Morre aos 33 anos por causa de um exame médico
Marisa Nunes, de Fazendas de Almeirim, fez uma reacção alérgica e faleceu após cinco meses em coma.
Até há cinco meses, Marisa Nunes, de 33 anos, era uma pessoa saudável, mas a suspeita de que tinha uma veia entupida no coração suspendeu-lhe a vida até dia 6 de Dezembro, quando morreu, após quase meio ano em coma na sequência de uma reacção alérgica a um produto injectado para fazer um exame.
Mãe de dois filhos, de oito e onze anos, natural de Fazendas de Almeirim, Marisa faleceu no Hospital Distrital de Santarém, para onde foi transferida após ter sido assistida durante um mês no Hospital de Santo André, em Leiria. A reacção alérgica ao produto de contraste administrado nas veias, para permitir obter imagens no aparelho de Angio-TC Coronária não é frequente, mas pode acontecer (ver caixa).
O irmão da vítima, Manuel Abelhas, conta a O MIRANTE que “o exame foi prescrito pela médica de família de Marisa, por suspeitas de que esta tivesse uma veia entupida no coração”. Deslocou-se então ao Centro Hospitalar de São Francisco, em Leiria, para fazer o exame que permite avaliar a anatomia da árvore coronária, para se avaliar o funcionamento do coração, desconhecendo que era alérgica ao produto e sem ter feito testes às alergias anteriormente. “A minha irmã fez o exame no dia 19 de Julho e deve ter estado mais de meia hora em paragem cardio-respiratória, o que lhe provocou danos no cérebro. Foi nessa altura que entrou em coma”, explica Manuel Abelhas.
A família não se conforma que Marisa tenha morrido após cinco meses numa cama de hospital, em coma, e por isso já avançou para a justiça. O irmão da vítima explica a O MIRANTE que já está a decorrer um processo no Ministério Público. Na sequência da queixa a procuradora de Leiria ordenou a autópsia, o que levou à interrupção do velório. Com o resultado da autópsia, a família vai decidir o que fazer a seguir e se também vai apresentar uma queixa contra o Hospital de Santarém, onde, sustenta Manuel Abelhas, a irmã não terá tido toda a assistência.
Recorde-se que o velório da jovem foi interrompido na quinta-feira, 7 de Dezembro, por ordem do tribunal. A interrupção do velório, quando ainda só estavam na casa mortuária os familiares próximos da falecida, deveu-se à necessidade de transportar o corpo de Marisa Nunes para autópsia. “Como é que é possível terem libertado o corpo sem ser autopsiado, estando a decorrer um processo”, questiona Manuel Abelhas. O irmão da vítima refere ainda que, alegadamente, houve uma falta de assistência que terá contribuído para a morte.
Marisa Nunes estava a concluir o curso de geriatria. “Faltavam apenas dois meses para o terminar quando aconteceu esta tragédia”, conta o irmão.
Cardiologia explica os riscos do exame
O médico cardiologista de Santarém, Vítor Martins, explica a O MIRANTE que o exame a que Marisa foi submetida “é como se fosse uma radiografia em que há uma injeção de contraste. É uma TAC de alta sensibilidade e de alta resolução em que se observa tudo. A injeção dá-se numa veia periférica e que vai permitir ver as artérias muito bem”. O médico refere que as alergias ao contraste é uma das complicações, como por exemplo a alergia à penicilina.
Ora se uma reacção alérgica é um dos riscos, porque não se avalia a situação antes da realização do exame? O médico explica: “Pode fazer-se um teste prévio, mas não é praticável porque este é um exame corriqueiro neste momento. Teoricamente é possível, mas não se costuma fazer”. O especialista salienta que já teve alguns casos de pessoas que fizeram alergias a medicamentos, mas nunca houve qualquer caso fatal.
Segundo Vítor Martins, da Clínica do Coração, uma pessoa com um enfarte do miocárdio não pode fazer um exame destes, “devido à instabilidade clínica que pode causar, só para dar um exemplo, mas normalmente são situações que se tratam logo na clínica”. Para o médico a jovem de Fazendas de Almeirim terá, “provavelmente, sofrido uma paragem cardio-respiratória e não recuperou a tempo”.