uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Falar, cantar e relatar até que a voz lhes doa

Dia Mundial da Voz assinala-se a 16 de Abril.

Há profissionais que têm na voz a sua ferramenta de trabalho, como é o caso dos cantores, dos professores e dos radialistas. O MIRANTE foi ao encontro desses profissionais para perceber que truques usam para manter as cordas vocais afinadas e em forma.

foto DR Carlos Moisés

Um bom aquecimento da voz antes dos concertos é fundamental para evitar lesões

Carlos Moisés é vocalista da banda Quinta do Bill

Carlos Moisés, vocalista dos Quinta do Bill, confessa que houve uma época em que teve muitos concertos seguidos e que no final sentiu dificuldades em cantar porque as cordas vocais já estavam cansadas. “Felizmente nunca cheguei ao ponto de ter que cancelar espectáculos mas tive problemas de rouquidão porque foram muitos concertos seguidos”, recorda a O MIRANTE. O vocalista da banda de Tomar, criada em 1987, conta que há alguns truques para controlar o esforço vocal. “Evito esforçar a voz e bebo muita água. O ideal é descansar a voz antes dos concertos”, refere.
Antes de subir ao palco para cantar, Moisés faz um bom e demorado aquecimento da voz. Nas aulas de Canto que teve no Conservatório de Música aprendeu a preparar a voz para um esforço de modo a evitar lesões e rouquidões. “É fundamental para qualquer cantor fazer um bom aquecimento. Não podemos desvalorizar os cuidados que são necessários ter com aquele que é o nosso instrumento de trabalho”, sublinha. O músico não bebe álcool nem fuma.
Além de músico, Carlos Moisés também é professor de Educação Musical e considera que essa é outra profissão em que a voz é muito importante. “Um professor tem que saber colocar a voz e deve evitar rouquidões e lesões porque também é o seu instrumento de trabalho. Um professor sem voz não consegue dar aulas”, afirma.
Subir a um palco ao ar livre ou com frio não é aconselhável para quem precisa da voz para trabalhar. “As correntes de ar são terríveis e o tempo adverso, como as mudanças de temperatura, também não é aconselhável. Mas quando não conseguimos evitar os espectáculos na rua é fundamental aquecer bem a voz”, realça.
No final de cada concerto é importante beber água para lubrificar as cordas vocais. Carlos Moisés conta a O MIRANTE que é comum algumas pessoas que utilizam a voz como instrumento de trabalho, e que têm episódios de rouquidão com regularidade, pedirem-lhe conselhos sobre como devem agir para que as suas cordas vocais não sejam afectadas.

foto DR Sandra Moreno

Não é por se falar mais alto que os alunos ouvem melhor o professor

Sandra Moreno dá aulas de Português e passa o dia a falar

Uma das classes profissionais que mais usa a voz no seu quotidiano é a dos professores, que dependem dela para transmitir conhecimentos e novas matérias. São, por isso, umas das classes mais expostas aos riscos que a falta de voz pode proporcionar. Sandra Moreno é professora de Português na Fundação CEBI de Alverca do Ribatejo e passa várias horas do seu dia a falar e a transmitir conhecimentos.
É uma tarefa que, confessa a O MIRANTE,
a obriga a ter cuidados especiais com a voz. Um desses cuidados é evitar gritar ou esforçar demasiado a voz, em particular se sentir que a mesma já se encontra esforçada ou com rouquidão. Por isso, tenta sempre apostar na prevenção e dar aulas num tom moderado que não prejudique a atenção dos alunos nem deixe em maus lençóis as suas cordas vocais.
“Tento sempre falar num tom mediano e sereno porque a nossa voz é muito importante. Além disso acredito que não é pelo facto do professor falar mais alto ou gritar com os alunos que isso os vai inibir de ter comportamentos piores nas aulas, há outras formas de se actuar”, conta.
Sandra já estudou música e canto e por isso está ciente da importância de salvaguardar a sua voz no dia a dia, mas lamenta que nem sempre a sociedade esteja atenta e reconheça essa mesma importância. “É uma lacuna grande que ainda existe e devia ser dada mais importância às questões da voz e da sua preservação. Nem sempre se dá o devido valor e é algo ainda um pouco marginalizado”, lamenta.

foto DR Valdemar Duarte

“É gratificante quando me reconhecem a voz na rua”

Jornalista há mais de três décadas, ligado ao desporto, faz relatos de futebol e nunca lhe faltou a voz.

Valdemar Duarte trabalha em rádio desde os 17 anos. Começou o seu percurso na RDP Santarém no final de 1983 e ali trabalhou até 86. Recorda com saudades esses tempos áureos das rádios locais quando fazia relatos, notícias, animação e tudo o que fosse preciso.
Sempre utilizou a voz como instrumento de trabalho e ela nunca lhe faltou. “Quando se fica afónico recolhe-se às boxes” diz Valdemar, “mas só em teoria”, acrescenta, referindo que, por exigência do trabalho, já fez algumas emissões um pouco afónico.
“A ideia de que os relatos de futebol são prejudiciais à voz é um mito”, diz o radialista. Com o passar dos anos a voz fica treinada e já não se ressente com os 90 minutos de entusiasmo que empresta a cada jogo. Num relato, Valdemar tem consciência que é os olhos e os ouvidos de milhares de adeptos e dá literalmente a voz ao manifesto.
Não fuma, não bebe bebidas alcoólicas nem gaseificadas. “As bebidas gaseificadas dão tendência a arrotar e não havia de ser nada bonito fazer um relato nessas condições”, brinca. Não tem mezinhas para afinar a voz e diz que o principal é beber muita água natural, nunca gelada. “A hidratação mantém a voz límpida”, revela a O MIRANTE, numa entrevista telefónica onde a sua voz límpida e possante se faz ouvir do outro lado da linha.
Há quem romanceie um pouco o assunto dizendo que o segredo está no chá de perpétua roxa, mas para Valdemar o único chá que importa é o de limão, assim como a ingestão de muitos citrinos, mas o objectivo é resistir a constipações que são outro calcanhar de Aquiles para quem utiliza a voz como ferramenta de trabalho. “A sopa também ajuda a consolidar a voz, sobretudo se tiver muito alho e muita cebola”, sugere Valdemar Duarte, acrescentando à lista de recomendações o cuidado com o ar condicionado, sobretudo no Verão, para não sofrer com as grandes diferenças de temperatura.
Além da voz, para se ser um bom relator é preciso muito treino e conhecimento do jogo e dos jogadores. Por vezes já nem precisa de ver o número na camisola para reconhecer um jogador. Basta-lhe saber a sua colocação em campo, conhecer a maneira como corre, os seus trejeitos.
Quando jogam equipas estrangeiras é mais difícil, mas recorre à técnica de dispor os jogadores no campo e, por vezes, nos nomes mais complicados opta por dizer apenas o nome em vez do apelido. “Uma vez fiz um relato de um confronto entre uma equipa sul coreana e uma equipa japonesa, deve ter sido um dos mais difíceis que já fiz”, lembra o relator.
Valdemar tem 53 anos e faz rádio há 36. Depois da RDP Santarém seguiu para a Rádio Renascença, participou num projecto desportivo online - o Mais Futebol - que incluía a primeira rádio online. Passou também pela TVI e pela TSF e está actualmente na Benfica TV.
Passou para a televisão, mas confessa que a sua grande paixão é a rádio onde a voz é rainha, sem ficar subjugada à imagem. “Por vezes no café ou num supermercado há pessoas que me identificam pela voz, dos tempos da Rádio Renascença. É gratificante”.

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido

    Destaques