O mistério da morte violenta do triatleta Luís Miguel Grilo
O MIRANTE falou com um dos seus melhores amigos que agora só espera que se faça justiça. A morte de Luís Miguel Grilo está a ser investigada pela Polícia Judiciária. O corpo foi encontrado, cerca de um mês e meio após o desaparecimento, a cerca de 150 quilómetros da sua casa no concelho de Vila Franca de Xira, e a 20 quilómetros de onde vive a família da agora viúva.
A morte violenta de Luís Miguel Grilo, triatleta amador e engenheiro informático de Vila Franca de Xira, é um mistério que está a ser investigado pela Polícia Judiciária. Um dos amigos mais próximos e também atleta, Vítor Cunha, pede justiça e relembra um amigo “de natureza calma e descontraída”, que o incentivava nas provas de triatlo.
Luís Miguel Grilo, residente nas Cachoeiras, desapareceu a 16 de Julho. Saiu de casa para um treino de bicicleta e disse a Rosa Grilo, sua esposa, que voltaria duas horas depois. O relógio apontava para as 16h00. Foi a última vez que foi visto com vida, pelos olhos de Rosa Grilo. Curiosamente a família de Rosa mora em Benavila, a cerca de vinte quilómetros de distância do local onde o corpo foi encontrado. Luís Miguel Grilo, de 50 anos, que deixa um filho com 12 anos, nem sempre esteve ligado ao desporto e foi com Vítor Cunha que se estreou na Wikaboo, há oito anos. Eram duas pessoas desconhecidas que tinham em comum a vontade de iniciar a prática desportiva. Fizeram juntos a primeira prova de corrida e evoluíram para o triatlo passados quatro anos.
As Cachoeiras eram apenas um dormitório para Luís. Por lá são poucos os que se cruzaram e tiveram dois dedos de conversa com ele. Já Vítor Cunha recorda “uma panóplia de horas bem vividas com o Grilo”. Recebeu a confirmação da sua morte na segunda-feira, 27 de Agosto. Uma morte trágica e envolta em mistério, que continua por decifrar. “Chorei muito e ainda vou chorar mais”, diz, acrescentando: “Agora já podemos rezar e entregá-lo a Deus”.
O corpo foi encontrado em Alcórrego, Portalegre, junto à estrada municipal 1070, por um popular, perto das 09h00, e já se encontrava em avançado estado de decomposição. Os dias que ali esteve ao sol, até ser encontrado aceleraram o processo, o que veio a dificultar a identificação do cadáver. Uma tatuagem foi peça-chave na identificação, ainda antes da autópsia. O corpo nu e a cabeça tapada com um saco plástico encaminham o mistério para um crime de homicídio. Estas são imagens de um terror, que para Vítor não encaixam no estilo de vida que Luís Grilo levava. Contudo, não precisou de as ver para estar certo de que tem de ser feita justiça, pela honra do amigo. “Temos de saber o que se passou e quem o fez tem de ser responsabilizado. Garanto que não vamos deixar o mistério cair no esquecimento”.
Luís Miguel Grilo estava desaparecido há mais de um mês. Vários foram os esforços de família, amigos, conhecidos e desconhecidos para encontrar este homem, que para trás deixou apenas o telemóvel e alguns documentos. A bicicleta, uma Cannondale de estrada, de cor preta e vermelha e o capacete preto continuam em parte incerta. Os amigos nunca desistiram de o procurar e no dia em que foi encontrado andavam a bater terreno nos locais por onde ele costumava passar nos treinos.
Amigo recorda o atleta calmo e descontraído
Vítor Cunha, um dos melhores amigos do falecido, recorda que “o Luís tinha uma natureza calma, descontraída”. Os valores que o moviam no desporto e na vida eram “a amizade e o respeito”. Nem quando estava em competição entrava em desacatos ou gana de chegar primeiro. “Gostava de ter bons resultados, mas sabia que a disputa ficava para os mais novos”.
Vítor conta que para Grilo chegar ao fim já era uma vitória”. Lembra a primeira prova de Luís Grilo, a Ironman - uma das mais exigentes provas de triatlo, em Badajoz, Espanha. “Ele não sabia que eu também ia e assim que vai entrar na água [para a prova de natação], olha para mim e diz: Já tenho a minha prova feita”, lembra. A última prova foi em Frankfurt, Alemanha, no Ironman European Championship. Em 2300 atletas ficou no lugar 663. “O Grilo estava tão feliz nesse dia”, recorda o amigo.
Todos os fins-de-semana costumavam treinar juntos, geralmente em Setúbal, porque “o Grilo achava que era mais seguro. Há menos trânsito”. Treinavam entre cinco a seis horas e chegavam a passar “mais tempo com os colegas de treino do que com a família”. É nos familiares de Luís Grilo que Vítor e a restante equipa da Wikaboo se querem focar agora para garantirem que têm uma vida digna e que “o filho tenha para sempre orgulho no seu pai”.