pais foram abrir outro negócio e eu fiquei com este”.
Na banca vende os hortícolas que cultiva e a fruta é comprada a fornecedores. Orgulha-se de dizer que na sua banca nada se desperdiça. Quando um legume ou uma fruta já não está bonito, Carina aproveita a ocasião para ser solidária e dá os alimentos a pessoas que conhece ou que sabe que têm dificuldades económicas. A vendedora faz questão de chegar ao mercado por volta das 7h00, para ter tempo de organizar meticulosamente a sua longa banca de pedra. Apesar de os primeiros clientes ainda demorarem um par de horas a aparecer, a vendedora garante que este é um esforço necessário para poder receber os seus clientes com uma banca vistosa.
Para Carina uma das vantagens de vender no mercado é as amizades que se criam com os outros comerciantes e com os fregueses. “A maior parte dos meus clientes são já do tempo dos meus pais, por isso já há uma certa amizade”. Muitos deles viram Carina crescer e aprender aquele ofício, com os seus pais. Faz questão de apregoar a qualidade dos seus produtos, mas garante que aquele não é um local onde se regateiem preços. Os clientes são cada vez menos mas Carina não desiste apesar de durante a semana só estar ela e uma colega a venderem no mercado.