A câmara vai exumar todos os cadáveres das 322 campas abandonadas?
A Câmara de Vila Franca de Xira deu sessenta dias para que as famílias a quem foi concessionado perpetuamente terreno para campas e jazigos tomem a iniciativa de arranjar o que está estragado para o cemitério não parecer desmazelado. Tem todo o direito de o fazer, tanto mais que, segundo foi explicado, não conseguiu contactar as pessoas.
Acredito que os sessenta dias venham a ser prolongados por mais algum tempo. É que muitas pessoas não foram contactadas porque mudaram de casa e algumas só, eventualmente agora, vão tomar conhecimento do assunto.
Também é verdade que há muita gente que não vai a cemitérios mesmo sabendo onde estão sepultados os familiares e que não trata de arranjar e manter sepulturas e jazigos. As mudanças sociais estão na maior parte dos casos na origem desta situação e se por vezes há pessoas que abandonam ou se desinteressam de familiares que estão hospitalizados ou a viver em lares, muito menos se importam com os seus mortos. Uns chamam a isto progresso. Eu chamo-lhe desumanização e a desumanização é algo muitíssimo grave.
Há, segundo a câmara, 322 sepulturas que dizem respeito a concessões perpétuas que estão abandonadas há décadas e que estão visivelmente degradadas e caso não venham a ser reivindicadas, a câmara pode declarar a caducidade da concessão, apropriando-se dos mesmos para sua posse, conforme o artigo 61º do regulamento do cemitério municipal. Infelizmente o artigo não indica o que a câmara vai fazer depois de ter os jazigos na sua posse. Vai exumar todos os cadáveres e metê-los numa vala comum, por exemplo, ou incinerá-los?
Joaquim José Alves