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Últimos três médicos cubanos na Lezíria querem continuar ligados à região
Yamila, Mercedes e Jorge (da esquerda para a direita) continuam a trabalhar no Centro de Saúde de Rio Maior

Últimos três médicos cubanos na Lezíria querem continuar ligados à região

Foram tão bem recebidos que o maior problema que sentiram foi trabalhar com sistema informático. Mercedes e Jorge chegaram a Portugal em 2009 quando o Estado português precisou da ajuda de Cuba para lhe fornecer médicos, ficando em Alpiarça. Saíram em 2012 e voltaram dois anos depois, juntando-se a eles Yamila Ojeda. Os três estão no Centro de Saúde de Rio Maior, que vai deixar de precisar dos seus serviços. Mas o director do Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria está à procura de uma solução que aproveite os seus conhecimentos e reconheça a ajuda que deram ao sistema.

São os últimos três médicos cubanos na Lezíria do Tejo que vieram para Portugal ajudar a resolver um problema de falta de clínicos nos centros de saúde. Agora que a situação começa a estabilizar e estão a ser colocados novos médicos de família, os clínicos gerais Mercedes Garcia, Yamila Ojeda e Jorge Torre, que atendiam doentes sem médico de família, vão deixar de ter utentes para consultas no Centro de Saúde de Rio Maior, onde prestam serviço. Mas o Agrupamento de Centros de Saúde da Lezíria, reconhecendo o esforço e dedicação destes profissionais, está a tentar arranjar uma solução para que continuem a colaborar em outras áreas.
Os três médicos trabalham por conta própria em regime de prestação de serviços. Mercedes e Jorge são casados e trabalham em gabinetes a poucos metros um do outro. O casal veio para Portugal em 2009, quando o Estado português estabeleceu um protocolo com Cuba para a contratação de médicos. Passados três anos regressaram ao seu país, mas voltaram à Lezíria do Tejo em 2014. Hoje têm a vida estabilizada em Rio Maior, onde vivem e onde a filha de 10 anos frequenta a escola. Yamila é divorciada mas trouxe o filho, que está a trabalhar na cidade a fazer entregas de um talho.
Uma das coisas que mais tocou os médicos em Portugal foi a boa aceitação que tiveram por parte da população e o espírito de ajuda das instituições, como as câmaras municipais e o agrupamento de centros de saúde. A maior dificuldade que sentiram foi com o sistema informático. Uma adaptação pior do que com a língua, porque em Cuba os serviços de saúde não estão informatizados. Também passaram a lidar com problemas de saúde a que não estavam habituados, como o hipertiroidismo e as doenças cardiovasculares. “Aqui o médico do centro de saúde faz o acompanhamento de muitas doenças, enquanto em Cuba o doente vai logo ao especialista”, explica Mercedes Garcia.
Quem vai a um centro de saúde por vezes queixa-se que as pessoas fazem barulho na sala de espera, mas para estes médicos a situação é mais calma em Portugal, onde, dizem, as pessoas falam mais baixinho. Jorge reflecte o sentimento da esposa e da colega de preferirem continuar a viver em Portugal, onde os médicos têm um melhor ordenado. A nível profissional o que mais os preocupa é a instabilidade laboral, porque não lhe é reconhecida a especialidade de medicina familiar e porque trabalham em prestação de serviços.
Quando Jorge e Mercedes chegaram a Portugal, através do protocolo, foram colocados em Alpiarça. Tinham um contrato de 64 horas semanais e também tinham de ir a Almeirim e a Coruche fazer serviços. Foi uma altura difícil, recorda Mercedes, porque vinham completamente à aventura, sem conhecer nada do país e com receio de não se adaptarem. Na altura ajudou o facto de a Câmara de Alpiarça ter oferecido alojamento. Actualmente os três médicos vivem em casas arrendadas.
Neste tempo em que estão em Portugal, Mercedes e Yamila já tiraram a carta de condução. Jorge tem carta cubana. Mercedes já tinha o sonho de ser médica em menina e Yamila foi para esta área por influência das irmãs, que também são médicas. Em Rio Maior são responsáveis pelo atendimento quase sete mil pessoas sem médico de família. Uma realidade que está prestes a desaparecer, mas que pode ser o início de novos desafios para os três cubanos, que estão prontos para fazerem parte de outros projectos do agrupamento de centros de saúde, como os cuidados de saúde no domicílio.

Médicos gostam da simpatia e tranquilidade portuguesa

Nos tempos livres gostam de ir à praia de S. Martinho do Porto ou a Lisboa, onde adoram andar no Terreiro do Paço. Os três médicos já fizeram vários amigos entre utentes que atendem. O casal Jorge Torre e Mercedes Garcia ainda costumam ir a Alpiarça visitar pessoas que conheceram quando começaram a trabalhar em Portugal. Um ritual que cumprem pelo menos uma vez por mês. Yamila Ojeda está desejosa de mostrar a região e o país às irmãs, que vêm este ano pela primeira vez a Portugal e estão a pensar ficar em Espanha a exercer medicina.
Acontece muitas vezes os doentes oferecerem-lhes prendas como reconhecimento, o que os deixa orgulhosos do seu trabalho. No gabinete de Mercedes há um vaso de flores oferecido há poucos dias por uma utente. Há quem lhes leve produtos da horta. Há quem apenas lhes diga obrigado. Quando vão a Cuba levam vinho português para oferecer às pessoas mais próximas. Tirando a alimentação que é idêntica embora com formas diferentes de cozinhar e o bom tempo, o que mais agrada a estes médicos cubanos é o facto de Portugal ser um país seguro e tranquilo.

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