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Pedalástico Serafim das Neves

Ando entusiasmado com a moda das ciclovias. Depois da proibição de venda de croquetes, chamuças e bebidas açucaradas nos bares e cantinas de escolas e hospitais, a construção de ciclovias é um passo...melhor, uma pedalada importante na promoção da saúde pública.
Agora, com o papinho cheio de frutas, vegetais, grão e feijão já podemos ir ciclistar à vontade pelas cidades da região, sem nos sujeitarmos a ser abalroados pelos carros ou insultados por condutores que se enraivecem quando são ultrapassados por veículos de duas rodas movidos a músculo.
O presidente da Câmara do Entroncamento, que é um dos autarcas mais empenhados na promoção da saúde do povo através da realização de caminhadas e da construção de modernas pistas para bicicletas, disse que sonha recuperar o velho espírito do século passado quando o povo ia para todo o lado de bicicleta. Eu concordo com ele. Agora anda tudo de carro e, embora as pessoas vivam mais tempo, não vivem tão felizes e saudáveis como quando davam ao pedal para ir para o trabalho com a malinha da lancheira amarrada com uns elásticos na traseira das pasteleiras.
As iniciativas para fazerem com que todos morramos saudáveis são de louvar mas acho que vai ser necessária mais firmeza. Como dizia o outro isto não vai lá com paninhos quentes. Proibir os carros, por exemplo. Obrigar cada família a ter uma bicicleta por cada membro do agregado familiar. Aumentar os combustíveis, as portagens, o estacionamento, o Imposto Único de Circulação...eu sei lá!
Não penses que exagero. Como diria o camarada Cassete Jerónimo não podemos deixar aburguesar a classe operária. Temos que lutar contra o capitalismo publicitário que tem feito desaparecer as bicicletas das ruas de Pequim e do Entroncamento, por exemplo. E são tão lindas aquelas fotografias a preto e branco desse tempo com centenas e centenas de robustos trabalhadores e trabalhadoras, a dar ao pedal.
O meu tio Gustavo vivia em Torres Novas e ia todos os dias de bicicleta para as oficinas da CP no Entroncamento. Era forte como um touro. Tinha um apetite de quatro costeletas de porco com batatas, bebia litro e meio de tinto à refeição e fumava três maços de uns cigarros chamados “mata-ratos” por dia.
Um dia meteu na cabeça que tinha que comprar um carro. Foi a morte dele. Dele e de todos os colegas ciclistas que fizeram o mesmo. Começou a comer menos, perdeu aquele ar rosado de maçã camoesa, não parava de tossir. Passou a tomar montes de comprimidos. É certo que viveu até aos 93 anos mas via-se que não andava alegre. Tinha saudades de pedalar. Tinha ele e tinha a mulher dele. Já não pedalavam como antigamente.
Os pobres de espírito assim que têm uns tostões querem logo comprar um carro. O regresso à bicicleta é defendido apenas pelos grandes cérebros nacionais. Professores, Engenheiros, Doutores... enfim, todos aqueles que apesar de terem carros topo de gama, que nunca largam apenas porque nunca aprenderam a andar de bicicleta, percebem a importância das duas rodas para a populaça em geral e escrevem abundantemente sobre isso em jornais e na internet...de borla!!!
E eu já noto que a pouco e pouco a bicicleta começa a impor-se. A semana passada, à porta da escola aqui na minha rua, onde às horas de entrada e saída está tudo atafulhado de carros, vi uma senhora que foi levar o filho de bicicleta. E encontrei-a mais tarde a pedalar, provavelmente a caminho do emprego. Ia com ar afogueado mas resplandecente apesar de estar bastante transpirada. E já levava no cestinho colocado à frente dois sacos do supermercado. Uma coisa de enaltecer, tanto mais que alguns matarruanos, que se deslocavam de carro, não paravam de apitar.
Soube no dia seguinte que tinha sido levada à urgência devido a uma queda mas que estava a recuperar. Acho que a primeira coisa de que se queixou foi de não ter sido transportada pelo INEM - Bike, aquelas novas unidades movidas a pedal.
Saudações ciclísticas
Manuel Serra d’Aire

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