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De quantas mulheres é que um homem precisa para viver?

Uma semana cheia de encontros com algumas das mulheres importantes da minha vida, como é o caso de Maria de Medeiros, Isabel Huppert, Helena Ortiz e Natércia Freire, que habitam o peito das minhas emoções.

Não sei se tenho o direito de escrever aqui sobre teatro e livros e artistas que me interessam, fascinam ou admiro simplesmente. Não me apetece escrever sobre os problemas da minha comunidade; melhor dito: não me apetece publicar porque material não me falta.
Esta semana que passou usei todos os meus conhecimentos pessoais e profissionais para ir ver Isabel Huppert, no CCB, numa peça de teatro a solo no papel de Maria Stuart. Meti ao barulho, para conseguir um dos mil bilhetes para as duas representações, pessoas supostamente influentes. Não consegui. Os bilhetes no CCB para determinados espectáculos são à conta para determinadas pessoas. Já a tentativa para ir ver Maria de Medeiros em Almada resolveu-se com um telefonema para o Carlos Galvão e uma viagem de mota às seis da tarde para não ficar preso no trânsito da ponte 25 de Abril (o tempo ganho na viagem permitiu-me ficar meia hora à conversa com o maestro Vitorino de Almeida que me surpreendeu com algumas partilhas da sua longa vida).
Esta semana fui à estante recuperar dois livros de Elfried Jelinek depois de acabar de ler Leila Slimani e o seu “No Jardim do Ogre”. Ando a reler a poesia de Helena Ortiz, que morreu há meses e era minha amiga, e a reler outra vez Camille Paglia e o seu último livro “Mulheres Livres Homens Livres”.
Gosto de mulheres que me espicaçam a inteligência e me desafiam a dormir menos, e a trabalhar pouco, para ter tempo de ler, ver cinema, ir ao teatro e viajar. Não preciso de conhecer pessoalmente ou apalpar os meus artistas preferidos para sentir; já assisti a muitas estreias sem me meter com os autores/artistas embora tivesse boas razões para isso. O que eu gosto é de experimentar sentimentos e emoções. E foi isso que consegui outra vez com a Maria de Medeiros, em Almada. Ela em cima do palco e eu numa coxia do teatro a vê-la representar uma peça em francês, atrapalhado para seguir a sua interpretação e ao mesmo tempo não perder nada da tradução. Guardo duas recordações da actriz quando era uma menina, e eu um rapaz, e ainda hoje quando vou ao teatro ando à procura da inocência desse tempo. Desta vez deu para perceber melhor que vão chegando os dias em que tudo se desvanece, a memória cansa-se, ou desilude-se, ou muda de planeta.
Queria ver a Isabel Huppert (IH) para me certificar ainda melhor de que há certas alturas da vida em que a beleza também é inútil, e a alegria não serve para nada, e que há amores ociosos, e que, às vezes, um homem precisa tanto da arte para viver como um peixe precisa de uma bicicleta. Mesmo assim assinalei o dia em casa, na noite do primeiro espectáculo da IH, abrindo uma monografia da Françoise Gilot, que trouxe recentemente de Paris, onde fui ver uma exposição da Dora Maar (ironia do destino: Françoise Gilot roubou Picasso a Dora Maar quando tinha 24 anos e o pintor 60 e tem um livro sobre a relação com ele e com Matisse, entre outros, que é uma obra-prima para os amantes da literatura autobiográfica que admiram Picasso, como é o meu caso).
Falta contar que a presença da IH em Portugal fez-me voltar a procurar a biografia de Maria Stuart, a rainha da Escócia, que foi decapitada em 1587, aos 44 anos, e que esteve presa durante 18 anos em vários castelos e mansões de Inglaterra por ordem de Isabel I; e que assisti na passada quinta-feira, na Biblioteca Nacional, ao primeiro acto da festa do centenário de nascimento da escritora Natércia Freire, que escreveu um dia que “Amor e Livre” são palavras desavindas, embora toda a sua obra seja um hino ao amor e à liberdade. JAE

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