“Profissionais formados no Politécnico de Tomar são cada vez mais valorizados”
João Coroado diz que o IPT a que preside aumentou a sua influência na região. O novo presidente do Instituto Politécnico de Tomar e a equipa que o acompanha trabalham para reforçar ainda mais a ligação da instituição ao Médio Tejo para que a região aumente o seu nível de desenvolvimento. Nesta entrevista, João Coroado afirma que o IPT é o melhor preparado para colaborar com as empresas e instituições da região e explica aos jovens que querem estudar no ensino superior as vantagens de não saírem para os grandes centros.
O Politécnico de Tomar tem cerca de dois mil alunos e tem capacidade para ter três mil e quinhentos. Não conseguem aumentar o número de alunos?
Em Portugal temos, neste momento, um número de alunos suficiente para ocupar quase todas as vagas que existem no ensino superior, atendendo, quer à via dos estudos gerais, quer à via profissionalizante.
Estão mal distribuídos.
O ordenamento do ensino em Portugal está desequilibrado e isso não acontece só com o ensino. Cerca de 47 por cento das vagas para o ensino superior estão em Lisboa e Porto. Isto não existe em mais lado nenhum da Europa. E a maioria das restantes vagas está numa faixa litoral. Universidade de Aveiro; Universidade de Coimbra; Politécnico de Coimbra; Politécnico de Leiria. A dificuldade na captação de alunos por parte dessas instituições é relativamente pequena.
E há mais algumas instituições com alguma facilidade de captação de alunos.
Para o Norte ainda temos o Instituto Politécnico de Cávado e Ave; o Instituto Politécnico de Viana do Castelo e aqui podemos incluir a Universidade do Minho que, tal como a Universidade de Aveiro, é um excelente Politécnico.
Mas terem optado por ser universidades beneficia-as.
Porque muitos dos nossos governantes, políticos e meios de comunicação social, quando se referem ao ensino superior falam de universidades. Os politécnicos continuam a ser desvalorizados. Nós temos como comparação o que acontece genericamente no Norte da Europa e Europa Central. Ali há um sistema dual, como nós temos mas existe equilíbrio. Sessenta por cento dos alunos frequenta as universidades de ciências aplicadas e quarenta por cento as universidades de investigação que correspondem aos nossos politécnicos. É aquilo que deveria existir em Portugal.
Como se chegou a esta situação?
O sistema politécnico em Portugal foi criado para o desenvolvimento do território e está bem equipado no sentido de permitir formação aplicada para o território. Foi gasto muito dinheiro dos contribuintes mas houve uma subversão do objectivo inicial quando as universidades começaram a ter permissão para disponibilizar muitas vagas porque na altura o financiamento estava indexado ao número de estudantes. Hoje já não é assim mas foi durante muito tempo.
É uma questão de tempo até os politécnicos começarem a atrair mais alunos?
Eu espero que seja mas espero que esse tempo seja encurtado por medidas políticas, que começaram a ser implementadas, que diminuam a oferta de vagas nos grandes centros.
O ensino politécnico foi concebido com o objectivo de formar técnicos especialistas, para profissões que exigem mais que aquilo que o ensino secundário dá. Não era expectável que os estudantes da região que concluem o 12º ano da via profissionalizante, fossem para o Politécnico?
Se nós tivéssemos metade dos alunos do Médio Tejo que se candidatam, ou têm condições para se candidatar, ao ensino superior, preenchíamos todas as nossas vagas.
Esses alunos que acabam o 12º ano no Médio Tejo não procuram o Politécnico de Tomar por a oferta formativa não corresponder ao que procuram, ou por vontade de irem para a grande cidade?
Penso que a maior parte é por quererem sair. São atraídos pelos grandes centros. Mas há alunos que partem, fazem um ano no grande centro e voltam. Quando nos procuram dizem que era aqui que deveriam ter começado.
Que argumentos pode usar para convencer um aluno a estudar no Politécnico de Tomar?
Não temos oferta completa em termos de formação mas ao nível do que temos não há diferenças entre nós e as outras instituições de ensino superior. Nós até achamos que a nossa qualidade de ensino é superior, uma vez que o número de alunos por turmas possibilita uma interacção sistemática entre professor e aluno.
Qual a diferença entre um curso universitário e um curso politécnico?
As pessoas que estudam nos politécnicos são orientadas para a profissão. Para saber fazer. Hoje no mercado de trabalho o profissional que tem essas competências começa a ser mais valorizado que um profissional da mesma área vindo da universidade, porque quem vem da universidade ainda tem um período de adaptação para incorporar as competências que lhe permitam realizar o seu trabalho.
É uma vantagem para as empresas da região?
Nesse sentido o Politécnico de Tomar está melhor preparado para colaborar com as empresas e instituições da região, razão pela qual nós estamos a crescer em termos de influência na região.
O que tem o Politécnico de Tomar para oferecer além dos cursos?
Aqui o aluno tem todo o apoio para estudar, tem actividades desportivas e culturais e tem um capital humano dentro do instituto absolutamente fantástico, que acompanha de muito perto os alunos. A quantidade e qualidade dos serviços que disponibilizamos fazem com que os alunos se sintam em casa.
E quais são as saídas para o mercado de trabalho na região?
Temos uma série de empresas, algumas das quais no nosso campus, que permitem abrir portas para a profissão, nomeadamente para o estrangeiro em redes consolidadas, isto é, os nossos alunos não vão à aventura. E se os alunos quiserem ficar, Tomar é uma cidade segura e têm toda a região onde podem trabalhar, constituir família e fixar-se.
A ideia que existe é que não há, na região, muito emprego qualificado e convenientemente remunerado?
Não é assim. Nós temos emprego na região. Oitenta e oito por cento dos nossos alunos estão empregados nos cursos que concluíram, na região do Médio Tejo e nas regiões limítrofes. E há alguns que saem, naturalmente, para Lisboa...
O que está a fazer o Politécnico de Tomar para reforçar a sua influência?
Neste momento estamos a dar relevância às parcerias. Às relações com as câmaras municipais, por exemplo. Nunca tivemos uma proximidade tão grande com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo e com a Câmara de Tomar, por exemplo.
Em termos práticos como se concretiza essa proximidade?
Na quantidade de projectos em conjunto.
Pode dar um exemplo?
No decorrer da Festa dos Tabuleiros foi disponibilizada a aplicação para telemóveis, “Smarter Fest”. Foi feita no âmbito de um curso de pós-graduação e em conjunto com a Softinsa, IBM. Para essa aplicação ser bem sucedida, tivemos aqui a câmara municipal, a protecção civil, as forças de segurança. Houve todo um conjunto de intervenientes envolvidos.
Há muitos projectos desses no Médio Tejo?
Neste momento começamos a ter dificuldade em dar resposta a todas as solicitações que temos e estamos a ser muito criteriosos na escolha porque os investigadores desta casa começam a estar muito ocupados.
E outro tipo de projectos?
Dentro do chamado processo e valorização do sistema politécnico houve a abertura de programas de investigação financiados, que eram disponibilizados tendo em conta a dimensão da instituição. Nós podíamos propor seis projectos e para além de conseguirmos o financiamento para os seis projectos que candidatámos, tivemos mais sete projectos em parceria. Com o Politécnico de Leiria, com o Politécnico de Castelo Branco, de Portalegre, de Coimbra, da Guarda...enfim, com uma série de politécnicos. De repente temos aqui treze projectos que necessitam de muita concentração.
Quem desenvolve esses projectos?
O Politécnico de Tomar é o único Politécnico na região que tem duas unidades de investigação próprias a serem financiadas pela Fundação Ciência e Tecnologia, após terem sido avaliadas, uma com Bom e outra com Muito Bom. A Techn&Art - Centro de Tecnologia, Restauro e Valorização das Artes e o CI 2 - Centro de Investigação em Cidades Inteligentes. No conjunto temos um milhão de euros, em três anos, para investigação aplicada.
É por aí que passa a afirmação do Politécnico de Tomar?
Queremos fazer mais investigação aplicada. Amanhã todos os cursos do ensino superior vão ser avaliados em relação à componente da investigação aplicada que lhes está associada e nós já detemos essa investigação aplicada. Já temos o aval que a nossa investigação está a ser bem sucedida e para o efeito estão a financiá-la. O Politécnico de Tomar é uma instituição que tem muita qualidade, que tem investigação aplicada de excelência, que tem uma formação de excelência. Podemos não ser fisicamente grandes mas queremos ser qualitativamente excelentes.
A região já está a aproveitar o vosso trabalho em pleno?
Está. Neste momento, tudo o que é possível aproveitar, aproveita. Mais, neste momento nós não conseguimos satisfazer a procura regional em muitas áreas.
Falam no vosso programa em internacionalização. O que significa isso?
Significa, fundamentalmente, nós conseguirmos parcerias de forma a que os nossos estudantes tenham possibilidade de ter estímulos que lhes dêem dimensionalidade em termos europeus, uma vez que a grande parte das parcerias que estabelecemos é na Europa, tirando muito partido do programa Erasmus (Plano de Acção da Comunidade Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários). Isso dá dimensão aos nossos estudantes, aos nossos professores e aos nossos funcionários.
E alunos estrangeiros no Politécnico?
Naturalmente queremos aumentar o número de alunos estrangeiros a estudar aqui. Para complementar a procura nacional mas também para facultar à nossa população mais estímulos, porque eles trazem diferentes culturas e diferentes formas de olhar o mundo. E tudo isto beneficia a formação.
O número de estudantes do Politécnico de Tomar a sair para outras escolas com bolsas Erasmus deixa-o satisfeito?
Temos um número consistente de bolsas Erasmus. Temos tido a possibilidade de oferecer bolsas às procuras internas que temos. Naturalmente que queremos incentivar o aumento da procura interna e queremos aumentar a recepção de alunos das parcerias que nós temos com instituições estrangeiras. Neste caso...deste ponto de vista a internacionalização é muito importante. Mas nós queremos ser internacionais com a região.
A vontade de trabalhar na indústria de minerais não metálicos ficou pelo caminho
É de onde?
Sou de Coimbra. Nasci lá em 1963, sempre vivi em Coimbra e ainda vivo. Sou um conimbricense de gema.
Tem irmãos? Também estudaram em Coimbra?
Somos três. O meu irmão estudou em Lisboa. A minha irmã e eu estudámos em Coimbra. A minha irmã é de Farmácia, eu sou de Geologia. O meu irmão foi para Lisboa porque fez a Academia Naval.
Como foi a sua adolescência?
Sou do tempo das festas nas garagens. Tenho imensos amigos de infância e da adolescência, principalmente os que ficaram em Coimbra. Os outros continuam amigos mas encontramo-nos menos vezes. Pratiquei diversas modalidades mas aquela em que estive mais tempo foi a natação. Agora faço trail (corrida de montanha) e kitesurf.
Concluiu a licenciatura em Geologia (ramo científico) em 1990 no Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, com 14 valores. Isso agora não era uma grande nota.
Na altura foi a segunda nota do curso. Não é possível fazer uma equivalência para a classificação que teria actualmente mas posso dizer que estava num nível superior. E o curso não era mau.
Como veio para Tomar?
Foi por acaso. Quando acabei o curso um professor, Rui Pena dos Reis, de Torres Novas, que também dava aulas aqui no Politécnico de Tomar, disse-me que ia entrar em sabática e convidou-me a ficar com as cadeiras dele. Comecei por recusar porque não me estava a ver a dar aulas. Disse-lhe que não tinha feito o curso para dar aulas e que o meu desejo era ir para a indústria. Queria ir para chão de fábrica, para as minas, para planeamento do território e mais especificamente para os minerais não metálicos.
Mas acabou por aceitar.
Acabei por aceitar por ser uma situação temporária de um semestre, durante a qual ia mandando uns currículos...foi até hoje.
Concluiu o seu mestrado cinco anos após a licenciatura e fez o doutoramento onze anos depois. Agora tira-se a licenciatura, o mestrado e faz-se em muitos casos o doutoramento, de enfiada. Alguns estudantes fazem o doutoramento antes de começarem a trabalhar. Concorda com isto?
Depende dos doutoramentos e dos contextos. O doutoramento que fiz demorou muito a fazer porque eu não tinha a pressão de o terminar como acontece hoje e tive o privilégio de poder sistematizar todos os estudos que fiz. Se eu fosse obrigado a terminar o doutoramento em três ou quatro anos não teria estudado, por exemplo, a bacia do Médio Tejo que eu queria estudar.
Já estudava a bacia de Aveiro, poderia ter ficado por ali.
Alarguei o tempo para permitir, de alguma forma, trazer valor acrescentado para a instituição onde eu já trabalhava. Não fazia sentido estar aqui como docente e estar a fazer apenas o estudo da bacia de Aveiro.
Hoje quando estamos a falar em doutoramentos as abordagens são muito mais focadas. As nossas abordagens eram mais transversais. Mais abrangentes. Eu toquei numa série de pontos que hoje não é exequível, com o tempo que disponibilizam para fazer os doutoramentos.
Porque tirou o mestrado e o doutoramento em Aveiro?
Fiz a licenciatura em Coimbra porque os meus pais, tal como eu, defendem que as pessoas que vivem em regiões que têm uma oferta de ensino superior e se essa oferta for compatível com a vocação que as pessoas têm, devem fazer a licenciatura no seu território. Eu estava em Coimbra e queria seguir geologia. Havia Geologia em Coimbra e eu cursei Geologia.
Depois continuou os seus estudos em Aveiro mas podia tê-los continuado em Coimbra.
O facto de eu ir para Aveiro tem a ver com aquilo que eu queria fazer. Eu queria a indústria de cerâmica. Aveiro é a melhor escola na área da cerâmica e eu via Aveiro como uma ponte para entrar com mais competências no sector. Fiz o mestrado e continuei a trabalhar aqui em Tomar. Como a indústria dos minerais não metálicos começou a entrar em regressão, decidi fazer o doutoramento.
Hoje é mais fácil tirar uma licenciatura porque há menos exigência?
Actualmente, a abordagem à aprendizagem muito diferente. Há uma grande aproximação dos docentes aos alunos e esse acompanhamento torna o processo de formação relativamente...não queria dizer mais leve...mais encurtado. Há muitos mais estímulos para o acompanhamento das matérias, associados a serviços ao exterior. As metodologias são diferentes.
Engenharia informática com desemprego zero
O curso de Engenharia Informática do Instituto Politécnico de Tomar (IPT) é um dos 63 a nível nacional com taxa de desemprego zero, de acordo com os dados disponibilizados no portal Infocursos (Direcção Geral de Estatísticas da Educação e Ciências). Aquela licenciatura da Escola Superior de Tecnologia do IPT é a única da região a integrar a lista.
Equipa escolhida pela competência
João Coroado diz que os elementos da equipa directiva que o vai acompanhar nos quatro anos do mandato foram escolhidos principalmente pelas suas competências. Da mesma fazem parte Nuno Madeira (vice-presidente) e os pró -presidentes Natércia Santos (área da Sustentabilidade e Qualidade), Rita Anastácio (área da Divulgação e Relações Externas) e José Farinha (área da Contabilidade e Gestão).