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Esfaqueado e atropelado mortalmente sem motivo aparente
Celso Borges tinha 43 anos e deixa sete filhos

Esfaqueado e atropelado mortalmente sem motivo aparente

Pai e filho são suspeitos de serem os autores do homicídio no Sobralinho. António Rato e o seu filho Marco estão em prisão preventiva, a aguardar julgamento, suspeitos de terem agredido com violência e atropelado mortalmente Celso Borges.

Celso Borges, 43 anos, conhecido como Patrick residia em Vila Franca de Xira. Na madrugada de 30 de Setembro foi morto na via pública, na localidade do Sobralinho. Os dois supostos autores das agressões fatais são pai e filho. António Rato, de 52 anos e Marco Rato, de 23 anos, são suspeitos de terem agredido a vítima com um guarda-chuva, com uma facada no crânio e, por fim, passaram-lhe com o carro por cima. Antes do crime, a vítima tinha estado numa festa na Escola C+S de Vialonga com a família e antigos colegas de escola.
Pai e filho já foram ouvidos por um juiz em primeiro interrogatório judicial e estão a aguardar julgamento em prisão preventiva, por perigo de fuga. A investigação, a cargo da Polícia Judiciária, conseguiu recuperar a faca que perfurou o crânio da vítima e aponta para que António Rato tenha atropelado o corpo, já em agonia, para que o seu filho, o suposto autor da facada, não fosse culpado daquela morte.
A família de Celso Borges viveu momentos de revolta quando as primeiras notícias saltaram para os jornais e populares foram tecendo comentários em defesa de António Rato. “Ficamos incrédulos com o que estávamos a ouvir. O que passava nas notícias levava a crer que o Rato era um herói”, diz a O MIRANTE Bruno Borges, irmão da vítima.
“Ainda não consegui voltar ao trabalho. Sinto-me culpado por naquela noite ter convencido o meu irmão a ir à festa na escola e a ajudar-me a carregar o material [de som] até ao Sobralinho”, acrescenta. Confessa que lhe fica o sentimento de impotência perante a morte do irmão, depois de o ter encontrado com o corpo trucidado debaixo do carro. “Tentei tirá-lo, mas não consegui. Não consegui ajudá-lo como queria. Foi naquele momento que perdi o meu irmão”, lembra.

Uma rixa que acabou em homicídio
No dia 29 de Setembro de 2018, Celso Borges e os seus dois irmãos, David e Bruno, foram a uma festa de antigos alunos na Escola C+S de Vialonga, com mais alguns elementos da família e ex-colegas de escola. Abandonaram aquelas instalações cerca da 01h30 e seguiram em dois carros em direcção ao Sobralinho, onde David e Bruno residem.
A vítima e David, o seu irmão mais novo, foram os primeiros a chegar à localidade e quando desciam em direcção à casa de Bruno para lhe entregarem o material de som que lhe pertencia foram abordados por três indivíduos, que começaram a gritar e a pontapear o carro de Celso. Um deles era Marco Rato, o alegado autor da facada na cabeça, que deixou Celso desorientado e a sangrar.
David Borges foi o primeiro a ser agredido com um soco na cara, depois de ter saído do carro para questionar o comportamento dos três indivíduos que conhecia de vista, mas com os quais não tinha qualquer tipo de relação. Celso, que ia ao volante, reagiu e saiu da viatura para ir em auxílio do irmão mais novo. Foi nesse momento que levou com um guarda-chuva na cabeça e depois com uma facada que lhe perfurou o crânio.
Com receio de que a rixa tomasse contornos mais drásticos, David ligou ao irmão Bruno Borges a pedir ajuda e disse-lhe que Celso estava coberto de sangue. Quando este chegou ao local indicado pelo irmão viu o carro de Celso, estacionou e começou a correr, na esperança de os encontrar.
Alguns metros à frente, Bruno avistou Marco Rato com uma pedra na mão a dirigir-se a David e Celso “completamente ensanguentado”. Quando deram pela sua presença, os agressores puseram-se em fuga.
António Rato, que não estava presente no início dos desacatos, deixou a sua residência e saiu à rua, depois de ouvir gritos. Consigo foi a mulher e uma filha. “Eu já devia ter dado umas chapadas neste meu filho, mas de hoje não passa”. As palavras terão sido proferidas por António Rato quando se cruzou com Bruno Borges. “São palavras que nunca mais vou esquecer”, diz o irmão da vítima a O MIRANTE.
Foi Bruno Borges que encontrou o irmão debaixo do seu próprio carro, “completamente esmagado”, depois de ter visto António Rato lançar o veículo destravado rua abaixo e a correr na direcção oposta. “Corri para o carro para o tentar travar, mal sabia que o meu irmão estava debaixo dele”, conta. O carro bateu num poste e só nesse momento viu parte do corpo de Celso.
“Tentei puxá-lo mas não consegui. Tinha o corpo todo partido. Entrei no carro para o tirar de cima do meu irmão, mas não havia chave na ignição. Perguntei ao Celso, mas ele já só murmurou algo que não percebi”, acrescenta.
A rua com algum declive fez com que o veículo percorresse cerca de 17 metros, a velocidade aproximada dos 20km/h, com a vítima a ser arrastada, antes de embater num poste junto ao passeio.
A investigação da PJ aponta para que no momento do atropelamento, Celso Borges já estivesse em agonia e sem capacidade de reacção para se desviar do veículo. Os resultados da autópsia ainda não são conhecidos, mas há indícios de que a facada na cabeça, que atingiu o dura-máter - camada em contacto com o crânio - lhe pudesse vir a causar a morte.

António Rato é socorrido primeiro

O primeiro pedido de socorro via CODU (112) foi feito para socorrer António Rato que foi agredido pela família de Celso, já depois de este ter sido atropelado. O autor do atropelamento encontrava-se em estado grave e foi transportado para o Hospital Vila Franca de Xira, onde permaneceu cerca de uma semana.
Segundo Alberto Fernandes, comandante dos Bombeiros Voluntários de Alverca, os meios de socorro para a vítima de atropelamento foram accionados via CODU, às 2h52. À sua chegada, Celso já se encontrava em paragem cardiorrespiratória. Foram feitas manobras de reanimação, que se revelaram infrutíferas. O óbito foi declarado no local.

PSP não sabia da existência de feridos

A PSP foi chamada ao local às 2h35 e só à chegada foram informados da existência de uma vítima de atropelamento. Esclarece a O MIRANTE, a Divisão Policial de Vila Franca de Xira, que as forças de segurança foram activadas apenas por “notícia de desordem da via pública”, não tendo sido, no imediato, desencadeado o pedido de qualquer meio de socorro.

Pai e filho cometeram outros crimes

Ao que O MIRANTE conseguiu apurar, António Rato não é novato em atropelamento voluntário. Há uns anos terá atropelado uma mulher, sua enteada, propositadamente. Caso seja chamada a depor, e confirme as circunstâncias em que se deu o atropelamento, a situação pode agravar a pena judicial de António Rato.
Marco Rato já é conhecido naquelas paragens por causar desacatos e andar na posse de arma branca.

Funeral com centenas de pessoas

O corpo de Celso Borges foi a enterrar no dia 3 de Outubro, no cemitério de Vialonga, de onde era natural. A cerimónia fúnebre foi presenciada por centenas de familiares e amigos da vítima do homicídio no Sobralinho.
Celso Borges deixa uma companheira, Valéria, e sete filhos, sendo que apenas um, de um ano, é filho da actual companheira. Os restantes seis vivem com a ex-mulher em Londres. O mais velho, de 11 anos, esteve presente no funeral.

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