As limitações ficam em terra quando a vontade é à prova de água
CRIB - Centro de Recuperação Infantil de Benavente promoveu 4º Encontro de Canoagem Adaptada. Dentro de uma canoa ou em cima de uma prancha, pessoas com paralisia cerebral, autismo, distúrbios emocionais ou cognitivos descobrem no desporto a alegria de serem livres e fazer aquilo que os outros fazem.
Um dos desejos de muitas pessoas portadoras de deficiência é ter igualdade de oportunidades no acesso à prática desportiva. Existem imensas barreiras e dificuldades sociais que têm de quebrar até conseguirem lá chegar. Para isso contam com instituições como o CRIB - Centro de Recuperação Infantil de Benavente que lhes abre as portas para que possam experimentar novas modalidades, como o triatlo, equitação terapêutica e natação. Desta vez, as escolhidas foram o stand up paddle e a canoagem adaptada.
Na Praia Doce, em Salvaterra de Magos, perto de uma centena de jovens e adultos com deficiência de doze instituições do distrito de Santarém preparam-se para entrar na água. Antes, todos se equipam e recebem as instruções dos treinadores. O nervosismo que possa existir desaparece assim que começam a actividade, dando lugar a expressões de felicidade.
Para conseguir organizar tudo, o CRIB conta com o apoio do Clube Náutico de Salvaterra de Magos, Câmara de Benavente, Câmara de Salvaterra de Magos, Bombeiros de Salvaterra de Magos, Fenacerci e Federação Portuguesa de Canoagem. Os alunos da Secundária de Benavente fazem de voluntários nesse dia e acompanham os utentes.
Este é o 4º Encontro de Canoagem Adaptada e Inês Felisberto, técnica superior de educação especial e reabilitação, foi o motor para que tudo acontecesse. “Dá muito trabalho, mas sonhamos um dia e lutamos para fazer acontecer. Vale muito a pena poder juntar utentes de várias instiuições e proporcionar-lhes esta experiência”, diz a O MIRANTE.
Raphael Gaspar, treinador no Centro Náutico de Salvaterra de Magos, acredita que é desta forma que se consegue mostrar que o desporto é para todos. “Apesar de haver o estigma de ser uma modalidade perigosa, quando bem organizada e orientada tem tudo para correr bem”, ressalva. E explica os benefícios da modalidade em pessoas com deficiência: “É trabalhada a simetria e a coordenação motora para ajudar a pessoa a libertar-se dos seus bloqueios e estimular o movimento”.
A terapeuta destaca ainda os benefícios ao nível emocional através da experiência nova e da auto-superação. Inês Felisberto lamenta que fora das instituições, seja tão dificultado o acesso ao desporto para quem tem limitações motoras e cognitivas. “É caro, há falta de técnicos qualificados e está demasiado vocacionado para a competição”, aponta.
Quem experimentou quer voltar a fazê-lo
Há sete meses no CRIB, Vítor Vieira tem distúrbios cognitivos e não praticava desporto até entrar para a instituição. Aos 48 anos sentou-se pela primeira vez dentro de uma canoa e já sonha com a próxima vez que voltará a fazê-lo. “Foi uma experiência inesquecível. Gostava de voltar um dia”, diz a O MIRANTE.
A seu lado, Bruno Alexandre, de 39 anos já tinha participado na iniciativa em anos, anteriores. Lembrava-se dos movimentos que tinha de fazer para fazer andar a canoa e acabou por encorajar os novatos, como foi o caso de Cláudia Baptista. Nunca tinha praticado desportos náuticos e o nervosismo era tal que não queria entrar na água. No final as palavras foram de satisfação. “Estou muito feliz, foi uma experiência única. Nunca é tarde para aprendermos e ganharmos coragem para experimentar. Quem me dera poder fazer mais vezes”, afirma a jovem de 25 anos que sofre de leucinose, uma doença metabólica e de distúrbios emocionais.