Os bailes com as meninas da Marmeleira, as sessões de cinema que enchiam a Casa do Povo e o pão duro que sabia a mel aos jovens atletas depois dos treinos foram algumas das memórias partilhadas durante a apresentação da autobiografia do treinador de atletismo Jorge Miguel, na sexta-feira, 31 de Janeiro, na Vila da Marmeleira, concelho de Rio Maior.
“De padeiro a treinador de campeãs do mundo” é o título da autobiografia do treinador que, a partir de Rio Maior, potenciou grandes talentos da marcha atlética nacional como Susana Feitor, Inês Henriques, Vera Santos e os irmãos João e Sérgio Vieira. A obra, com a chancela da editora O MIRANTE e que já vai na sua segunda edição, retrata na primeira pessoa o percurso de um homem que se considera um “zero à esquerda” em tarefas domésticas como cozinhar ou mudar uma lâmpada, que nunca teve pernas para ser um atleta de alto nível mas conseguiu concretizar o sonho de ser um treinador de topo.
“Podia dizer que me sentia realizado enquanto treinador destes atletas de alto nível porque estive já em 15 campeonatos do mundo e em seis Jogos Olímpicos, mas podem crer que quando entro nesta casa arrepio-me sempre”, admitiu o treinador, lembrando que foi naquele local que começou o percurso de 60 anos pelo atletismo e onde conheceu muita gente.
Numa cerimónia marcada pelas lágrimas e emoção e pela presença de vários familiares e amigos do treinador, o presidente da União de Freguesias de Marmeleira e Assentiz, Francisco Silvestre, destacou as qualidades de Jorge Miguel e lembrou os bons momentos passados nos treinos quando era atleta da Casa do Povo. “Nunca fui grande coisa para correr, mas pelo menos fazia pandã com os outros. Era muito engraçado porque íamos para os treinos na carrinha do pão do Jorge Miguel e depois, quando terminávamos as corridas, deliciávamo-nos sempre com o pão duro que ficava por ser distribuído”, revelou o autarca.
Também um dos primeiros atletas da Casa do Povo da Marmeleira, Joaquim Marcelino, realçou a faceta humana de Jorge Miguel e recordou uma das provas em que participou na Baixa da Banheira, em que se viu atrapalhado devido às várias subidas do percurso, mas que conseguiu terminar graças ao apoio do treinador.
A atleta olímpica e campeã do mundo dos 50km marcha, Inês Henriques, que não faltou à chamada, aproveitou para realçar que o treinador não preparava apenas os atletas, mas também formava jovens. No final também aproveitou para partilhar a altura em que Jorge Miguel, apesar de ser muito reservado, furou a segurança para a ir abraçar na meta depois de mais uma grande conquista.

O homem que fez nascer o atletismo em Rio Maior

Jorge Fernandes Miguel nasceu em 1948, em Bogas de Cima, concelho de Fundão, mas ainda em criança foi viver para a Vila da Marmeleira, concelho de Rio Maior. Trabalhou na agricultura, foi padeiro e distribuidor de rações. Muitos atletas consideram-no como um pai. Foi distinguido com o Prémio Personalidade do Ano 2015, na área do Desporto, atribuído por O MIRANTE. Especializado na área da marcha é um dos responsáveis pelo aparecimento da modalidade no Clube de Natação de Rio Maior. É também responsável pela criação do Grande Prémio Internacional de Rio Maior em Marcha Atlética.

Uma casa que deve muito a Jorge Miguel

Um dos mais orgulhosos da passagem de Jorge Miguel pela Casa do Povo da Marmeleira era o presidente da associação, Mário Santos. O dirigente, que neste momento conta apenas com a banda filarmónica, admitiu que sem o treinador nunca tinha havido a secção de atletismo. “Ele foi o verdadeiro impulsionador desta modalidade aqui na vila da Marmeleira e devemos muito a ele”, afirmou durante a apresentação da autobiografia.
O lançamento da primeira edição da autobiografia de Jorge Miguel decorreu a 5 de Junho de 2019 no auditório do Centro de Estágios de Rio Maior, que encheu para a sessão.