“Ou era o coitadinho ou arranjava forças e agarrava-me à vida”
Aos 38 anos a vida de David Duarte sofreu um duro revés. A doença atacou-o e debilitou-o. Conta que esteve meses acamado e numa cadeira de rodas. Hoje caminha com a ajuda de uma bengala. E, apesar das dores, continua a desenhar, na casa onde vive em Azinhaga, Golegã.
Há cinco anos a vida de David Duarte mudou radicalmente. Para pior. Uma doença de que ainda não sabe exactamente a origem, começou a debilitá-lo, minando-lhe os ossos, os músculos, as articulações. “Os médicos disseram que muito dificilmente voltaria a sair da cama e que o máximo que conseguiria seria andar numa cadeira de rodas para o resto da vida”, conta à reportagem de O MIRANTE na sua casa em Azinhaga, Golegã.
David não se resignou à sua sorte e continua a lutar para contrariar os vaticínios médicos. Foi ele quem, apoiado numa bengala, abriu as portas de sua casa à reportagem de O MIRANTE. Vive numa habitação social, cedida pela Câmara da Golegã, na rua do cemitério de Azinhaga. “Irónico, não é?” diz com um sorriso, que desaparece quando começa a subir um pequeno lanço de escadas, e sente as dores apoderarem-se do seu corpo franzino.
Já esteve mais de meio ano acamado, outro meio ano numa cadeira de rodas e agora, por força da sua vontade, desloca-se apenas auxiliado por uma bengala. “O meu diagnóstico ainda não está feito. Não sabem o que tenho. Só conseguiram detectar que tenho Diabetes Tipo 1. De resto, mais nada. Ando nisto desde 2013”.
Conta que tem corrido inúmeros hospitais, já fez dezenas de testes, exames e análises. Nada detectam. O que sabe de si, é o que sente. “Começei por ter dores nos joelhos e numa omoplata, fui ao hospital e foi aí que me diagnosticaram a diabetes”, diz. Até que, um dia, quis levantar-se da cama e não conseguiu.
No dia 30 de Março de 2013, data do seu aniversário, foi pela primeira vez internado no Hospital de Abrantes. Ficou lá uma semana. Depois do Hospital de Abrantes, passou ainda pelo de Torres Novas e o seu caso está a ser seguido por uma equipa de médicos no Hospital Universitário de Coimbra. “Até exames na área da medicina nuclear fiz”, realça.
“A arte chamou-me para a vida”
David sempre gostou de desenhar mas desde que a doença o atacou agarrou-se à arte como a um bálsamo. A sala da sua casa é o seu pequeno estúdio. Desenhar. Pintar. Fazer auto-retratos. Apreciar boas fotografias e replicá-las a carvão numa folha de papel A3 é o que o chama para a vida. “Só tinha duas saídas: ou era o coitadinho ou arranjava forças e agarrava-me à vida. Segui a segunda opção, fazer parte da minha solução e não do problema”.
Antes de se sentir doente, David tinha uma vida bastante activa. Teve um estúdio de tatuagens em Coimbra e posteriormente em Huelva, no sul de Espanha. Essa aventura em Espanha durou pouco tempo, pois começou a sentir-se doente.
“Fiquei incapacitado de trabalhar e tive que voltar para a Azinhaga. Já fui muito enxovalhado aqui. Primeiro era o coxo, depois o coitadinho, agora sou muito acarinhado pela maioria da população e só posso agradecer quer à Junta de Freguesia de Azinhaga, quer à Câmara da Golegã, que ajudam em tudo o que podem”, diz.
Vive com pouco mais de 350 euros mensais, do subsídio social da esposa, com despesas que rondam os 50 a 60 euros de medicamentos. “Praticamente não pagamos renda de casa, é a sorte, senão não sei como iríamos viver”, aponta com preocupação. É que o subsídio termina dentro de um ano. Depois ficam sem nada. “Já pus os papéis para pedir a reforma por invalidez. Já fui à junta médica e estou a aguardar”.