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“A nossa geração também se interessou pelo ambiente mas os problemas continuam”
fotos DR Alexandra Forte, Maria Rosário Casola, Nuno Carvalho e Susana Vieira

“A nossa geração também se interessou pelo ambiente mas os problemas continuam”

Professores incentivam entusiasmo dos jovens mas alguns não escondem o pessimismo. Os jovens estudantes são muito curiosos em relação às questões ambientais e na escola fazem imensas perguntas, para além de participarem activamente nas mais diversas iniciativas, projectos e aulas práticas. A atenção que os meios de comunicação social têm dado aos problemas da poluição e à necessidade de preservação da camada de ozono, a par do surgimento de movimentos como o da jovem activista ambiental Greta Thunberg, ajudam esse clima mas há quem não embandeire em arco e lembre que as anteriores gerações também já foram as novas gerações e que pouco mudou.

O famoso buraco na camada do ozono, escudo gasoso que protege a terra das radiações ultravioleta está a diminuir e de acordo com a comunidade científica uma cicatrização completa poderá acontecer antes de 2050 ou 2060 mas para tal é preciso terminar com a utilização dos gases poluentes e sensibilizar os mais novos para que não cometam os erros do passado.
Para perceber como se está a fazer essa sensibilização, O MIRANTE ouviu professores de Estudo do Meio e Ciências da Natureza desde o 1º ciclo do ensino básico até ao secundário.
Susana Vieira professora do 1º ciclo do ensino básico no Agrupamento de Escolas dos Templários, em Tomar, apercebe-se que as crianças se interessam cada vez mais pelos temas do ambiente.
“Fazem muitas perguntas, por exemplo, sobre as notícias dos incêndios e sabem dar valor ao ar que respiram”, afirma a professora, acrescentando que é também frequente denunciarem comportamentos errados que vêem em casa ou na rua.
“Uma das actividades que adoram é ir ao ecoponto separar e colocar o lixo. Estas crianças começam por criar hábitos em casa, pois é um divertimento para elas. Acredito que a solução para o problema da poluição pode estar nas novas gerações. Com a idade da minha filha mais nova, que tem 11 anos, nem sabia o que era reciclagem. Esta geração vai crescer mais consciente e cuidadora do planeta”, diz.
Nos primeiros anos de ensino é quando as crianças mais aprendem sobre o ambiente. É nessa altura que estudam o ciclo da água ou a preservação da camada de ozono. A professora tenta corresponder ao interesse dos seus alunos o melhor que consegue. “Não chega o manual, é necessário observar, experimentar e realizar experiências em aulas práticas”, sublinha.
Nuno Carvalho, professor do 2º ciclo de Matemática e Ciências da Natureza na EB de Azambuja não se entusiasma por aí além e fala com algum desencanto. “Nós também já fomos a nova geração e os problemas não se resolveram”, afirma o professor que defende que as coisas só mudam com uma decisão mundial e política.
“Começou-se a falar que o planeta está a aquecer e agora parece que se nota de facto isso. Os alunos notam que as estações do ano já não são o que eram e talvez a proximidade e os impactes dos problemas ambientais que estão a ser mais sentidos levem esta nova geração a adoptar outros comportamentos mas penso que a solução passará sempre por decisões políticas antes de passar por cada um deles”, remata.
Ligado ao ensino há duas décadas, Nuno Carvalho refere que o programa de Ciências da Natureza se tem mantido o mesmo há vários anos a nível de conteúdo, mas congratula-se com alterações importantes ao nível da organização. “Enquanto há uns anos se começava por estudar os animais, depois as plantas e só no final se abordava o tema do ambiente e dos recursos disponíveis na natureza, agora aborda-se a água, o solo e o ar logo no início do ano”.
O docente realça o facto de, no 5º e 6º ano se passar a ideia de que os recursos presentes na natureza são finitos e de que as nossas acções têm influência nos níveis de poluição. Também se abordam as causas e consequências da poluição e os comportamentos que se devem adoptar, como o uso de energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis.
“Na EB de Azambuja os alunos participam no projecto Eco Escola que lhes possibilita visitas a locais como a ValorSul - Sistema de tratamento de resíduos domésticos. São visitas que despertam nos alunos mais interesse e contribuem para reter melhor a informação”, refere.

Maior consciência dos problemas pode não gerar soluções
A necessidade de preservação da camada de ozono também é bem conhecida dos jovens estudantes de Física e Química do 3º ciclo, garante Maria Alexandra Forte, professora da disciplina há 22 anos no Agrupamento de Escolas Doutor Ginestal Machado, em Santarém.
No 7º, 8º e 9º anos os alunos aprofundam a importância da reciclagem e da preservação das matérias-primas, assim como a diferença entre energias renováveis e não renováveis e as respectivas consequências na sustentabilidade do planeta. A mensagem é passada em sala de aula, através dos manuais escolares, mas sobretudo em projectos no âmbito do desenvolvimento sustentável.
“Com estas idades os jovens já desenvolveram a consciência da importância da preservação do ambiente e de como é necessário garantir qualidade de vida às gerações futuras”, defende a docente.
Mais céptica é a sua colega Maria do Rosário Casola, que dá aulas no ensino secundário no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação. Professora há 30 anos, duvida que a solução para os problemas ambientais esteja na nova geração, embora aceite que esta está mais consciente porque sente na pele os efeitos da poluição. Essa consciencialização tem-se revelado de várias formas. As que têm tido maior visibilidade foram as manifestações de estudantes em defesa do ambiente, inspiradas pela jovem activista sueca Greta Thunberg.
No ensino secundário introduziu-se uma nova modalidade no método de ensino em sala que inclui a análise de textos científicos, a discussão dos mesmos e o debate. Aborda-se a poluição, as suas causas, consequências e soluções e a dicotomia entre crescimento demográfico e sustentabilidade.

“A nossa geração também se interessou pelo ambiente mas os problemas continuam”

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