Recolha de amostras do surto de legionella levanta dúvidas em julgamento
Inspectora da PJ revelou em tribunal forma como as autoridades recolheram material
A recolha de amostras de água contaminada das torres de refrigeração da empresa arguida no processo do surto de legionella que em 2014 atingiu o concelho de Vila Franca de Xira foi feita em garrafões de água banais e não em frascos esterilizados. A informação foi avançada pela inspectora chefe da Polícia Judiciária (PJ) na primeira sessão do julgamento da primeira acção cível apresentada no âmbito do surto de legionella que afectou o concelho.
A forma como foram recolhidas as amostras nas torres de refrigeração da ADP – Adubos de Portugal - tem sido a principal dúvida dos advogados de ambas as partes. A responsável da PJ confirmou perante o juiz que, à data, os técnicos da Administração Regional de Saúde terão cumprido com os protocolos de recolha de amostras, mas fizeram-no recorrendo a garrafões de água que previamente despejaram, secaram e voltaram a encher com amostras contaminadas, quando usualmente a Inspecção Geral do Ambiente (IGAMAOT) usa frascos esterilizados.
“Para não haver dúvidas ouvimos especialistas na matéria para saber se a utilização dos garrafões poderia implicar alterações das amostras e disseram-nos que não. Mas há realmente uma diferença [entre as amostras recolhidas pela ARS na ADP e a IGAMAOT no dia seguinte com outros frascos] que é significativa nos resultados porque, entretanto, acreditamos que tenham sido usados produtos de desinfecção. A ARS fez um trabalho de saúde pública e não de investigação criminal, por isso os seus procedimentos não são os mesmos que os da IGAMAOT”, explicou.
A PJ continua a manter a convicção de que houve falhas no processo de retoma do funcionamento das torres de refrigeração depois da sua paragem para manutenção e que isso terá levado à disseminação da legionella estirpe ST1905, a mesma que viria a ser encontrada em vários doentes, incluindo em alguns que vieram a morrer.
As autoridades também encontraram a bactéria da legionella noutras fábricas da zona, num centro comercial e vários cafés, mas numa estipe que não é perigosa para o ser humano. A PJ sustenta que o elevado calor levou a uma proliferação rápida da bactéria que prontamente se espalhou nas gotículas da ventilação da fábrica.
O julgamento da primeira acção cível deste caso deverá conhecer uma decisão em Novembro. O processo de Leonel Ferreira, do Forte da Casa, é o primeiro a avançar em julgamento. Reclama 200 mil euros por danos patrimoniais e morais.
No banco dos réus está a ADP – Adubos de Portugal, empresa onde as autoridades encontraram a mesma estirpe que estava presente nas vítimas.