Vive em condições desumanas mas recusa-se a sair de casa
Serviços sociais não conseguem colocar Abel Pinto numa instituição para ter cuidados. Reformado por invalidez, com problemas de saúde e de alcoolismo, recusa-se a sair de uma casa que está a cair e onde as condições são degradantes, se não lhe derem uma casa nova ou uma indemnização.
Abel da Silva Pinto vive sozinho numa casa no centro histórico de Abrantes em condições degradantes e já sem parte da cobertura, que ruiu recentemente, mas recusa sair da habitação. Os serviços sociais da Câmara de Abrantes consideram que o munícipe, de 65 anos, deve ser colocado numa instituição para ter acesso a cuidados médicos e de conforto e higiene, por ter problemas de alcoolismo e epilepsia. O esforço está a ser inglório porque o reformado por invalidez só aceita outra casa ou uma indemnização para sair.
Abel da Silva Pinto vive há cinquenta anos na habitação, no número 11 da Rua José Estêvão, pela qual paga uma renda de dezassete euros mensais. Há dois meses, com o abatimento de parte da cobertura do prédio de dois pisos, foi retirado à força pelas autoridades e colocado num abrigo temporário, onde só ficou duas noites, regressando à casa, onde acumula lixo. O interior cheira a podre, as paredes estão cheias de marcas da humidade, é difícil andar pelo espaço com caixas, alguidares e outras tralhas espalhadas pelo chão. As mobílias, retiradas da zona onde caiu o tecto, estão amontoadas em duas divisões da casa que pertence a uma família de Cascais.
O munícipe já recusou duas propostas, uma para uma instituição na zona de Lisboa e outra para ser alojado na Santa Casa da Misericórdia de Abrantes. No dia 21 de Agosto esteve na reunião do executivo camarário a reclamar. A presidente da autarquia, Maria do Céu Albuquerque, refere que a intervenção neste caso tem que ser maior do que simplesmente arranjar uma casa. “Há aqui um problema de alcoolismo gravíssimo. O senhor precisa de tratamento. Sofre de epilepsia e recusa-se a ser medicado”, explicou. O visado reconhece que bebe álcool mas que pode parar quando quiser.
A vereadora da Acção Social, Celeste Simão, informa que perante a gravidade da situação já foi solicitada a intervenção do Ministério Público. Abel Pinto diz que só sai da casa se voltar a ser obrigado. “Não me podem expulsar assim de um momento para o outro sem me dar nada em troca”, argumenta.
Abel da Silva Pinto trabalhou 24 anos nos Bombeiros de Abrantes, foi enfermeiro durante o serviço militar, e chegou também a trabalhar numa farmácia no centro da cidade. Recebe uma pensão de invalidez de 320 euros e acha-se capaz de tratar da sua própria saúde.