Choque e indignação em Aveiras de Cima pela morte de idoso no posto da GNR
Eduardo Martins sentiu-se mal quando se encontrava sob detenção, por ter desrespeitado um sinal de trânsito e, supostamente, ter oferecido resistência. GNR abre inquérito interno e família pede justiça num caso que tem pontas soltas por explicar.
Foi com tristeza, mas também choque e indignação, que Aveiras de Cima reagiu à morte de Eduardo Martins, de 76 anos, no domingo, 12 de Janeiro, no posto da GNR de Aveiras de Cima, onde se encontrava detido. Morreu, ao que tudo indica, vítima de um ataque cardíaco, depois de ter sido transportado para o posto sob detenção de dois militares, por desrespeito a um sinal de trânsito.
Eduardo Martins estava algemado quando se sentiu mal e foi já na presença de familiares que perdeu a vida apesar de os meios de socorro terem sido accionados e efectuadas manobras de reanimação. Permanecem por explicar as manchas de lama na roupa do idoso, o seu estado de ansiedade à chegada dos familiares e o real motivo para a sua detenção.
Segundo o filho, Jorge Martins, é plausível admitir que Eduardo Martins possa não ter reagido da melhor forma à abordagem dos dois militares, mas também não descarta que possa ter havido “excesso de zelo” da parte destes. Eduardo Martins já tinha feito dois cateterismos cardíacos e, garante o filho, os militares foram alertados para essa situação quando o idoso se começou a sentir mal.
Alguns populares, amigos e conhecidos da vítima vão mais longe. No café que Eduardo Martins habitualmente frequentava comenta-se que os militares têm em parte culpa desta morte e que um deles, o que está há menos tempo no posto, é particularmente arrogante e pouco benevolente. “Se não fosse detido não teria morrido”, atira quem está ao balcão. “Não tinha um feitio fácil e o mais provável é que tenha oferecido alguma resistência, mas era um idoso... o que faria contra dois jovens?”, questiona.
Contactada por O MIRANTE a GNR, sem adiantar mais detalhes, responde apenas que “decorre um processo interno para averiguar as circunstâncias do sucedido”.
A sequência dos acontecimentos
Quando naquele domingo Eduardo Martins decidiu sair de casa para beber um café e pôr a conversa em dia com os amigos, como habitualmente fazia juntamente com a esposa, num café que não dista mais de 500 metros da sua residência, a esposa optou por ficar em casa. Perto das 19h00, Eduardo Martins pôs a motorizada a trabalhar, arrancou e não andou mais do que 50 metros no caminho de terra batida, até ser mandado parar por dois militares da GNR. O motivo? Desrespeito a um sinal Stop mesmo nas barbas da autoridade. “Foi o azar de quem estava no local errado à hora errada. Os amigos começaram a estranhar não ter aparecido no café”, conta o filho.
As vozes exaltadas, o barulho das portas do carro a bater chamaram a atenção de uma vizinha, a única testemunha, que relata que Eduardo Martins foi “atirado ao chão, posto a rebolar, algemado” e metido dentro do carro da patrulha. Já no posto da GNR de Aveiras de Cima Eduardo Martins ligou aos familiares e a esposa e a nora foram ao seu encontro. As algemas incomodavam-no e a ansiedade tomou-lhe conta do sistema nervoso. A família questionou o porquê de estar cheio de lama e pediu que lhe fossem retiradas as algemas porque se estava a sentir mal. Mas o pedido não foi inicialmente aceite.
O intervalo de tempo entre a detenção e a morte foi curto. Perto das 20h00 Eduardo perdeu os sentidos e nem a pronta resposta da equipa de socorro da Cruz Vermelha de Aveiras de Cima, que ainda tentou manobras de reanimação, conseguiu reverter a situação. O óbito foi declarado no local pelos médicos da Viatura Médica de Emergência e Reanimação de Vila Franca de Xira e o corpo seguiu para autópsia tendo sido libertado na quarta-feira, 15 de Janeiro, e enterrado no dia seguinte. “Esperamos que agora a justiça faça o que lhe compete”, conclui Jorge Martins, filho da vítima.