Há muitos bombeiros a cair quando estão a sair das viaturas
Revela investigação académica de um bombeiro sobre acidentes pessoais nos incêndios
Muitos dos acidentes com bombeiros de corporações do distrito de Santarém no combate a incêndios florestais deve-se a quedas à saída das viaturas. Esta é a conclusão de um trabalho de um bombeiro voluntário de Almeirim no âmbito da licenciatura em Engenharia da Segurança do Trabalho e que teve como um dos orientadores o comandante distrital de operações de socorro, Mário Silvestre. Nos 410 acidentes pessoais com bombeiros registados neste período, 149 estão relacionados com incêndios florestais, que são o objecto específico do estudo. Destes acidentes nos fogos, 91 ficaram a dever-se a quedas e destas, cerca de metade “ocorreu ao sair das viaturas na chegada ao local do incêndio”.
A investigação de Tiago Catrola Raposeira, que é subchefe nos Voluntários de Almeirim, incidiu entre os anos de 2006 e 2013 e teve como principal dificuldade o facto de o modelo de registo de casos da Autoridade Nacional de Protecção Civil ser “bastante vago”. O estudo, que foi comunicado à autoridade, já teve influência na necessidade de nomear um oficial de segurança para as ocorrências que ultrapassem os 36 operacionais no terreno. Esta determinação consta de um despacho (n.º 3317-A/2018) do presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil, publicado no Diário da República de 3 de Abril.
Os acidentes ocorreram com grande frequência durante a tarde, período em que são empenhados maior número de bombeiros, o que aumenta o risco de acidente. Ao contrário do que era de esperar pelo investigador, o número de acidentes no período nocturno, quando as condições de visibilidade são reduzidas e os operacionais estão mais cansados, é muito reduzido. Nestes seis anos apenas se registaram oito casos entre as 2h00 e as 7h59. Durante a tarde, entre as 14h00 e as 19h59 ocorreram 88 acidentes pessoais.
Mais experientes têm ferimentos mais graves
Seria de esperar que muitos acidentes se devessem a queimaduras ou a inalação de fumos, mas com estas causas houve um total de 29 casos, dos quais oito por “contacto térmico”. Há que ter em conta também que 14 casos tiveram origem no cansaço e/ou exaustão dos bombeiros. Em termos de danos físicos resultantes dos 149 acidentes nos incêndios, o maior número (41) foi traumatismos e 32 bombeiros sofreram entorses. A maior parte dos sinistros nos teatros de operações ocorre com “combatentes” na faixa etária entre os 18 e os 35 anos, que são também os que têm menos anos de experiência como bombeiros. Não deixa de ser curioso que os elementos com uma antiguidade entre os 16 e os 20 anos de serviços são os que têm acidentes com consequências mais graves.
Das 28 corporações de bombeiros nos 21 concelhos do distrito de Santarém, as que tiveram mais acidentes foram as de Ourém (14), Pernes (12) e Abrantes e Salvaterra de Magos, cada uma com 11 casos. Os corpos de bombeiros de Constância, Fátima e Minde apenas tiveram um caso cada nos seis anos de referência da investigação. Os bombeiros do Sardoal tiveram dois acidentes em fogos florestais entre 2006 e 2013 e as restantes corporações tiverem entre três a oito sinistros.