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Tempo de férias prolongadas e muitas leituras

Escrevo entusiasmado com as leituras de férias exactamente quando só me apetece ser leitor de crónicas, romances e poesia.

Ando a viajar mas todos os dias escrevo para o jornal como quem tem um compromisso com uma grande paixão. E de verdade não me apaixono assim tão facilmente e já lá vai o tempo, há muito tempo, em que morria de amores dia sim dia sim. E nunca deixei de ir à praia ou ao cinema para ficar a escrever.
Escrever é um compromisso com a sociedade maior do que com os deuses. Os poetas, os romancistas e os ensaístas, que passam a vida depressivos, porque ninguém os lê ou lhes publica os livros, deviam fazer o percurso dos jornalistas antes de qualquer actividade literária. Assim aprenderiam os valores do trabalho colectivo, o gosto de escrever sem assinar, o prazer de reescrever o trabalho dos outros quando a matéria chega mais pobre do que era suposto. Aprenderiam sobretudo a fazer da escrita um prazer igual ao da leitura e nunca publicariam para serem conhecidos mas sim como quem aprende a arte de semear e colher para não morrer de fome no meio de uma qualquer Amazónia da terra e da vida.
Escrevo entusiasmado com as leituras de férias que incluem Manoel Carlos, Walmir Ayala, Ledo Ivo, Manuel Bandeira, Elisa Rodrigues, Rosa Montero, Baptista-Bastos e José Saramago, entre outros. Numa passagem pelo bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, comprei na livraria Argumento, uma das minhas preferidas, o último livro Vagantes da recém prémio Nobel, Olga Tokarczuk, que leio devagarinho, muito devagarinho, para saborear entre outras opções que me entusiasmam mais.
Já vi no cinema “Joker” e “Quem você julga que eu sou”, com dois actores dos poucos que sei o nome de cor: Juliette Binoche e Joaquin Phoenix; E vi “Bacurau”, um filme brasileiro ao jeito de Tarantino, que acho que não vai chegar aos cinemas portugueses e é pena.
Pelo caminho tenho deixado apontamentos escritos no vento e no sol; histórias de praia, de shopping, de taxista português anónimo a trabalhar nos cantos mais imprevisíveis do mundo, de gerente de hotel, mas também de livreiros e pequenos patifes.
Tenho contas para acertar com os leitores desta coluna mas, a exemplo do que sempre fiz neste ofício de operário da escrita, só escrevo quando me apetece e acho que ou estou muito azedo ou muito doce.
E vou confessar uma das minhas muitas fraquezas: quando ando a ler cronistas muito bons como Ruben Braga, ou escritores de viagens como Paul Theroux, só para dar dois exemplos, fico vidrado na qualidade da escrita deles e só me apetece ser leitor. JAE

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